Inicializando o Computador

Rafael Lariloran
Rafael Lariloran
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19 min readJan 19, 2021

Compreenda os principais termos utilizados para se referir ao processo de boot

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Você já se perguntou como funciona a inicialização do seu Sistema Operacional? Há muita confusão em relação a este tema, até mesmo para quem trabalha com TI há um bom tempo. São tantos termos utilizados para se referir ao que “dá vida” ao SO, e que muitas vezes os consideramos como sinônimos, porém são muitíssimos diferentes entre si. Buscarei esclarecer estes termos para que assim você consiga defini-los e, também, compreender o papel de cada um no carregamento do sistema. Há muitos conceitos envolvidos neste artigo, leia com calma. Se você fizer uma leitura rápida se sentirá sobrecarregado, entretanto se ir lendo aos poucos e pesquisando a validade das informações, será acrescido(e muito) no entendimento do processo de boot de um computador.

Introdução

Inicialmente precisamos definir o que é um Sistema Operacional, e de forma muito sucinta dizemos que um sistema operacional é um software(programa), “cuja função é fornecer aos programas do usuário[aplicativos como o Pacote Office, Adobe, Media Player, Games, etc]um modelo do computador melhor, mais simples e mais limpo, assim como lidar com o gerenciamento de todos os recursos mencionados[memória RAM, CPU, disco, etc].”(TANENBAUM, 2016, p. 19). Assim, o sistema operacional é um software que é executado(posto para funcionar) em cima de um hardware(parte física), fornecendo recursos aos programadores de aplicativos e gerenciando o complexo hardware. Resumindo, o SO irá facilitar a sua vida, seja você um programador de aplicativos ou um usuário que apenas utiliza o navegador para acessar a internet, porque você não terá que lidar com as complexidades de hardware(que são muitas!).

📌Você já ouviu falar da palavra “driver” ou “driver de disco”(Não confunda com drive)? Driver, — driver de disco, por exemplo — nada mais é que um software que lida diretamente com o hardware do computador, ou seja, ele cria uma interface(ponte) entre o sistema operacional e parte física permitindo que o SO consiga se comunicar e realizar a leitura e inscrição de dados. Pense em um pen drive, quando o inserimos na entrada USB esperamos vê-lo na aba “Meu Computador”, quando for no Windows, para que possamos acessar os arquivos nele contido e/ou transferir arquivos para o mesmo. Porém, se apenas plugarmos o pen drive sem possuirmos o driver específico para entrada USB, o SO não reconhecerá o seu dispositivo e você não terá a tal da “interface” para poder se comunicar com o sistema. Inviabilizando, assim, a troca de dados.

Sendo assim, a grande questão inicial que temos é: Se é o sistema operacional que lida com toda a complexidade do hardware, programas, e demais recursos pertinentes ao computador, quem é o responsável por colocá-lo em ação?

Principais conceitos

Quando um computador é ligado, a CPU é inicializada pelo hardware e configurada para inicializar a execução de um programa na memória. Contudo, o único código disponível está em uma forma não volátil de memória CMOS, que é inicializada pelo fabricante do computador(e algumas vezes atualizada pelo usuário em um processo chamado flashing). Visto que o software persiste na memória, e só é atualizado raramente, ele é chamado de firmware. O firmware é carregado nos PCs pelo fabricante da placa-mãe ou do próprio computador.(TANENBAUM, 2016, p. 638).

Preste muita atenção ao que Tanenbaum coloca neste parágrafo supracitado. Volte nele após ter concluído a leitura do artigo, e irá perceber que ele resumiu o funcionamento do processo de boot de um computador.

Agora, antes de explicarmos a inicialização do computador em si, precisamos definir os principais termos/conceitos que são utilizados para se referir ao boot do sistema. São termos chaves, e que muitas vezes confundem quem está iniciando na área(até mesmo os que já estão há um tempo).

