Lei de Little na Prática
Conheça alguns cenários com aplicação prática para te ajudar a entender em definitivo a Lei de Little.
De forma bem resumida, a Lei de Little criada por Dr. John Little na década de 60, trás que as 3 variáveis (WIP, throughput e lead time) estão relacionadas.
Quando falamos de Kanban e fluxo, uma das leis mais citadas é a tal da Lei de Little. No entanto, percebo que muitas pessoas ainda tem a dúvida de como sair da teoria para a prática. Pensando nisso vou trazer 3 cenários para simular a lei de Little e mostrar como aplicar a fórmula.
Lei de Little e as 3 variáveis
- WIP (Work In Progress — trabalho em progresso)
- Throughput (vazão ou itens de trabalho entregue ou taxa de entrega)
- Lead time (tempo que o item fica dentro do fluxo incluindo os tempos de espera)
Lei de Little aplicado ao método Kanban
DISCLAIMER: Neste post vou concentrar em como aplicar a fórmula da Lei de Little, caso queira aprofundar nas 3 métricas ou saber como estabilizar o fluxo, consulte o link do post “Métricas em times ágeis: as 3 métricas fundamentais que você precisa saber e dominar!” nas referências.
PREMISSA: Estou partindo da premissa que a lei de Little é válida e meu objetivo não é invalidar a lei. Caso você queira entender mais sobre a origem da Lei de Little e o motivo de usar as médias, recomendo a leitura da página 10 (pág. 18 do PDF) do livro gratuito “Kanban Essencial Condensado” que está nas referências.
Depois desses destaques a lei de Little aplicada ao Kanban usa a relação das médias das 3 variáveis:
- WIP (média)
- Throughput (média)
- Lead time (média)
Sei que pode parecer estranho inicialmente olhar para as médias e pode até ser um pouco confuso, mas essa foi a descoberta do Dr. Little e vamos explorar os exemplos durante o artigo.
FÓRMULA DA LEI DE LITTLE aplicada ao método Kanban
- WIP (média) = throughput (média) * lead time (média)
- Throughput (média) = WIP (média) / lead time (média)
- Lead time (média) = WIP (média) / throughput (média)
Este é um conceito poderoso, pois te ajuda a entender a relação de causa e efeito entre as 3 métricas.
PONTO BEM IMPORTANTE: Baseado no princípio que Lei de Little só faz sentido em um sistema estável, onde WIP é bem gerenciado e a taxa de entrada e saída é constante, a lei pode ser usada em um fluxo de trabalho com o método Kanban.
Como Raphael Albino trás em seu livro Métricas Ágeis, há 3 premissas para a aplicação da lei de Little:
- Um sistema de filas estável — a média do WIP no início do período do cálculo deve ser muito próxima da média no final do período e a idade média dos itens que compõem o trabalho em progresso não deve estar mudando, nem para mais, nem para menos.
- Um período de tempo arbitrariamente longo sob observação para garantirmos que o processo seja estacionário — média, variância e estrutura de auto correlação não mudam no decorrer do tempo. Isto é o mesmo que dissermos que os dados estão em um plano liso, sem tendência, variância constante no decorrer do tempo, uma estrutura de auto correlação constante no decorrer do tempo e nenhuma flutuação periódica.
- Que o cálculo seja realizado usando unidades consistentes — por exemplo, se o tempo médio de um item no sistema é expresso em dias, então o número de itens chegando ao sistema também deve ser declarado em termos de dias.
Para aplicar na prática a lei de Little, vamos tratar 3 cenários:
- Cenário 1 — Ter a primeira referência para aplicar o limite WIP no fluxo como um todo
- Cenário 2 — Se alterar o WIP, qual impacto?
- Cenário 3 —Se diminuir o lead time, vou melhorar o throughput?
CENÁRIO 1 — Ter a primeira referência para aplicar o Limite WIP no fluxo como um todo
Neste caso precisamos ter o lead time (média) e o throughput (média) do fluxo de um determinado período, recomendo usar o período mínimo 1 mês e máximo 2 meses ou que tenha algo em torno de 20 ˜30 demandas/itens de trabalho.
CENÁRIO 1 — EXEMPLO 1
Com essas 2 variáveis conseguimos calcular o WIP (média) e pode ser a primeira referência para começar a aplicar a prática de limites WIP.
Supondo um cenário de uma equipe que já trabalha com o método Kanban, faz a gestão do seu fluxo, mede o lead time e throughput, fluxo já está rodando bem, e quer melhorar a prática de limitar o WIP.
Com base neste CENÁRIO 1, temos os seguintes dados:
- Lead time (média) = 5 dias corridos
- Throughput (média) = 10 demandas/itens de trabalho por semana
Um erro comum é usar unidades de tempo diferente!
