São José: a autoridade nasce da responsabilidade e a responsabilidade nasce da reverência

Edson Weslenn
Quo Primum
Published in
3 min readDec 22, 2019

“Não tenhais medo!”. Essa saudação é o padrão quando os anjos aparecem nas escrituras para os homens. Os mensageiros de Deus tentam aplacar nosso medo deles, por serem criaturas magníficas e cheias de poder. Mas quando o anjo aparece a São José sua saudação é diferente; oanjo tenta aplacar não o medo, mas a complexidade da tarefa que José, como filho de Davi, esposo da Virgem e pai de Jesus recebera. O anjo não diz “Não tenhais medo de mim”, e sim algo como “Não tenhais medo da sua responsabilidade”.

José não tem medo mundano, ansiedade entre os pares do que pode resultar em levar Maria para sua casa. Pelo contrário, ele tem o temor reverencial. Como Isaías que, quando se encontra diante do Senhor, percebe sua própria indignidade e grita: “Ai de mim, estou condenado! Porque eu sou homem de lábios impuros, vivendo entre um povo de lábios impuros, e meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!”. Também como São Pedro que, após pegar centenas de peixes, se ajoelha diante o Cristo e diz: “Afaste-se de mim, Senhor, pois sou pecador.”

Como homem devoto que sempre foi, José conhecia o sinal profetizado por Isaías: “Eis que a virgem estará grávida e dará à luz um filho, e o chamarão Emmanuel”. Agora, vendo Maria como virgem e mãe, ele está diante do cumprimento dessa profecia. Ele sente sua própria indignidade e o santo medo o vence. Como Isaías e Pedro antes dele, ele procura o perdão diante do milagre. O anjo vem impedí-lo de deixar que essa reverência o impeça de sua missão. Não tenhais medo. Não permita que o seu santo medo o afaste da sua vocação.

José nunca foi um homem fraco que procurou uma saída para a situação difícil; foi um homem justo impressionado com o milagre realizado em sua amada e consciente de sua própria indignidade.

Duas qualidades de Nossa Senhora criam esta reverência em José: virgindade e maternidade. Essas são duas coisas que nossa cultura detesta e agride, e não por acaso. A virgindade é vista como algo a ser conquistado, uma pedra no caminho a ser chutada. Em nenhum lugar de nossa cultura o vemos como algo a ser valorizado, preservado e dado puramente. Quanto à maternidade, só a valorizamos em nossos próprios termos. O que significa dizer que não o valorizamos. Rejeitamos quando inconveniente e exigimos quando queremos. Valorizamos o que isso pode nos trazer. Caso contrário, é algo a ser evitado pela contracepção ou aborto.

Já São José é o líder da Sagrada Família, exercendo autoridade sobre Jesus e Maria. A reverência — esse medo do Senhor e do que Deus faz— é a condição e o fundamento necessário para este cargo, o mais elevado dentre os homens mortais. Da mesma forma, Isaías não se torna profeta até que ele se veja indigno disso. Pedro, antes de ser elevado à liderança dos Doze, deve primeiro cair de joelhos em reverência.

São José nos dá um exemplo salutar do que um homem deve ser e fazer. Ele reverencia o que encontra em Maria. Ele não despreza sua pureza ou se ressente de sua maternidade. Na verdade, ele vê essas qualidades nela como algo promissor. Elas evocam o melhor dele. Nos espelhemos em São José hoje e sempre.

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