1. BIOS

Foto do Chip de memória não volátil, onde o BIOS é gravado.
© Raimond Spekking / CC BY-SA 3.0 (via Wikimedia Commons)

O sistema operacional, para iniciar o seu gerenciamento e cumprir com suas funções, deve ser carregado na memória principal, mais conhecida como memória RAM(DEITEL; DEITEL; CHOFFNES, 2005, p. 45). Como isso acontece? Bom, em toda placa-mãe há um programa(firmware) chamado de BIOS(Basic Input Output System), que possui rotinas(sequências de tarefas), isto é, “atividades consideradas corriqueiras em um computador, mas que são de suma importância para o correto funcionamento de uma máquina.”(MARTINS, 2012). “O BIOS […] opera diretamente a partir da placa-mãe de computadores e foi criado para lidar com funções básicas dessas máquinas, tais como checar a integridade do hardware interno e dos periféricos e, em seguida, inicializar o sistema operacional.(MÜLLER, 2017). Mais pra frente(em outro artigo) falaremos do avanço tecnológico em relação ao BIOS, a UEFI.

No início o BIOS ficava gravado em um chip de memória ROM(memória de somente leitura, seu conteúdo não pode ser alterado), contudo nos sistemas modernos ele está contido em um chip de memória flash, isto é, uma memória do tipo EEPROM(Electrically-Erasable Programmable Read-Only Memory) que mantém as informações mesmo sem energia(não volátil), podendo ter seu conteúdo alterado via eletricidade, sem a necessidade de ser retirada do circuito para ser reprogramada. Permitindo, assim, a atualização do seu firmware(TANENBAUM, 2016, p.43). Essa “atualização do seu firmware”, diz respeito à atualização da versão do BIOS. Visto que as alterações de configuração, são salvas em outro chip chamado CMOS(veremos mais adiante). O porquê de tanta preocupação ao ato de “atualizar” o BIOS? Porque “ele é arriscado, pois uma vez iniciado, não pode ser interrompido de jeito nenhum (por exemplo, devido uma queda de energia). Do contrário, ele ‘morre’, inutilizando a placa-mãe por completo.”(GOGONI, 2019).

📌Lembrando que o termo firmware se refere a um tipo específico de programa que lida com o nível mais baixo do computador, o hardware. Também é conhecido como “sistema embarcado”. O firmware é gravado em um chip no momento de sua fabricação.

O que tem que ficar claro aqui é que sem o BIOS o hardware não irá “acordar”. Se o Hardware não acordar, não há como subir o sistema operacional. Visto que ele[o BIOS] é o primeiro software a ser executado quando se liga a máquina e que tem como função iniciar uma sequência de atividades que dará início ao boot do sistema(TANENBAUM, 2016, p.43).

Quando ligamos o computador, a CPU já é inicializada pelo hardware e configurada para inicializar a execução de um programa na memória, isto é, o BIOS. “O processador é programado para procurar e executar o BIOS sempre que o micro é ligado, processando-o da mesma forma que outro software qualquer. É por isso que a placa-mãe não funciona ‘sozinha’, você precisa ter instalado o processador e os pentes de memória para conseguir acessar o Setup.”(MORIMOTO, 2005).

2. Setup

S.I., CC BY-SA 3.0, via <https://id.wikipedia.org/w/index.php?curid=168779>

O setup, que está contido no BIOS, é uma interface gráfica que lhe permite interagir com as configurações disponíveis para o seu sistema. É bom entender, de forma clara, essa divisão. O setup está contido no BIOS(firmware). Ele é uma interface que te permite usufruir das funcionalidades do firmware BIOS, simples. Após fazer algumas alterações no BIOS, por meio do setup, estas[as informações alteradas] não ficarão salvas no chip de memória não volátil onde fica o BIOS. Essas alterações serão salvas em outro chip de memória volátil que muitas vezes é chamado CMOS.

