Como a experiência em um venture capital me ajuda nas decisões de produto

Camila Ferreira
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A experiência como Product Manager tem sido uma descoberta e tanto, e não há um momento em que eu esteja analisando um produto sem aquele viés de empreendedor, querendo entender além das funcionalidades que estão na interface, mas sim todo o contexto que fez o produto evoluir até aquele ponto.

Antes de iniciar na Monashees Capital, eu tive uma passagem em uma das empresas da Rocket Internet, a Tricae, em business intelligence e, em seguida, na área de marketing de performance. A oportunidade na Monashees surgiu quase um ano depois, não diretamente na área de investimentos, mas para iniciar uma nova frente que nenhum outro Venture Capital tinha desenvolvido aqui no Brasil: a área de Comunidade, ou como outros VCs do vale intitulam, área de Plataforma.

Foram quase dois anos trabalhando em um Venture Capital e confesso que foi uma experiência única: eu estava sentindo na pele como era sentar do outro lado da mesa, pois saí da operação de uma startup e fui vestir o chapéu de investidor. Tive muitos aprendizados, e os de maior valor, sem dúvida, foram todas as histórias, experiências e percepções de empreendedores e líderes das empresas com as quais tive contato.

Respirar diariamente essa paixão e ambição me fez refletir sobre minha carreira, e querer voltar a trabalhar novamente em um start-up.

Faz seis meses que estou como Product Manager, e hoje sou responsável pela ferramenta de Email Marketing do RD Station. Meu desafio aqui é entregar aos usuários a melhor experiência na criação de campanhas. Apesar de ter sido um curto período, acredito que valha a pena compartilhar com vocês meus aprendizados e, principalmente, como a passagem pela Monashees norteia minhas decisões quanto à direção que eu estou dando ao produto aqui na Resultados Digitais.

Como a comunidade de empreendedores me ajudou

Na Monashees, meu papel era criar o senso de comunidade entre o portfólio de empresas investidas, fomentando a troca de experiências e aprendizados. Eu estruturava essa comunidade em verticais definidas por áreas de conhecimento como tecnologia, produto, marketing, finanças, pessoas, entre outras.

Uma das principais iniciativas para incentivar essa comunidade eram os eventos. Com isso, eu tive a oportunidade de conhecer líderes excepcionais, dos mais diferentes perfis e com experiências únicas. Esse é um tipo de conhecimento que não tem preço e que nenhuma escola do mundo pode proporcionar.

Tive contato com mais de 30 empresas de diferentes modelos de negócios, em diversos níveis de maturidade, o que me trouxe uma visão ampla e rica sobre a dinâmica de cada área de conhecimento da empresa, em diferentes níveis de maturidade.

Com isso, sinto que desenvolvi uma sensibilidade para agir em diversos contextos e isso me ajuda muito na Resultados Digitais: o Product Manager está na linha de frente de forma a interagir com diferentes áreas da empresa e deve estar pronto para esclarecer dúvidas de clientes e membros do time, compartilhar sua visão para o produto e tirar dúvidas técnicas e de melhores práticas da temática na qual você está inserido em Produto — no meu caso, Email Marketing.

Não se trata apenas de definir funcionalidades para o roadmap

Estudar diferentes modelos de negócio, analisar startups em diferentes contextos e avaliar seu potencial de mercado, seu time e seu produto em si faziam parte da rotina diária no fundo de investimentos. Meu papel, em especial, era olhar para o portfólio e traçar uma estratégia para promover a troca de conhecimento entre os empreendedores. Tinham situações que eu precisava olhar para o mercado e trazer esse conhecimento para dentro do portfólio, e em vários casos, fazer benchmarking com alguma empresa do Vale do Silício: como são os processos de desenvolvimento de produto do Slack, como o Facebook escala times de tecnologia, como funciona a área de data analytics do Twitter, são alguns exemplos para ilustrar como eram esses benchmarks.

Como Product Manager, é essencial fazer esse exercício de estudo do mercado. Diariamente eu exploro outras ferramentas, desde Plataformas de Automação de Marketing a soluções verticais — no meu caso, ferramentas de disparo e criação de campanhas de email.

Mas a minha análise vai além de olhar para quais funcionalidades determinado concorrente tem ou não. Eu analiso todo o contexto desse player, tanto no mercado americano, quanto seu posicionamento no Brasil. Exercício esse fundamental para construir um roadmap de produto: pois não se trata de fazer uma lista de funcionalidades que seria incrível implementar, mas sim, entender o posicionamento do seu negócio, como você aumenta a adoção e retenção do seu produto, como você entrega mais valor para o seu cliente e, claro, como você vai fechar mais vendas a partir dos diferenciais que você está construindo na sua plataforma.

