05 dicas de Produto “Defensive Mode” na Pandemia

Laisa Carvalho
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6 min readJun 22, 2020

O maravilhoso mundo de produtos em meio a pandemia.

(Crédito: Sorbetto/ iStock)

Os últimos meses tem trazido muitas angústias, lapidações do senso humano, novos olhares, formatos de trabalho “full remote” que na prática representam mais horas de trabalho e readaptações familiares, mas também trouxe muitos aprendizados sobre formas de construir e manter produtos digitais saudáveis.

O meu histórico profissional me rendeu algumas experiências interessantes do ponto de vista de Produto. Nas últimas 03 empresas em que trabalhei, lidei com fusões, aquisições, migrações de grandes Stack’s para novas tecnologias, aumento e diminuição do CAC (Custo de Aquisição de Cliente). E também alguns paradigmas sobre assumir (ou não) riscos de grandes migrações para garantir escala e inovação.

Na maior parte das vezes são escolhas difíceis e desafiadoras que tiram todos os envolvidos da zona de conforto. Costumeiramente são decisões atribuídas a engenharia e/ou liderança dela, devido ao fato de estarem mais próximas do campo técnico.

O “pulo do gato” está na percepção de um Product Manager (ou PM) sobre todas as camadas do seu produto, para minimamente, medir o quanto estas tecnologias antigas atrapalham (ou não) a velocidade da evolução, os ciclos contínuos de lançamento de MVP’s para validação de hipóteses ou até mesmo inviabilizam o crescimento saudável de uma Scale-UP (empresas que crescem rápido por um longo período de tempo e de forma escalonada).

E aí Tinky Winky? O que o PM faz então?

Tinky Winky pensativo

01- Entenda o cenário técnico do seu produto

O PM costuma ser visto como uma figura orientada às dores do usuário (e está corretíssimo) e capaz de traduzir os objetivos da empresa em ações, alinhado aos propósitos e metas do time, quebrando em oportunidades por quarter (ou não) e orquestrando as entregas à nível de quebra destas oportunidades em pequenas ações, medindo resultados, remanejando as velas, planejando lançamentos, analisando números, etc… Até aí tudo bem.

Mas o ponto de “atrito” mais comum normalmente está na camada de planejamento e execução. Aí é que se encontram os atrasos e imprevistos.

Se a empresa é uma Scale UP em fase de Growth é importante que o PM saiba quais tecnologias são usadas nos seus produtos, quão escaláveis estão e se suportariam as próximas iniciativas do Roadmap.
Não estou dizendo que o PM precisa ser uma pessoa da Engenharia, mas conhecer arquiteturas e principais tecnologias sempre ajuda no mapeamento e diminuição de riscos.

02- Mapeie as dores, inclusive as técnicas

Atire a primeira pedra o PM que nunca foi surpreendido por uma esteira de sustentação insustentável!

Eu sempre acreditei que sustentação é algo perene que nunca vai acabar, pois quando um time trabalha muito sempre existem questões de código para rever e algumas refatorações para fazer. A questão é o quão saudável está essa esteira para equilibrar as ações que levam o produto pro futuro que desejamos.

Se a sustentação do produto leva mais tempo do que as inovações, ao ponto de desequilibrar esta balança, então temos um problema para resolver.

Por isso começar mapeando as dores, entendendo as tecnologias do seu produto, observando a volumetria de tickets de bugs/lentidões versus dificuldades de uso, funcionalidades inexistentes ou tarefas manuais é uma abordagem que diminui as mudanças de rota motivadas por sustentação e tecnologias obsoletas. E lembre-se do benchmark pra não perder a visão nem o timing.

Dá para migrar tecnologias enquanto ser constrói novas soluções? Dá (aliás… depende hahaha), mas os riscos diminuem quando você conhece a stack e planeja adequadamente.

03- Não perca a visão do seu produto

Como escreveu sabiamente a minha colega de trabalho Martina Scherrer neste artigo de organização do tempo (recomendadíssima leitura):

Discovery

Essencialmente (e de forma bem resumida), estamos em nossa posição para garantir que o produto evolua na direção certa. E product discovery é tudo sobre isso.