3. CMOS

Cschirp, CC BY-SA 3.0 , via (Wikimedia Commons)

Precisamos ir com calma agora. Há muita bagunça neste ponto da discussão. Se você fizer uma rápida pesquisa na Web e/ou em livros que tratam do tema, irá perceber que alguns afirmam que num mesmo chip estão o BIOS e uma região de memória chamada “CMOS”. Outros irão afirmar que há dois chips: um que armazena o BIOS, e outro que contém o CMOS, localizado dentro do chipset ponte sul. E há ainda a afirmação de que o termo “CMOS” se refere a um processo para a fabricação de chips do tipo RAM(memória de acesso aleatório).

Como bem afirma o Mestre Reis(2019):

A sigla CMOS significa Complementary Metal-Oxide Semiconductor (Metal-óxido Semicondutor Complementar)e se refere a uma tecnologia de fabricação de dispositivos eletrônicos semicondutores, dos mais variados tipos, como circuitos lógicos digitais. Em um computador, trata-se de um circuito de memória volátil presente na placa-mãe de computador, a qual permite armazenar muitas informações importantes de configuração da máquina, como as configurações da BIOS, data e hora, ajustes de hardware do sistema, entre outras.

Ou seja, entendemos que o termo CMOS se refere a um processo de fabricação de dispositivos eletrônicos dos mais variáveis e que, no nosso contexto, se trata de um circuito de memória volátil. Assim, neste artigo, no momento que for utilizado o termo “CMOS”, estaremos nos referindo a um chip de memória volátil(você entenderá o porquê) que armazena as informações do Setup, isto é, do firmware BIOS. E para concluir este raciocínio, que fique claro que os termos BIOS e CMOS são distintos, mesmo que de alguma forma atuam para o mesmo propósito. Esclarecido este ponto, dizemos que o CMOS:

Serve para armazenar as configurações do setup. Como elas representam um pequeno volume de informações, ele [o CMOS] é bem pequeno em capacidade. Assim como a memória RAM principal, ele é volátil, de forma que as configurações são perdidas quando a alimentação elétrica é cortada. Por isso, toda placa-mãe inclui uma bateria, que mantém as configurações quando o micro é desligado.(MORIMOTO, 2005)

Como dito, a memória CMOS é volátil. Isso significa que quando for cortada a energia elétrica a mesma perderia os seus dados. Contudo, há uma bateria de lítio(foto abaixo) que mantém as configurações quando o computador é desligado.

Foto da bateria de lítio que abastece a memória CMOS.
© Raimond Spekking / CC BY-SA 3.0 (via Wikimedia Commons)

Mas o porquê de ser volátil? Simples, para que seus dados possam ser apagados(“resetados”) e termos a possibilidade de retornar aos padrões de fábrica. Essa “ideia de usar memória volátil para guardar as configurações é justamente permitir que você possa zerar as configurações do Setup (removendo a bateria, ou mudando a posição do jumper) em casos onde o micro deixar de inicializar por causa de alguma configuração incorreta.”(MORIMOTO, 2005).

4. Resumindo…

Então a CPU, antes de qualquer outra coisa, é inicializada pelo hardware e configurada para inicializar a execução de um programa chamado BIOS, que está gravado numa memória não volátil. Para fazermos alterações nesse programa precisamos acessá-lo através de uma interface gráfica chamada Setup. Assim, as alterações que fizermos no BIOS não serão salvas nele mesmo. Elas serão salvas em outra memória volátil chamada CMOS, que é alimentada por uma bateria de lítio. Fique atento a esses termos. Muitas vezes no dia a dia da TI, nos referimos ao BIOS, tanto como Setup quanto propriamente o BIOS. “Altere a ordem de boot no Setup”, “Dá uma olhada lá na BIOS.”, “Viu se está habilitada a opção de segundo monitor na BIOS?”, etc. Raramente usamos o termo “CMOS”, porém deve ficar claro que, tecnicamente falando, não alteramos o BIOS em si. Como vimos, as alterações de configuração que realizamos estão armazenadas no CMOS que pode ser “resetado” a qualquer momento. O correto seria dizer: “Resetei as configurações do CMOS.”, e não “Resetei as configurações do BIOS.”.