Qual o momento de cada empresa?

Vou citar um cenário muito curioso sobre uma plataforma que utilizamos muito aqui na Resultados Digitais para comunicação interna, o Slack — a ideia aqui é ilustrar o mindset durante o processo de benchmarking, no qual é importante levar em consideração quanto de investimento a empresa recebeu, qual seu momento e disponibilidade de recursos que irão refletir no produto.

O Slack despontou um crescimento surreal, saindo de 15 mil para 500 mil daily active users em fevereiro de 2015, em um período de um ano. Mas poucos sabem que o time iniciou suas operações em 2009 com uma empresa de jogos chamada Glitch, pivotando o modelo de negócios em 2012. Segundo o CrunchBase, o Slack já levantou quase U$40M em 9 rodadas de investimentos. Tá, mas o que isso significa?

Bem, podemos inferir algumas coisas quanto à última rodada de investimentos feita pela empresa e o seu momento: a empresa está na fase de encontrar o product market fit (early stage), está ganhando tração e crescendo sua base de clientes (série A), está em fase de escalar o business (série B e C) ou já está mais consolidada e se preparando para um cenário de saída — IPO ou M&A — nos próximos anos (série D, E…). No caso, o Slack recebeu aportes consideráveis que alavancaram a empresa, propiciando um crescimento fenomenal da sua base de usuários em um pequeno espaço de tempo. Assim, podemos inferir que a empresa dispõe de recursos para contratar pessoas chaves para desenvolver o negócio, investir tanto em tecnologia quanto em um plano de expansão para entrar em outros mercados.

E é esse tipo de mindset que eu trago para a minha rotina de Product Manager: durante um exercício de benchmarking, eu avalio a empresa sobre diferentes espectros e tento criar cenários diversos, sob um olhar de negócios, tecnologia e investidor.

Ser concierge

Eu trago aqui não um processo ou ferramenta que eu utilizava na Monashees, mas sim um dos dos valores mais fortes que desenvolvi: ser concierge dos empreendedores. Nosso papel era ajudá-los a terem sucesso, tirando qualquer impedimento que estivesse travando o crescimento e escalabilidade do seu negócio — no meu caso, trazer conhecimento ou fomentar a troca de experiência entre a comunidade.

Aqui na Resultados Digitais, apesar de estar em um contexto diferente, na essência este é um dos valores que mais prezo: como eu devo evoluir o produto de forma que eu consiga ajudar meus clientes a terem sucesso?

Trata-se de um exercício diário de empatia: eu converso semanalmente com clientes para entender suas dores e anseios, interajo diariamente com pessoas de diferentes áreas, participo de eventos nos quais tenho contato com clientes potenciais e, dessa forma, consigo desenvolver cada vez mais tração e sensibilidade para guiar o produto.

Viva experiências que te tragam a diversidade

Hoje entendo que não há regras rígidas para desenvolver e nortear o produto, mas há alguns pontos que são comuns entre a trajetória e bagagem de um Product Manager: muitos dos bons perfis que eu conheci tiveram experiências profissionais e pessoais muito ricas — no âmbito de terem diferentes backgrounds e passagens por diferentes segmentos de mercado.

Um dia ouvi de um Product Manager bem experiente do Vale do Silício: “um ótimo perfil para um Product Manager é de um empreendedor que falhou”- e faz todo sentido, uma vez que um empreendedor, de certa forma, traz uma bagagem sobre a operação da empresa e uma visão de negócio que nenhuma escola vai te proporcionar.

Os ensinamentos que eu trago da minha passagem por um Venture Capital foram uma oportunidade incrível e isso me trouxe uma visão muito ampla e rica do mercado, do negócio de SAAS em si, e uma grande sensibilidade ao analisar um produto e todo o seu contexto: como a empresa chegou naquele patamar, quais decisões de negócio nortearam o seu posicionamento e para qual mercado aquela solução está endereçada.

Se alguém estiver se questionando sobre como evoluir como Product Manager ou até mesmo se aventurar na área de produto, meu conselho seria: envolva-se em experiências diferentes nas quais você possa errar muito. Errar faz parte do seu crescimento não apenas como profissional, mas como pessoa. E o mais importante, busque oportunidade que te tragam visões diferentes.

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Camila Ferreira
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Partner and Marketing Instructor at Business Training Company and Psychotherapist