Independência em Preto e Branco

Raissa Oliveira
Raissa Azevedo
Published in
2 min readSep 7, 2019
Monte Santo — Bahia — Nordeste

Fortaleza, 07 de setembro de 2019. 249 dias de governo Bolsonaro. Dia da Independência do Brasil. Acordei com o barulho dos desfiles, marchas, tambores e sirenes, mas não senti orgulho nenhum.

Lembrei que nessa semana assisti dois filmes, Bacurau e Pacarrete. Duas produções não apenas brasileiras, mas nordestinas. Lembrei que estou acompanhando de perto o esforço de uma amiga para conseguir dinheiro para produzir o filme dela, com uma equipe técnica quase toda feminina. Lembrei também que há poucas semanas, em uma live, o presidente vetou — ou, por que não, censurou — uma série cearense sobre pessoas transgêneros.

Lembro disso tudo e me vem um misto de sentimentos. Primeiro tem a raiva, raiva por esse desmonte que estamos vivendo, por ataques diários que antes vinham de pessoas ordinárias e pouco valiam, mas agora vêm diretamente da força do Estado. Depois, passado a primeira camada, só então me vem o orgulho. Não o orgulho por esse nacionalismo exagerado e as loucuras que o procedem, mas sim por saber que minhas raízes ainda estão resistindo. O nordeste segue resistindo.

Olho para Bacurau e Pacarrete, dois filmes quase antagônicos nas suas tramas, mas que lado a lado são sinônimos da mesma coisa, do ser nordestino. A força que vem embutida na nossa existência é passada de maneiras diferentes pelos dois filmes. Um passa pela resiliência e delicadeza da Dona Pacarrete, já o outro pela brutalidade e pela resistência do povo de Bacurau. São dois lados do mesmo nordeste.

Enquanto de um lado vejo as atrocidades declaradas por um ignorante, de outro lado vejo o conhecimento conquistando seu espaço. A arte segue prestando seu papel, continua sendo reação. Continuemos então sendo arte.

--

--

Raissa Oliveira
Raissa Azevedo

Feminista. Apaixonada pelo universo, por músicas e por doces. Acredita que (quase) tudo pode ser relativo. Escrevendo para aliviar e alimentar a alma.