Mas afinal, como se dá o processo de boot?

Amila Ruwan / CC BY-SA 4.0 (via Wikimedia Commons)

Bom, agora já estamos munidos com os principais conceitos que envolvem a inicialização do computador. Nossa tarefa agora é entender como tudo isso se relaciona, até que o sistema esteja totalmente up.

Do momento em que você liga o seu computador até o instante em que o sistema operacional carrega, muita coisa ocorre. Nesses preciosos segundos, uma série de processos — que juntos são chamados de boot — trabalham como engrenagens para inicializar a máquina e fazê-la funcionar a todo vapor. Antes de tudo, os componentes obviamente necessários para fazer a “mágica” acontecer são os cabos, a fonte (no caso de um notebook, quem cumpre essa função é a bateria), a eletricidade e a correta disposição das peças de hardware. Se você já abriu seu gabinete, provavelmente percebeu que a placa-mãe possui um pequeno LED que indica a energia em standby. Quando o botão de ligar é pressionado, a fonte leva eletricidade para a placa-mãe, que em seguida ativa o processador e o cooler.(KARAS, 2011)

Agora que o processador e o cooler estão ativos, um programa pode ser executado: o BIOS. É ele quem passa as primeiras ordens para o processador, além de verificar quais itens estão instalados no computador.(KARAS, 2011). Vamos estabelecer uma ordem de execução de tarefas do funcionamento do BIOS e sua interação com o restante do hardware.

1. Varredura de hardware(POST)

Beno1000 / CC BY-SA 3.0 (via Wikimedia Commons)

Com o BIOS em execução, o mesmo irá iniciar uma “varredura” no sistema, para verificar todos os componentes de hardware conectados ao computador.

Primeiro ele confere para ver quanta RAM está instalada e se o teclado e os outros dispositivos básicos estão instalados e respondendo corretamente. Ele segue varrendo os barramentos PCIe e PCI para detectar todos os dispositivos ligados a ele. Se os dispositivos presentes forem diferentes de quando o sistema foi inicializado pela última vez, os novos dispositivos são configurados.(TANENBAUM, 2016, p. 43)

Como Tanenbaum coloca, se os dispositivos forem diferentes de quando o sistema fora inicializado pela última vez, o que tiver de novo será configurado. Contudo, fica a pergunta: como ele sabe o que havia na última inicialização do sistema? Porque ele[o BIOS] acessa a memória CMOS, que guardou as informações alteradas no Setup.

Esse processo de verificação de hardware é conhecido como POST(Power-On Self Test).

Usuários que já se aventuraram a mexer com os componentes do PC devem se lembrar do apito(beep) que a placa-mãe emite quando esquecemos de colocar alguma peça, como memória e processador, aviso emitido pelo POST (Power On-Seft Test) quando detecta alguma irregularidade, verificando se todos os componentes estão funcionando corretamente antes de iniciar as rotinas necessárias para carregar o sistema operacional.(CANALTECH)

Isso mesmo, BEEPs. Quando algum componente está faltando ou há determinado problema, o usuário é informado através de beeps(apitos) ou mensagens de erro na tela. A Comunidade Hardware preparou um texto detalhando o que significa cada beep emitido pelo POST, você pode conferir clicando aqui. Esses beeps são muito importantes porque lhe ajudarão a identificar muitos problemas que a olho nu você não descobriria.

