O tao da tutoria

Rafael Caputo
Rafael Caputo-Portfólio
5 min readOct 29, 2015

(Este artigo foi publicado como parte de um experimento com a intenção de produzir um e-portfólio educacional utilizando o Medium. Confira o resultado final da experiência.)

A disciplina de Tutoria e Docência Online, assim como a disciplina de fundamentos, também foi uma excelente oportunidade para reflexão. Primeiramente a partir do exercíco proposto pelo professor José Erigleidson de enumerar as características do professor virtual ideal:

Pensar as características do professor virtual excelente nos propõe uma reflexão sobre algumas características intrínsecas a toda relação de ensino-aprendizagem, entre elas a tensão fundamentalmente constante entre a excelência almejada e as inevitáveis e essenciais limitações. Quero dizer com isso que a educação sempre busca um ideal, ou seja, é sempre uma formação para algo mais, para um melhoramento, para uma transcendência através da busca pelo conhecimento, ou melhor, através do processo de aprendizagem. Entretanto, não somos como deuses ou tampouco como computadores que acumulam conhecimentos de forma instantânea, contínua e total. Experimentamos o conhecimento exclusivamente através de interrelações existenciais e significativas. Daí as limitações inevitáveis de toda sorte que balanceiam essas interrelações. O conhecimento se nos revela tão vasto e abstrato quanto o próprio ideal de onisciência, mas a existência individual é subjetiva e nos limita a uma perspectiva, a um ponto de vista, causando uma tensão existencial que vai sempre tentar se resolver e se realizar através do processo de aprendizagem. Esta tentativa constante de resolver a tensão entre o ideal abstrato de onisciência e a limitação contextual e subjetiva da existência pode ser entendida como a experiência da curiosidade. Só há vontade de conhecer mediante esta realização existencial da curiosidade.

Gostei da comparação do professor Eri com o Zen, justamente por isso, pois nesta busca existencial não há como o professor resolver as tensões intrínsecas aos alunos com um passe de mágica, como poderia fazer com um computador, simplesmente despejando mais dados e atualizando o sistema operacional. Há um caminho existencial que o aluno deve estar ciente e disposto a seguir por conta própria. Idealmente, talvez o professor pudesse ajudar o aluno a experimentar e compreender seu caminho existencial, a entrar em contato com as tensões e contradições que alimentam sua curiosidade e que possam aguçar nele o sentido dessa transcendência, a qual passa do desconhecimento ao desejo de conhecer, do desejo de conhecer à construção de significado, da construção de significado à reformulação da visão de mundo, da reformulação da visão de mundo de volta ao desconhecimento e ao desejo de conhecer novamente.

Neste sentido, estar atento ao aluno e saber reconhecer quando ele se depara com essas tensões que acompanham o processo de aprendizagem parece ser a característica mais desejável em qualquer professor, seja na modalidade virtual ou na presencial. Saber compreender também como o aluno busca a resolução dessas tensões também é importante. Para isso acho que o professor deve se valer de uma consciência processual maior do que o aluno e aqui entra a função metodológica do ensino: o professor deve ter bem claro de onde o aluno parte, até onde ele potencialmente pode chegar e que feeramentas ele pode utilizar para atingir este objetivo. A clareza em relação a estes pontos na educação à distância e a clareza na sua comunicação devem ser mais precisas do que na educação presencial, pois a educação à distância me parece mais propensa a sofrer interferências e ruídos próprios ao relacioanmento mediado. Penso isso por minha própria experiência nesta especialização, muitas vezes fico com uma sensação de falta de clareza a respeito dos objetivos de cada disciplina e uma sensação de falta de uma orientação mais contextualizada com meus próprios objetivos de aprendizagem e tenho certeza que isso se deve menos à capacidade dos professores e mais às cracterísticas próprias à tecnologia da informação que dispersam um pouco foco, gerando um pouco mais de confusão na contextualização das informações.

