Sobre Rap Feminino e invisibilização.

Taz Mureb
Portal Rap Di Mina
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3 min readNov 19, 2018

Certamente vive-se hoje a época de maior produção feminina na história do país. No entanto esse reflexo não está estampado nas matérias, nas notícias, nas propagandas e, consequentemente, nem no alcance do público em geral.

No ano de 2018 já contabilizamos mais de 100 lançamentos femininos independentes, números que há 5 anos atrás eram bastante difíceis de alcançar.

Artistas como Karol Conka, Cíntia Luz, Drika Barbosa estão ganhando cada vez mais espaço, inclusive nas grandes mídias de massa, e por este motivo as mídias especializadas deveriam ter um maior comprometimento com a pesquisa e divulgação da produção feminina no país.

Afinal são estes sites especializados que fomentam o mercado interno do Rap e alavancam os artistas para outros tipos de mídia. Mídia especializada é o mecanismo de busca de todo veículo de grande porte quando desejam abordar assuntos específicos aos quais seus jornalistas não dominam.

Existem vários casos recentes e merecidos de artistas do Rap ganhando destaque em veículos importantes como O Globo, Folha de São Paulo, entre outros, graças ao trabalho incessante dos sites especializados em Rap em “hypar” determinados artistas.

Essa preocupação não é desenvolvida na mesma intensidade para com o Rap Feminino, o que acaba invisibilizando o trabalho de várias mulheres, excelentes rimadoras e que não ficam devendo em nada aos homens nesse quesito.

As mulheres estão no mesmo nível de flow, métrica e temática que os homens. As minas estão lançando clipes e produções de qualidade. É necessário um olhar mais carinhosos tanto do público quanto das mídias que são responsáveis por moldar esse olhar.

Recentemente o site RND fez uma pesquisa temática e nenhuma mulher apareceu no Top 5 de nenhuma categoria.

É preciso sim que as mídias trabalhem no intuito de corrigir esta distorção. Sabe-se que as mídias funcionam de acordo com os assuntos que atraem mais visualizações, mas isto não pode impedir ou negligenciar o fato de que as mídias especializadas de Rap tem também uma função social para com o movimento, além das funções de registro histórico e bibliografia recorrente de todo material produzido nesses anos de ouro que estão levando o Rap ao mainstream.

As mulheres são tão construtoras dessa história quanto os homens e merecemos ter nosso espaço reconhecido, exaltado e recompensado.

Mc’s como Azzy, Na Brisa e Maria, que fazem parte de projetos de canais segmentados, conseguem ser impulsionadas pelos canais, mas esse impulsionamento acaba sendo restrito muitas vezes à contatos, indicações, entre outros fatores, que não abrangem a diversidade da produção feminina nacional atual.

Bem como os reacts, que não priorizam os trampos femininos. E também a maioria dos Mc’s, que continuam chamando homens para feats, mas raramente chamam mulheres, ou sempre chamam as mesmas. Muitas vezes por falta de interesse em ouvir ou pesquisar, ou até mesmo desvalorizar o trabalho das mulheres considerando inferior.

Existem centenas de mulheres Mc’s em atividade no Brasil. Não é um grupo restrito de meia dúzia. Em todos os Estados do país existe participação feminina hoje.

Enquanto não houver um comprometimento real de Mc’s, produtores, jornalistas, youtubers e outros profissionais no ramo, no intuito de serem realmente justos e preocupados com o desenvolvimento coletivo do Rap Feminino, é óbvio que vai haver uma polarização e uma tensão entre as partes.

Ser resistência faz parte do processo de formação do caráter de qualquer Mc e por isso resistimos. Não adianta a cena fingir que abraça o feminismo por ser um tema recorrente. Tem que existir na prática e nas ações cotidianas.

E essa é a nossa luta diária.

Editorial #RapDiMina

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Taz Mureb
Portal Rap Di Mina

Mc e criadora do RapDiMina. Coordenadora da Associação da Cultura Hip Hop RJ e pioneira das Rodas Culturais. Editora-chefe do Portal RapDiMina. Jornalista RapRJ