De Customer Success para Produto: algumas dicas para quem quer fazer essa transição.

Alexandre Beirith
Ship It!
Published in
8 min readJun 25, 2020
Xícara de café branca com a palavra "Begin" escrita nela.
Photo by Danielle MacInnes on Unsplash

“Não sou da área de tecnologia”, “minha formação é em humanas”, “Preciso saber programar?”. Essas são algumas das frases e objeções que ouço quando o assunto é carreira em produto. Diversas são as dúvidas e medos sobre como é o backstage do desenvolvimento de um produto, quais skills são necessárias e como realizar uma transição para esse “mundo”, que cresce cada vez mais.

Meu objetivo com este artigo é contar brevemente o caminho que percorri para realizar minha transição de Customer Success para Produto e também ajudar você com alguns hacks que aprendi com o processo.

Primeiro de tudo: por que eu quis mudar para o time de Produto?

Depois de 4 anos no time de Customer Success da Resultados Digitais, atendendo clientes e liderando algumas equipes, pude vivenciar cara a cara com nossos usuários as suas dores, objetivos e expectativas, uma experiência que me fez desenvolver a principal skill (ao meu ver) para um Gerente de Produto: ser obcecado por resolver os problemas do cliente.

Quando percebi que poderia ampliar minha missão de resolver problemas da sociedade através de tecnologia e contribuir para o sucesso dos nossos clientes em maior escala, tomei a decisão de planejar minha transição para ser um Product Manager.

Mas como trabalhar em Produto quando você não tem formação técnica?

Devo confessar que sou formado em Sistemas de Informação e a tecnologia sempre “esteve no meu sangue”. Porém, já estou longe da área técnica há 6 anos e inclusive tenho excelentes colegas Product Managers com backgrounds bem diferentes, como: Administração, Publicidade, Turismo, Engenharias, Direito e por aí vai.

A primeira dica é essa: não torne a sua formação uma crença limitante. Afinal de contas, uma das principais competências para nós, profissionais, sermos bem sucedidos no mundo atual, é a adaptabilidade, isto é, conseguir atuar em ambientes de incerteza, volatilidade e com temáticas que não estamos habituados. Se você ainda pensa que sua carreira deve se prender à sua formação, pare agora mesmo com esse mindset fixo.

Quero deixar claro que você pode trabalhar com produtos em diversas frentes mesmo não sabendo desenvolver sistemas, e até mesmo não tendo interesse em aprender linguagens de programação. Para ser mais objetivo, cito abaixo de maneira resumida algumas funções dentro de um time de produto e engenharia:

  • Engenheiro(a) de software: conhecido comumente como o pessoal de desenvolvimento, perfil mais técnico, que gosta de colocar a mão na massa em programação (front ou back end), configuração de servidores e bancos de dados;
  • Tech Leader: normalmente possui um background técnico para coordenar e auxiliar times de engenharia para garantir qualidade e agilidade no processo de desenvolvimento de produto;
  • Analista de operações: faz o diagnóstico e revisão do fluxo de atividades do time de produto, além de acompanhar indicadores para identificar oportunidades de melhoria nos processos;
  • Analista/cientista de dados: profissional treinado para coletar, compilar, analisar e interpretar os dados para apoiar as tomadas de decisão estratégicas para o negócio;
  • UX Designer: responsável por garantir que o design projetado atenda às necessidades das pessoas usuárias, realizando protótipos, testes de usabilidade, fluxos, sempre visando a satisfação nas interações com o produto;
  • UX Writer: é quem cria textos para interfaces digitais e documentações, selecionando as palavras que as pessoas veem quando interagem com o produto, de forma a projetar uma conversa com a pessoa usuária;
  • UX Researcher: investiga e estuda de forma sistemática sobre as pessoas usuárias e seus requisitos/necessidades, a fim de auxiliar no processo de projetar a experiência adequada. Ou seja, o design propriamente dito (elementos visuais e textos);
  • Product Manager: responsável pela entrega do produto de forma mais ampla, garantindo que entregue valor para os clientes, seja intuitivo, tecnicamente viável e traga retorno sobre o investimento (ROI) para a empresa;
  • Product Owner: membro de um time que utiliza técnicas ágeis para gerenciar e priorizar o backlog de um produto, ou seja, a pessoa responsável por manter a integridade conceitual das novas funcionalidades, bugs ou melhorias;
  • Product Marketing: responsável pela comunicação do produto para o mercado (interno e externo), além de elaborar planos comerciais, definir planos e preços, análises competitivas e posicionamento (o que é e para quem) do produto;
  • Agile Coach: auxilia, treina e supervisiona equipes de produto sobre metodologias ágeis para garantir resultados eficazes para a organização.

Importante ressaltar que meus exemplos são voltados à empresas de tecnologia, onde concentram-se minhas experiências.

Veja que, na prática, a grande maioria desses cargos não necessitam de um conhecimento mais técnico de programação. Isto é, são carreiras que alinham competências diversas, como: design, habilidade de escrita, comunicação, conhecimento de mercado/negócios, liderança, dados, processos, marketing, organização, entre outras características que talvez você já tenha desempenhado em experiências anteriores.

Portanto, minha recomendação é que você se aprofunde nas temáticas que citei acima, estudando sobre os conceitos relacionados, realizando cursos, participando de eventos e entendendo melhor onde você se encaixa dentro de um time de Produto. Uma coisa é certa: são carreiras relativamente novas, que estão crescendo cada vez mais e que carecem de bons profissionais no mercado.

Agora que você já conhece um pouco mais sobre quais papéis pode exercer, compartilho alguns aprendizados e dicas do meu processo de transição que podem ajudar você.