De todo modo, resta ainda a dificuldade: como aprofundar o relacionamento aluno-professor a um nível aceitável de compreensão existencial mútua sem comprometer a viabilidade técnica do curso, ou seja, como personalizar a experiência de orientação docente em um grupo considerável de pessoas? Mais uma vez aparece a tensão entre o ideal e as limitações inevitáveis de toda ordem. Talvez o desenvolvimento das tecnologias de contextualização através da análise massiva de dados possa contribuir para isso… Talvez a inteligência conectiva possa ser também uma resposta… A despeito disso, por que meio for, quanto mais o professor conseguir estreitar este gap entre a necessidade de relacionamento interpessoal e a limitação de suas próprias capacidades técnicas, mais próximo da excelência ele estará… Para resolver este dilema, ele deve usar de uma boa dose de intuição e criatividade.

Uma inspiração para estas reflexões:

Em um segundo momento de reflexão interessante eu consegui compreender o conceito de anel recursivo da inteligência coletiva e a sua função estratégica para um plano de tutoria virtual:

Nesse conceito dos operadores de inteligência coletiva eu aprecio particularmente a noção do anel recusrsivo entre inteligência coletiva potencial e cinética. O passivo transformado em ativo e o ativo tornando-se passivo para recomeçar o ciclo.

Esse modelo de pensamento da espiral cíclica me parece bastante adequado para entender este processode construção coletiva do conhecimento. Afinal de contas, partimos de um amontoado informe de diferentes potenciais e perspectivas que se chocam e iteragem em um único ambiente através da expressão constante da informação formulada enquanto tentativas de aprendizagem. Desse caos informe, por forças repelentes e congruentes as forças vão se organizando… as ideias começam a fazer mais sentido, as noções conceituais vão se afirmando. Há um cruzamento alquímico das informações, formando por comparações, aprofundamentos e questionamentos uma contextualização. Todo esse caldo informacional que gera contexto passa, no potencial trazido pelas visões de mundos, a gerar também significados e na emergência de novos significados acontece o aprendizado.

Não resta a menor dúvida de que um ambiente rico em informações proporcionado pela capacidade tecnológica — mas muito também pela horizontalidade das relações que permite que haja um livre fluxo de informações — funciona como um multiplicador para o processo de aprendizagem.

Nesse sentido, o tutor deve levar em conta essa experiência do anel recursivo da inteligência coletiva como um fator multiplicador do aprendizado. Levar isso em conta quer dizer entender que do contexto inicial trazido pelos alunos deve-se formar um contexto mais rico e complexo da coletividade, mas esse aprendizado emergente não pode se dispersar, ele deve ser trazido novamente à experiência e transformado mais uma vez em cinética. Dessa forma, o modelo da espriral cíclica entre o potencial e o cinético se bem observado e bem conduzido, pode tornar-se uma eficiente estratégia de aprendizado coletivo…

E ao final, houve o excelente trabalho colaborativo na confecção de um plano de tutoria para um curso de aperfeiçoamento de professores do ensino fundamental para o uso de ferramentas da web 2.0 em sala de aula. Na elaboração deste curso que pude entender a aplicabilidade prática dos operadores da inteligência coletiva estudados anteriormente.

(O mesmo documento pode ser melhor visualizado acessando este link: PLANO DE TUTORIA — O USO DE FERRAMENTAS DA WEB 2.0 PARA EDUCADORES)

Utilizamos a ferramenta Trello como uma espécie de AVA para o curso, elaborando um pequeno esboço de como ficaria a organização do ambiente virtual almejado. Este esboço pode ser acessado livremente no próprio Trello.

Todas as referências, links, vídeos e artigos que consegui coletar no material do curso e nos fóruns sobre tutoria e docência online encontram-se organizadas em um caderno de notas no Evernote, o qual pode ser acessado através deste link: Caderno de Notas “Tutoria e Docência Online”

 by the author.

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Rafael Caputo
Rafael Caputo-Portfólio

Filósofo edupunk, interessado na disseminação de aprendizagens autônomas com o auxílio da tecnologia.