As características de times que alcançam goals em meio ao caos.

Leonardo Lazarini
Ship It!
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4 min readJan 17, 2022

Uma das coisas mais incríveis que pude presenciar neste tour de liderança de engenharia em uma scale up como a RDStation, foi a capacidade dos times entregarem goals em meio ao turbilhão de coisas que acontecem no dia a dia deste foguete.

Muito inspirado pelo taoísmo, Jordan Peterson costuma dizer em livros e palestras que o potencial humano é utilizado em sua máxima potência quando nos encontramos exatamente na linha que divide a ordem e o caos. Ver isso acontecer na prática foi muito inspirador.

Mas o que é este caos? Temos a manutenção de uma operação que lida com dados na casa dos bilhões por dia, um fluxo insano de atualizações no produto, um mercado de tecnologia superaquecido em meio a uma pandemia mundial. Tivemos o anúncio da aquisição pela TOTVS, fizemos uma remodelagem organizacional no time de produto baseado em um estudo de DDD, priorizamos uma iniciativa de redesign em todo produto, e muito mais…

No meio desse caos encontramos nossa ordem. Os times receberam drivers e tiveram que se organizar para entregar o máximo de valor possível. Tive a alegria de fazer parte de alguns times que tiveram muito sucesso, estes times apresentaram algumas características que potencializam as entregas:

1 — Disagree and Commit

Com tantas mudanças, mesmo com uma comunicação super clara e estruturada é impossível convencer todo mundo. E segue o jogo! Mais importante que concordar é se comprometer, abraçar a missão e fazer acontecer.

Acho que o papel mais importante do líder aqui é ouvir. Ouvir sem julgar. Cada pessoa tem sua história de vida e suas motivações para pensar o que pensa e sentir o que sente. É possível encontrar nessas motivações pessoais alguma alavanca que tenha alinhamento com o desafio em questão, e é a partir daí que ajudamos a transformar discordância em comprometimento.

2 — Visão clara do valor a ser entregue

Se a empresa tem uma cultura forte, contrata bem, desenvolve talentos e times de alta performance, com certeza você está trabalhando com pessoas com expectativas altíssimas de causar impacto na empresa, no produto, na tecnologia. É super importante ter isso em mente no momento da tomada de decisão sobre prioridades.

Se não estiver claro como cristal qual é o valor que aquele time está entregando, vai ser muito difícil o engajamento com uma goal. Isso porque provavelmente existem outras centenas de coisas que o time poderia e até gostaria de estar fazendo.

3 — Priorizar o valor / renegociar as goals

Não adianta tentar escrever as goals em pedra. Simplesmente não funciona. Priorização de produto é sempre algo orgânico, que se bem feita gera aprendizados rápidos e ciclos curtos de entrega. Tendo isso, é muito normal algum ajuste de rota no meio do caminho.

Em meio a um quarter o time entrega uma feature e descobre que um ajuste nessa feature vai gerar muito valor para o cliente. Mas nas goals temos a entrega de uma outra feature. E agora?

Muito bem! Se os dados comprovaram que a entrega de valor é maior no primeiro caso, não tenha nenhum receio, vamos negociar as goals! Isso vai gerar muito engajamento do time, todos vão enxergar coerência na decisão e o melhor, fica claro que não trabalhamos para as goals, elas são incentivos, trabalhamos para gerar valor!

É claro que mudar completamente e recorrentemente os objetivos do time não vai ser positivo, as consequências disso são a desconfiança que o time vai ter no momento de planejar e o engajamento não vai acontecer. Então atenção ao planejamento inicial, mas mente aberta para mudanças em prol do valor.

4 — Preocupação com a qualidade

A discussão entre tempo x qualidade é eterna e eu já vi ela acontecer de várias formas, processos, políticas. O que funcionou melhor foi deixar a decisão com o time. Nesse sentido, vejo o líder com a responsabilidade de garantir que conversas sobre qualidade aconteçam sempre e da maneira mais fluida possível.

Não à toa temos no culture code da RDStation os valores de Excellence e Lean. E é respirando estes valores que estas conversas geralmente acontecem. Então se em meio a uma entrega o time entender que precisa realizar uma refatoração, vamos fazer! Se um designer durante um teste de usabilidade percebe que precisamos ajustar um fluxo para uma melhor experiência, vamos fazer. Se em um exercício de pre-mortem o time entender que a solução não vai ser resiliente como o esperado, vamos fazer.

5 — Autonomia e autogestão

Nenhuma das características acima vão aparecer nos times se as pessoas não tiverem autonomia para tomada de decisão e a capacidade de se auto gerenciar. Se algum líder tiver como preocupação central controlar e ditar as regras de tudo o que está acontecendo, não vai conseguir criar o ambiente para que os times prosperem.

Claro que está muito ligado a cultura da empresa e como as pessoas a vivenciam, mas na minha experiência os times de alta performance recebem desafios e os entregam por que são capazes de se organizar e fazer boas escolhas para chegar lá.

Muitas vezes é mais efetivo para o líder não atrapalhar. Estar junto, ajudar, remover barreiras, garantir comunicação clara e fluida e dar pista para o time voar. Em meio ao caos e a ordem, presencie a incrível força do potencial humano em sua máxima performance!

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Leonardo Lazarini
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Especialista em Desenvolvimento Humano para Gestores, 18 anos trabalhando com TI. Há 8 anos decidi ser um gestor foda e isso vem iluminando meu caminho.