TribalTech: O fim e o (re)começo

Rodrigo Gomes
rcgomes
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11 min readOct 11, 2017

Há 11 anos decidi sair sozinho da pequena cidade de Barra Velha (SC) e fotografar a edição de 2º aniversário da Tribaltech, realizada em agosto de 2006. Peguei um ônibus com destino a Curitiba e me encontrei com algumas pessoas que me deram carona até a festa realizada em Tijucas do Sul.

TribalTech 2006

Sou testemunha dos tempos em que as festas ainda começavam de noite e terminavam depois do meio dia; tempos em que existia um palco apenas e o full-on não dividia espaço com nenhuma outra vertente; tempos em que, por não existir outras pistas, você olhava para trás e só enxergava aquele “mar” de gente, todos reunidos em um único lugar, sem camarotes, backstages, tempos em que a música vinha em primeiro lugar.

TribalTech 2007
TribalTech 2008

Durante esses anos todos pude acompanhar o crescimento da TT junto com a cena nacional, assisti apresentações históricas como: Talamasca, Hujaboy, Krome Angels, Boris Brejcha, Anthony Rother, Dimitri Nakov e Audio Jack, B. Negão e os Seletores, Copacabana Club, Criolo, Catz N Dogz, Marc Romboy, Green Velvet, Italoboyz, Shadow FX, Céu, Liquid Soul x Perfect Stranger entre muitos outros.

Presenciei a criação de pistas dedicadas ao low bpm; ouvi fullon, progressivo, minimal, techno; li no Orkut os protestos contra a mudança para festival e fui contra esses protestos; dancei no frio, na chuva e no calor; fiz amigos, beijei, abracei, ri, andei de Evolution e encontrei uma “família”. Senti no bolso quando os valores das bebidas e dos ingressos triplicaram, mas entendi que sem esse aumento muitas coisas não aconteceriam e percebi que o “boom” da música eletrônica trouxe melhorias, mas também trouxe prejuízos para festas como a Tribaltech.

TribalTech 2009
TribalTech 2010
TribalTech 2011

No último sábado a Tribaltech encerrou sua trilogia, que teve inicio em 2014 com a edição Reborn, nesta edição intitulada de Escape a TT saiu das fazendas e foi parar em um complexo industrial, de aproximadamente 49 mil m², abandonado há 15 anos no meio da capital paranaense. Além da mudança para o novo local que combina muito mais com a proposta que a festa decidiu assumir nos últimos anos, pude notar também uma renovação no público e no som. As plaquinhas que antes tomavam conta do mainfloor foram substituídas pelas roupas pretas e chapéus, já o trance, definitivamente, deixou de ser a principal vertente da festa e foi direcionado para uma pista mais afastada e “alternativa”.

TribalTech 2014

Eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo são sempre vírgulas, aspas, reticências. (Caio Fernando Abreu)

TribalTech 2014

O techno e suas vertentes são a bola da vez na Tribaltech, foram no mínimo três palcos dedicados a artistas como Nastia, Marc Houle, D-Nox, Eli Iwasa, Victor Ruiz entre outros. Por outro lado a organização resolveu manter a proposta multicultural — iniciada há oito anos — e trouxe novamente o Organic Beat com destaque para artistas como Criolo, Bixiga 70, Nave e o trio Sandrão, Tio Fresh e Sombra.

TribalTech 2017

Em 2009 a organização percebeu que uma mudança precisava ser feita para melhorar a cena local, foi bombardeada por centenas de pessoas que diziam que a TT era Trance, que uma mistura de estilos não seria bem aceita e mesmo com esses “protestos” meteu a cara e criou os espaços Organic Beat e extinto Cinetech. Hoje essa ideia de trazer algo fora dos kicks eletrônicos já é mais aceita pelo público e uma prova disso foi enorme público que esteve à frente de Criolo, Dandan e Cia.

Fora das pistas e dos palcos um detalhe que vale a pena ressaltar foi a cenografia existente em toda a área do festival, em cada canto tinha algo acontecendo, seja um grafite, uma escultura ou uma intervenção artística.

TribalTech 2017

Já dentro das pistas, como dito anteriormente o Techno foi o som principal. Uma das que mais me surpreenderam– apesar de ter ficado pouco tempo — foi a Timetech que trouxe figurinhas novas para o público como Francesco Del Garda, Ion Ludwig, Margaret Dygas, além da musa Nastia e mostrou que o público aceitou muito bem esses novos nomes, porém fica a dúvida: Essa aceitação se deu pelo nome que a Tribaltech tem ou realmente estamos vendo um público mais aberto para novas experiências?

“O TribalTech é um festival de grande importância para o Sul. Além de ser totalmente brasileiro e independente, proporciona ao público novas experiências com sua incrível atmosfera e sonoridade da atualidade” (DJ Aninha)

O coração da TribalTech foi o stage que leva o nome do festival, por lá passaram nomes consagrados na cena brasileira como D-Nox, Renato Ratier, Victor Ruiz, Bodzin, porém, um dos lives mais comentados foi o do inédito duo americano Octave One, projeto dos “irmãos Lenny e Lawrence Burden, que fizeram parte da cena de Detroit dos anos 90 e se tornaram grandes ícones do movimento que se lá originou. Ao contrário da maioria das performances ao vivo de hoje, as apresentações do Octave One são compostos inteiramente por hardware”.

Mas e o trance?

Assim como eu, muitos outros entraram neste mundo eletrônico graças ao psytrance e também a Tribaltech, porém atualmente e infelizmente os olhos e ouvidos da TT estão voltados ao Techno. Este ano não tivemos tenda e nem pés na grama ou lama, o local destinado ao palco foi um dos galpões do complexo. Dentro dele o VJ Picles com suas projeções e junto com as linhas flúor da Dac Art decorações tornavam o local um pouco mais psicodélico.

TribalTech 2017

A curadoria do palco ficou responsável pela organização da Progressive, festa que assumiu também boa parte da responsabilidade de manter o trance vivo em Curitiba, com suas edições mensais realizadas no Park Art e também com seus festivais como Adhana realizado final do ano passado e Progressive Festival que será realizado no próximo mês em Santa Catarina.

Destaque neste stage para o paulista Fabio Leal, que tocou algumas tracks do último lançamento da Iboga, o álbum Hologram, Dickster, Element (que teve uma concorrência braba com o Criolo) e Altruism.

TT2018 já começou!

Confesso que estou curioso para saber quais serão os próximos passos do núcleo, o novo lugar é incrivelmente fantástico e irá possibilitar inúmeras opções. Acredito que o techno continuará sendo a vertente principal e torço muito para que palcos como o Organic Beat e o TimeTech permaneçam.

Curitiba precisa de um festival de porte como os internacionais realizados em São Paulo, porém podemos ter o orgulho de dizer que é um festival nosso.

Confira abaixo alguns clicks feitos por mim e pelo fotógrafo Marlon Mendes.

Fotos: Marlon Mendes

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Rodrigo Gomes
rcgomes

Fotógrafo, esquerdista e apaixonado pela cultura eletrônica. Insta: instagram.com/rc_gomes