1. Seja o protagonista da sua carreira

Essa dica independe da área para a qual você deseja migrar: simplesmente não delegue essa grande responsabilidade que é a sua carreira a ninguém que não seja você mesmo. Não espere que seus pais, sua liderança, terapeuta, psicólogo, coach, ou qualquer outra pessoa diga qual caminho deve seguir na sua profissão.

Converse, consulte e peça orientação para todas essas pessoas, provavelmente elas irão apoiar nas suas decisões, mas as respostas devem vir de você mesmo. Os riscos, benefícios e responsabilidades das suas escolhas devem ser assumidos por você.

E saiba que em toda escolha há uma renúncia. Se perceber que tomou um caminho errado, não lamente-se pelo passado. Colha os aprendizados e siga em frente sem culpar outras pessoas pelas suas escolhas. Assuma o protagonismo, não se esqueça!

2. Peça ajuda e mergulhe de cabeça no seu próximo passo profissional

A próxima recomendação é entender em detalhes as atividades exercidas em cada um dos papéis da área de Produto. Para isso é interessante abrir suas vulnerabilidades, deixando claro o que você ainda não sabe e pedindo ajuda, simples assim.

Converse (mesmo que informalmente) com as pessoas que atuam no cargo que você está estudando, participe de eventos/aulas/treinamentos relacionados a produto, leia descrições de oferta de trabalho em diferentes empresas, veja o LinkedIn de profissionais que admira e qual o resumo das atividades que eles exercem (ou exerceram) nos cargos que atuaram, busque ajuda do time de recursos humanos da sua empresa, siga referências do tema nas redes sociais, acompanhe blogs sobre esses assuntos, leia livros recomendados e etc.

O objetivo é você ter clareza sobre os prós e contras de cada função, entender se faz sentido para sua carreira e o que você deve fazer para chegar lá. Nesta etapa, alguns exercícios de autoconhecimento são fundamentais para você conhecer suas fortalezas e fazer um “match” mais confiante e certeiro.

Depois de decidir pela função que mais se identificou, comprometa-se com esse objetivo. A tomada de decisão deve vir seguida de muita disciplina, para que você torne esse objetivo em realidade.

3. Transparência com a liderança

Estudou bastante sobre o papel que pretende exercer, conversou com referências do mercado e está comprometido com a transição? Antes de qualquer coisa, abra o jogo com sua liderança.

Se você gosta da empresa que trabalha, se identifica com os valores e pretende continuar na mesma indústria (é o que recomendo), busquem juntos oportunidades internas para a função que almeja e desenhem um plano para chegar lá. Entenda que a liderança é sua principal aliada neste momento, e ninguém melhor do que ela para definirem juntos o melhor caminho para sua carreira.

Caso não encontrem a função que deseja internamente, busque oportunidades que façam sentido para você em outras empresas. Pondere os pontos positivos e negativos da mudança. Talvez valha a pena esperar um pouco até abrir uma oportunidade interna, talvez não. O importante é ter consciência sobre os riscos e benefícios da sua decisão.

Indo direto ao ponto: seja transparente, peça feedbacks claros e reflita sobre as orientações que receber. O exercício a ser feito neste momento é entender de que forma as suas necessidades profissionais se encaixam com as necessidades da empresa, é uma via de mão dupla. Como em qualquer relação, deve haver compreensão e vontade de ambos os lados para que a parceria continue dando certo.

4. Monte um plano de ação

Agora é hora de criar (e executar) um plano de ação. Primeiramente registre, da forma que for mais conveniente para você, qual o seu objetivo, competências que precisa desenvolver para chegar lá e como vai medir o sucesso do seu plano. Feito isso, comece a pensar quais ações práticas irá executar para atingir esse objetivo.

Quando for elencar as ações, busque seguir o modelo 70/20/10, que sugere que 70% das atividades sejam práticas (mais conhecido como “aprender fazendo”), 20% de acompanhamento/mentoria com outras pessoas mais experientes no assunto, e 10% de aprendizagem formal, com artigos, livros, treinamentos/cursos e palestras. Entenda que o conceito traz a base, mas a competência consolidada virá através da aplicação dos conhecimentos na prática, errando e aprendendo, pois sabemos que a teoria pode divergir da realidade.

Para te ajudar nesse exercício, criei um template de plano de ação, que aborda os tópicos que citei acima.

A dica aqui é: execute a função que almeja sem “ocupar a cadeira” oficialmente. Ou seja, busque iniciativas/projetos/workshops que possa participar na parte prática (os 70%), desta forma irá sentir na pele um pouco do que será sua nova realidade quando atingir seu objetivo de pivotar a carreira.

Lembre-se também de comunicar para as pessoas a sua volta qual é o seu objetivo, fale com seus futuros colegas, marque “cafés”, se faça presente. Quem não é visto, não é lembrado.

5. Sentiu que é a hora de fazer a transição? Arrisque-se!

Conforme avançar no plano, acompanhe as oportunidades sobre o cargo que está buscando, sejam internas (na empresa que está) ou externas, e arrisque-se a participar de um processo seletivo.

Minha recomendação para as entrevistas, além de estudar muito sobre a oportunidade em questão, as habilidades necessárias e os desafios que provavelmente enfrentará, é você evidenciar seus diferenciais. Faça uma reflexão sobre suas conquistas no cargo atual, resultados obtidos, projetos e iniciativas que atuou e relacione com o próximo desafio. Conheça quem são seus futuros colegas, quais suas experiências/habilidades, e busque deixar claro como suas fortalezas podem complementar e gerar valor à equipe e ao produto que irá gerenciar.

Quem sabe você não tenha um novo momento de carreira vindo por aí?! Comece pelo passo 1 e manda ver!

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