Sabendo disso, parte do processo de Discovery está também no entendimento técnico do seu produto para saber correlacionar adequadamente os:

Objetivos da empresa x Visão do Produto

Oportunidades x Hipóteses de Solução

Considerar esforços técnicos ajuda muito numa priorização realista e os riscos de mudanças não mapeadas pelo caminho caem.

Um deslize muito comum (cometi também) é passar muito tempo nas questões técnicas e perder a visão do produto. Para minimizar, mantenha sua árvore de oportunidades (Opportunity Three) alinhados e atualizados na medida em que avançar no conhecimento técnico. Sem descartar o trampo básico de um PM, que é falar com clientes, analisar dados, entender tickets e falar com CS’s/Analistas de suporte/IS’s/Vendas... Etc.

04- Saia do “quadrado” da squad e converse com muita gente

Na minha opinião um dos maiores desafios de um PM é a comunicação e alinhamento com todas as partes envolvidas no “ecossistema” de um negócio.

São interesses diferentes, visões diferentes e partes diferentes de um todo. É natural que cada um tenha um ponto de vista sobre a montanha que já escalou.

No entendimento técnico não seria diferente. Sabemos da necessidade de falar com muita gente, mapear as partes, alinhar com UX e interagir com diversas áreas.

O ponto aqui é entender a importância de envolver pessoas de Engenharia no entendimento das profundezas das camadas do Produto. E considerá-los nos planos sem perder o foco.

Grande parte das vezes alterações de produto tem impacto relevante em outras partes da solução. Quanto maior a empresa, maior a complexidade.

Produtos são soluções feitas de pessoas e para pessoas, compostas de back-end + regras de negócio + Front-end funcionando a serviço dos objetivos do negócio, que por sua vez fazem parte de um ecossistema.

Por isso não faz sentido dissociar as partes entre si e dar soluções individuais . (à exemplo da história da fábrica de software em cascata…).

05- Considere priorizar ações que mantenham o seu produto saudável e escalável

Em tempos de pandemia, grande parte das empresas adotaram posturas táticas como:

Offensive Mode — Iniciativas de inovação alinhadas ao mercado

Defensive Mode — Iniciativas que mantenham os produtos existentes saudáveis

Quis falar do “defensive mode”, pois é lá que estão os desafios de manter produtos e a base de clientes que já estão “na casa”. Ninguém quer perder clientes, seja em tempos de pandemia, seja fora dele.

Preservar caixa se tornou ação indispensável aos negócios conforme pesquisa abaixo:

Pesquisa realizada por PEGN, Resultados Digitais e Endeavor com PMEs brasileiras

Grande parte dos PME’s (ou seja, Pequenos e Médios Negócios) alegam que a preservação do caixa é a segunda necessidade mais relevante neste momento.

Pesquisa realizada por PEGN, Resultados Digitais e Endeavor com PMEs brasileiras

Também fazem parte do defensive mode as oportunidades de melhoria dos controles internos e das plataformas. Aprofundar conhecimento dos cenários de uso existentes… Aqueles mesmo! Que talvez não olharíamos se estivéssemos na zona de conforto (fora de uma crise ou pandemia).

Costumo dizer que toda e qualquer entrega que impacte o cliente de forma positiva, seja mantendo um produto estável, garantindo escala para que o cliente cresça junto com seu produto, melhorando a usabilidade ou lançando funcionalidades novas são todos entregas de valor.

Jack Moore da Product Coalition também fala a respeito de como PMs lidam com débitos técnicos neste link, onde diz que a melhor maneira é amarrar a demanda no impacto mensurável ao usuário:

How to tackle technical debt

The best way to handle technical debt is to tie it to measurable user impact. The best measures for this are ones that users feel directly, like page load times or the frequency of user-reported bugs.

Produtos que resolvem dores reais, escalam adequadamente e que não geram impactos negativos de instabilidade são os que nós “produteiros” gostamos.

Bora trampar?!

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Laisa Carvalho
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Product Manager living UK — I like Rock’n Roll, cheese, wine, bad jokes and change my world builting products of people for people;