Sobre o que eu nem sei que sou

Daniel Ferro
Razões e Descuidos
2 min readAug 26, 2019

Hoje de manhã a caminho do trabalho Raul me fez questionar: de onde vem a minha [velha] opinião formada sobre tudo?

Será que eu realmente preciso ter uma opinião formada sobre tudo?

O que essa opinião me diz sobre o outro?
O que essa opinião me diz sobre o mundo?
E, sobretudo, o que essa opinião me diz sobre mim mesmo?

Quais são as minhas certezas?
E o que será que eu perco quando me apego a elas?

Quanto será que eu deixo de ouvir do outro?
Quanto será que eu deixo de aprender e de perceber o mundo quando estou fixado nas minhas próprias convicções?

Será que não é importante, vez ou outra, organizar essas certezas e tentar deixar um espaço em mim para que algo novo possa ganhar forma?

Nesse nosso mundo que muda tanto, que muda o tempo todo e numa velocidade tão inacreditável, será que dá para se segurar em alguma certeza?

Na letra de Metamorfose Ambulante o próprio Raul nos lembra com inúmeros exemplos do nosso estado natural de impermanência, de oscilação, de alternância:

Se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

Penso que talvez deixar esse espaço desocupado em nós seja importante para exercermos a nossa inconstância, para permitir a nossa metamorfose.

Talvez esse seja o movimento da vida em nós.

A nossa certeza é o nosso casulo e ela nos protege em alguma medida, mas também nos restringe, nos aprisiona e nos apequena em nós mesmos.

Sigo tentando manter apenas as minhas certezas mínimas sobre mim, sobre o mundo, sobre tudo.

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei que sou.

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