Faixa a faixa do álbum “Eu gosto de garotas” da Larinhx.

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5 min readJun 15, 2021

O álbum “ EU GOSTO DE GAROTAS” da Larinhx é um dos álbuns mais relevantes lançados esse ano e nós listamos os motivos:

1- Um álbum inteiro produzido por uma mina é um feito bastante raro na cena e a Larinhx cumpriu seu objetivo com méritos, apresentando um trabalho bem coeso, variado nas suas influências musicais e de qualidade indiscutível.

2- Larinhx reúne 13 artistas mulheres incríveis do Rio de Janeiro apresentando um recorte bem atual da vivência feminina, com temas de pautas sociais importantes como a aceitação do corpo trans, a auto estima da mulher gorda e preta, a liberdade sexual feminina, entre outras, trazendo sua bandeira desde o título do álbum.

3- Com influências de Trap, Funk e R&B, conseguiu criar uma identidade musical única e reuniu nomes consagrados como Deize Tigrona e Ebony, junto de revelações da cena como SHURY e Slain Rúbia.

4- Larinhx não só produz todo álbum, mas também canta lindamente uma faixa, mostrando que é uma artista completa, musicista e compositora.

5- O álbum consolida a força e a potência do Rap Feminino na Baixada Fluminense, fortalecendo e amplificando o “baixada girls storm” que tá rolando no Rap carioca.

Por esses motivos, e por apresentar um trabalho de qualidade, produzido de forma independente e impulsionando a cena feminina, o álbum EGDG é considerado um lançamento de enorme representatividade para o Rap Nacional, saindo do lugar-comum e mostrando firmeza desde o conceito à sua concepção.

Faixa a faixa de “EU GOSTO DE GAROTAS”:

  • Garotas Amam Mc Rebecca (Slain)

Uma declaração de amor ao amor feminino, com referências clássicas às mulheres do Rap/Funk como Mari J. Blidge, Ciara e Tati Quebra Barraco.

“Essa noite eu sonhei que te apresentava como minha namorada”, assim bem solta, vem Slain, ótima nessa faixa, cantando a liberdade do amor entre mulheres e a admiração das minas pela Mc Rebecca.

O instrumental é uma delícia, bem gostoso e dançante, e o refrão gruda na mente: “Desliza e joga/ Joga bem na minha cara”. Um hit pras pistas de Rap.

  • Camisa 10 (Ebony e Ikinya)

Essa track é hino pras mulheres independentes, retratando bem a vivência da mulher carioca: a sagacidade das ruas, a correria pra fazer virar grana, mas sem perder a sensualidade jamais.

Os vocais estão maravilhosos, o flow das minas impecável, uma das melhores faixas do álbum, com a Ebony se mostrando mais uma vez uma das grandes da cena.

“Eu tô na Nova Holanda, e sou de Irajá” é aquele refrão que vai tocar em todos os bailes Funk do Rio. Arrepiou na voz da Ikinya.

Beatzão da Larinhx, com quebras alternando pro Funk, as flautinhas em referência ao funk carioca das antigas e hit hats bem característicos do Trap.

  • Palhaçada (Slipmami)

Refrão chiclete e bem dirty, a Slipmami traz toda liberdade sexual feminina numa letra explícita e com influências do discurso das minas do Funk, falando abertamente sobre sexo e tabus. “Aqui não tem mais criança/ Olha a cara da danada/ Se você quer me comer, brota logo na Baixada.”

  • Toca DJ (Deize Tigrona)

Uma das principais referências do Funk feminino, Deize Tigrona explora novas possibilidades nesse som, que traz referências ao charme-funk que lembram as clássicas montagens da Pipo’s nos anos 90. Uma letra feminista de duplo sentido, “Toca DJ, toca e continua me olhando”, consagram a presença marcante da braba do Funk underground carioca nesse álbum.

  • Trem Barbie (Mc Lizzie)

Trapzão de cria, a Mc Lizzie fala das “Trem Barbie”, as minas quentes com vivência tipo GTA, uma realidade na dicotomia de “violência urbana ostensiva x paraíso natural” que é a cidade do Rio de Janeiro: “A unha mata igual bala, rasga a cara desses féla”.

Beat e flow combinaram muito, inclusive no refrão que tem uma colagem de voz maneira no instrumental.

  • Sequência de Toma (SHURY)

Esse som já começa com uma montagem remetendo aos bailes de facção no Rio de Janeiro. SHURY quebrando muito no flow, com influências no Drill e no Grimme, destrava a glockada nas palavras sem atravessar um milímetro.

“Senta do meu lado e aprende uma coisa/Normaliza se eu falar de garota/ Vim da favela, então sou de raça/ Vc não tá ligado, não é pouca coisa.”

Refraozão pesado e beat com uns timbres diferenciados que lembram música afro-brasileira. Uma das minhas favoritas.

  • Preta Gorda (DAMATTA)

Uma música sobre autoestima da mulher preta, gorda e favelada, que se valoriza e acredita no potencial do seu trabalho. O beat traz umas influências de Chill’in, com gravação no baixo bem marcado, que dá um swing muito gostoso pra esse instrumental (“mano, Larinhx!”). Uma música necessária sobre uma mulher periférica que viaja o mundo e é vitoriosa nos seus sonhos.

  • Néon (Ciana)

“Mente vazia oficina do som”, assim Ciana começa essa música, com melodia, flow e voz incríveis. O beat tem uma pegada meio Miami Bass e R&B, uma mistura que caiu muito bem, lembrando a sonoridade dos anos 80.

No meio da faixa tem uma quebra de beat, de flow, de temática e até de idioma, com a Ciana cantando em inglês (lindamente, lembrou as divas do R&B americano), o que dá a sensação de duas tracks em uma. Um trampo bem artístico e conceitual. Faixa foda.

  • Flores (Amanda Sarmento)

Um R&B gostoso, com inspirações explicitas em “Esperar o Sol” da Flora Matos em vários versos, como “Sou uma mulher que sonha/ tenho visão mais ampla (…) a estrada me chama”. Amanda faz um refrão bem experimental em cima desse beat clássico, numa música bem intimista.

Hidromassagem (Larinhx)

Nessa faixa Larinhx entrega tudo, não só assinando a produção, como também assumindo os vocais com louvor.

“Disse que gostava de mulheres loucas — sempre foi assim” já entrou pra galeria de versos nas redes socias das minas. Uma faixa instigante e completa, tanto na produção musical quanto nas melódicas e no flow.

  • As Mina Preta (Valen)

“Vocês tem medo de buceta e de mulher que tem pau”, assim bem direta Valen já vem no refrão esmagando a cara dos transfóbicos de plantão, numa música que é um hino pela aceitação de corpos trans, de corpos pretos, de corpos periféricos. O beat dialoga com referências de reggaeton e brega-funk numa pegada instrumental que lembra alguns ótimos trabalhos da Pablo Vittar.

Valen vem quebrando tudo no flow e falando verdades mais que necessárias nessa track que fecha o álbum.

O álbum “EU GOSTO DE GAROTAS” é um marco super positivo para o Rap Nacional e merece ser exaltado pela qualidade e competência na realização.

Parabéns Larinhx monstra, Mango Lab e todas as envolvidas.

Sim, Larinhx, nós gostamos de garotas!

>>> Ouça o álbum completo:

Ouçam mulheres. Incentivem mulheres. Apoiem mulheres. Cis e trans.

Por Taz Mureb #RapDiMina

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