2. Escolhendo o Dispositivo de Inicialização

Image by tookapic from Pixabay

Após a verificação do hardware, o BIOS buscará alguma fonte para inicializar o sistema operacional(KARAS, 2011). Essa parte “consiste na procura de alguma fonte para inicializar o sistema operacional. Tal fonte é configurável e pode ser um disco rígido (padrão), CD-ROM, pendrive, disquete, entre outros.”(KARAS, 2011). Assim, O BIOS determina o dispositivo de inicialização do sistema tentando uma lista de dispositivos armazenados na memória CMOS. O usuário pode mudar essa lista entrando em um programa de configuração do BIOS(Setup) logo após a inicialização. Tipicamente, é feita uma tentativa para inicializar a partir de uma unidade de CD-ROM (ou às vezes USB), se houver uma. Se isso não der certo, o sistema inicializa a partir do disco rígido. (TANENBAUM, 2016, p. 43).

3. Setor de Inicialização

Imagem de um disco rígido
Imagem de Michael Schwarzenberger por Pixabay

Lembrando que tudo o que está acontecendo até agora, está sendo gerenciado pelo BIOS: o único software em execução. A partir do momento em que o dispositivo de inicialização foi escolhido, inicia-se a leitura do setor zero(boot sector)do dispositivo de inicialização que nada mais é que “uma região de um disco rígido, disquete, disco ótico ou outro dispositivo de armazenamento de dados que contém código de máquina [Programa] a ser carregado na memória de acesso aleatório (RAM) pelo firmware [BIOS] embutido de um sistema de computador.”(WIKIPEDIA, 2018). Ou seja, é uma região no disco rígido, por exemplo, que contém um código de máquina que será carregado na nossa memória principal, a RAM. Devemos entender que “Outros dispositivos de boot (CDs, disquetes etc.) têm a capacidade de emular esse setor.”(KARAS, 2011). Tanenbaum nos diz que esse setor:

Contém um programa[MBR] que normalmente examina a tabela de partições no final do setor de inicialização para determinar qual partição está ativa. Então um carregador de inicialização[Bootloader] secundário é lido daquela partição. Esse carregador lê o sistema operacional da partição ativa e, então, o inicia.(TANENBAUM, 2016, p. 43)

Após “ler” esse setor, o BIOS irá encontrar esse “código de máquina”, que é conhecido como MBR ou Registro Mestre de Partição. Esse programa “verifica qual partição do disco rígido(HD) está ativa (configurada como Master) e inicializa o “setor um” dela — essa área tem um código com a simples missão de carregar o setor dois[gerenciador de inicialização].”(KARAS, 2011). Segundo Sztoltz, Teixeira e Ribeiro(2003) as duas principais funções do MBR são:

  • Localizar a partição ativa e carregar o primeiro setor desta partição, que contém um pequeno programa com informações sobre o sistema operacional que está nesta partição. Ele simplesmente irá carregar os componentes básicos do sistema, ou irá carregar um gerenciador de inicialização[bootloader] que seja mais poderoso e poderá finalizar o trabalho;
  • Carregar informações diretamente de uma das partições e utilizá-las para carregar sistemas operacionais de qualquer partição.

A opção que mais se utiliza é a segunda, devido ao fato de ser mais abrangente. Assim, o MBR é utilizado para carregar o bootloader, mais conhecido como gerenciador de inicialização.(SZTOLTZ; TEIXEIRA; RIBEIRO, 2003).

4. Gerenciador de Inicialização(bootloader)

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Após o MBR verificar qual partição está ativa, “um carregador de inicialização secundário é lido daquela partição. Esse carregador lê o sistema
operacional da partição ativa e, então, o inicia.”(TANENBAUM, 2016, p. 43). A principal função de um bootloader é “gerenciar as várias partições do disco rígido, permitindo que o usuário possa escolher entre as opções disponíveis.”(SZTOLTZ; TEIXEIRA; RIBEIRO, 2003). É interessante notar que “independente de qual seja o sistema operacional, o computador precisa realizar uma série de tarefas para que você possa utilizá-lo. Isso inclui o carregamento de arquivos de sistema, configurações e recuperação de arquivos salvos na memória de armazenamento. Sem o bootloader, o seu sistema operacional simplesmente não seria carregado no computador.”(HAMANN, 2012). Deve ficar claro que o local onde está instalado o bootloader é em um “setor conhecido como Master Boot Record — que também é conhecido como Trilha Zero do HD.”(HAMANN, 2012), como citado anteriormente. O MBR carrega esse bootloader para que gerencie o carregamento do sistema operacional. Em outro artigo tratarei da forma como esses arquivos de inicialização são dispostos no disco rígido. É um tema muito interessante, visto que há, atualmente, duas grandes estruturas conhecidas para a disposição dos dados dentro do disco: MBR e GPT. Contudo, não é o tema deste artigo. Segundo Karas(2011), a partir do bootloader:

[…] é inicializado o núcleo (kernel). Assim como o BIOS estabelece a ligação entre hardware e sistema, o kernel serve para firmar uma comunicação estável entre hardware e software. Nessa fase, é ele quem assume o controle do computador.

Como colocado por Tanenbaum anteriormente, o bootloader lerá o sistema operacional da partição que estiver ativa e então o iniciará.(TANENBAUM, 2016, p. 43). Exemplos de bootloaders:

Windows: NTLDR, presente na família Windows NT, 2000, XP e Server 2003. O bootloader NTLDR foi substituído atualmente por três executáveis: bootmgr, winload e winresume.(MICROSOFT, 2019).

Linux: os mais conhecidos são o LILO e GRUB.

Mac OS X: BootX.

Não entrarei em detalhes na especificação de cada um, pois isto demandaria um conteúdo extremamente exaustivo(talvez na próxima). Contudo, espero que fique claro que cada bootloader funciona de uma maneira específica, carregando arquivos específicos na memória principal até o que Kernel seja executado. Há toda uma sequência de arquivos de configuração que deve ser obedecida para o correto carregamento do núcleo do sistema. Por isso indico fortemente um artigo do Clube Hardware, onde é tratado sobre quais os arquivos que estão envolvidos nesse quesito bootloader-kernel. Você pode conferir clicando aqui.

O papel do Kernel

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Podemos dizer que até aqui aconteceu toda a parte “burocrática” do processo de boot, até possuirmos o sistema(núcleo) propriamente dito. É bom notar que estamos “subindo”, isto é, partimos de um nível baixo do computador e estamos nos aproximando, cada vez mais, a uma camada mais alta, que é onde geralmente lidamos no dia a dia.

“A palavra ‘kernel’ em inglês significa grão (uma semente revestida por uma casca dura) e é seguindo essa analogia que ele existe dentro do sistema operacional e controla todas as principais funções do hardware, seja ele um smartphone, um laptop, um servidor ou qualquer outro tipo de computador.”(REDHAT, c2021)

O sistema operacional pode operar em dois modos:

Em modo núcleo (também chamado modo supervisor). Nesse modo ele tem acesso completo a todo o hardware e pode executar qualquer instrução que a máquina for capaz de executar. O resto do software opera em modo
usuário, no qual apenas um subconjunto das instruções da máquina está disponível
. (TANENBAUM, 2016, p. 20)

Quando o bootloader carrega o Kernel, ele está carregando nada mais nada menos que o próprio sistema operacional, isto é, está entrando em ação o modo núcleo. O SO que lidamos diariamente é um conjunto desse núcleo, que possui as principais funcionalidades e estas protegidas dos usuários, e do modo usuário que disponibiliza algumas funcionalidades mais simples que é o que geralmente temos acesso. Como nos diz Tanenbaum(2016, p. 21):

O programa de interface com o usuário, shell ou GUI(Graphical User Interface), é o nível mais inferior de software de modo usuário, e permite que ele inicie outros programas, como um navegador web, leitor de e-mail, ou reprodutor de música. Esses programas, também, utilizam bastante o sistema operacional.

Isso tudo para dizer que você, enquanto usuário, interage com apenas algumas funcionalidades do sistema. Até mesmo o Shell e a GUI são considerados como a parte mais “inferior” do modo usuário. Tanto a GUI, quanto o Shell são interfaces que te permitem se comunicar com o sistema, porém quando algum software necessita de acesso a alguma parte específica do hardware(lembrando que é protegida pelo modo núcleo) ele deve utilizar uma system call(chamada de sistema). Quem lida com as complexidades do SO é o Kernel, ele é a ponte que viabiliza um diálogo entre o hardware e software. O que você vê(navegadores web e arquivos) é chamado de espaço do usuário(REDHAT, c2021). Se quiser entender em mais detalhes confira este artigo no site da Red Hat, clicando aqui. Assim, o Kernel terá quatro principais funções:

  1. Gerenciamento de Memória: ele monitora o volume de memória utilizado para armazenar o que (arquivos, dados etc.) e onde (ambiente).
  2. Gerenciamento de Processos: ele determina quais processos podem usar a unidade central de processamento (CPU), quando e por quanto tempo.
  3. Drivers de Dispositivos: ele atua como intermediário/intérprete entre o hardware e os processos.
  4. Chamadas do sistema e segurança: ele recebe solicitações dos processos para a execução de serviços.

Portanto, quando o Kernel assume o controle:

consulta então o BIOS para conseguir as informações de configuração. Para cada dispositivo, ele confere para ver se possui o driver do dispositivo. Se não possuir, pede para o usuário inserir um CD-ROM contendo o driver (fornecido pelo fabricante do dispositivo) ou para baixá-lo da internet. Assim que todos os drivers dos dispositivos estiverem disponíveis, o sistema operacional os carrega no núcleo. Então ele inicializa suas tabelas, cria os processos de segundo plano necessários e inicia um programa de identificação
(login) ou uma interface gráfica GUI.(TANENBAUM, 2016, p. 43)

Nesse momento, como nos disse Tanenbaum, você receberá a famosa tela de login(seja numa GUI ou num Shell), e poderá acessar o sistema operacional e usufruir de suas funcionalidades.

Conclusão

Buscamos tratar de uma forma mais geral possível, abrangendo o que acontece nos principais sistemas operacionais. Pode haver algumas diferenças em se tratando de um SO para outro. Contudo, a essência é a mesma. Em um artigo posterior pretendo abordar o que temos como a evolução do BIOS, a UEFI. É um tema de extrema importância, pois irá analisar o que temos de mais novo no setor de tecnologia. O BIOS ainda está presente no nosso dia a dia, devido ao fato que muitas máquinas ainda são obsoletas em relação ao que temos no mercado atual. Busque fixar todos os conceitos expostos, e vá além. Há muitos vídeos na plataforma do Youtube de técnicos, ou não-técnicos, que buscam realizar um troubleshooting de BIOS e o que concerne ao mesmo, vale a pena dar um conferida porque neles você irá aprender a configurar o BIOS através do Setup, irá identificar problemas mais comuns de Hardware, etc. Enfatizo que este artigo não é um fim em si mesmo, mas apenas uma breve conceituação do tema em questão. Utilize as referências bibliográficas para avançar na sua pesquisa do tema. Um grande abraço, e até a próxima! ;)

Referências Bibliográficas

TANENBAUM, Andrew S. & BOS, Herbert. Sistemas Operacionais Modernos. 4. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016. 778 p.

DEITEL, H. M. & DEITEL, P. J. & CHOFFNES, D. R. Sistemas Operacionais. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 760 p.

MARTINS, Elaine. O que é BIOS? Tecmundo, 2012. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/o-que-e/244-o-que-e-bios-.htm . Acesso em: 12 jan. 2021.

KARAS, Eduardo. Como funciona o boot de um computador. Tecmundo, 2011. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/aumentar-desempenho/11266-como-funciona-o-boot-de-um-computador.htm#:~:text=A%20etapa%20seguinte%20consiste%20na,Master%20Boot%20Record)%20do%20HD. Acesso em: 12 jan. 2021.

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