Antes de calcular, sugiro que deixe tudo em dias corridos
Neste caso temos o lead time em dias e o throughput em semanas, então antes você precisa colocar o throughput (média) de semana para dias, como aqui usamos dias corridos, vamos dividir por 7 (quantidade de dias da semana), sendo assim temos:
- Throughput (média) = 10 demandas/itens de trabalho por semana
Transformando para dias: 10 / 7 (qtd. de dias da semana)= 1,43 por dias corridos
- Throughput (média)= 1,43 demandas/itens de trabalho por dias corridos
Vamos aplicar na fórmula:
- WIP (média) = throughput (média) * lead time (média)
- WIP (média)= 1,43 [throughput (média)] * 5 [lead time (média)]
- WIP (média) = 7,15 demandas/itens de trabalho por dias corridos
Ter a primeira referência para aplicar o Limite WIP
De acordo com os cálculos realizados, nestes exemplo, teremos 7 demandas/itens de trabalho em progresso no fluxo por dia e esta é uma referência para começar com o limite WIP do fluxo como um todo com base no comportamento atual do fluxo.
CENÁRIO 2 — Se alterar o WIP, qual impacto?
Neste caso precisamos ter o lead time (média) e o WIP (média) do fluxo de um determinado período, recomendo usar o período mínimo 1 mês e máximo 2 meses.
Com essas 2 variáveis conseguimos calcular o throughput (média) e comparar os cenários para entender qual o efeito no throughput.
LEMBRETE: cada cenário é independente e os dados não tem relação com os cenários anteriores.
CENÁRIO 2 — EXEMPLO 1
Supondo um CENÁRIO 2 com os seguintes dados para o EXEMPLO 1:
- WIP (média) = 8 demandas/itens de trabalho por dias corridos
- Throughput (média) = 10 demandas/itens de trabalho por semana
Transformando para dias: 10 / 7 (qtd. de dias da semana)= 1,43 por dias corridos
- Throughput (média)= 1,43 demandas/itens de trabalho por dias corridos
Vamos aplicar na fórmula:
- Lead time (média) = WIP (média) / throughput (média)
- Lead time (média) = 8 [WIP (média)] / 1,43 [throughput (média)]
- Lead time (média) = 5,6 dias corridos
CENÁRIO 2 — EXEMPLO 2
Então vamos considerar o cenário onde reduzimos o limite WIP de todo o fluxo de 8 para 5 e o throughput vai se manter o mesmo.
Supondo um CENÁRIO 2 com os seguintes dados para o EXEMPLO 2:
- WIP (média) = 5 demandas/itens de trabalho por dias corridos
- Throughput (média) = 10 demandas/itens de trabalho por semana
Transformando para dias: 10 / 7 (qtd. de dias da semana)= 1,43 por dias corridos
- Throughput (média)= 1,43 demandas/itens de trabalho por dias corridos
Vamos aplicar na fórmula:
- Lead time (média) = WIP (média) / throughput (média)
- Lead time (média) = 5 [WIP (média)] / 1,43 [throughput (média)]
- Lead time (média) = 3,5 dias corridos
Se alterar o WIP, qual impacto?
Sabemos que com menor WIP, aumenta a colaboração, ajuda a dar foco nos gargalos e como consequência o lead time diminuirá.
O exemplo nos mostra que se o throughput se manter em 10 demandas/itens itens de trabalho por semana, com a redução do WIP de 8 para 5, teremos uma redução no lead time de 5,6 dias para 3,5 dias na média.
CENÁRIO 3 — Se diminuir o lead time, vou melhorar o throughput?
Neste caso precisamos ter o lead time (média) e o WIP (média) do fluxo de um determinado período, recomendo usar o período mínimo 1 mês e máximo 2 meses.
LEMBRETE: cada cenário é independente e os dados não tem relação com os cenários anteriores.
CENÁRIO 3 — EXEMPLO 1
Com essas 2 variáveis conseguimos calcular o throughput (média) e comparar os cenários para entender qual o efeito no throughput.
Supondo um CENÁRIO 3 com os seguintes dados para o EXEMPLO 1:
- Lead time (média) = 10 dias corridos
- WIP (média) = 5 demandas/itens de trabalho por dias corridos
Vamos aplicar na fórmula:
- Throughput (média) = WIP (média) / lead time (média)
- Throughput (média) = 5 [WIP (média)] / 10 [lead time (média)]
- Throughput (média) = 0,5 demandas/itens de trabalho por dias corridos
Transformando de dias corridos para semana: 0,5 * 7 (dias da semana)= 3,5
- Throughput (média) = 3,5 demandas/itens de trabalho por semana
CENÁRIO 3 — EXEMPLO 2
Vamos considerar o cenário onde identificamos uma oportunidade no fluxo que pode reduzir para 6 dias.
Supondo um CENÁRIO 3 com os seguintes dados para o EXEMPLO 2:
- Lead time (média) = 6 dias corridos
- WIP (média) = 5 demandas/itens de trabalho por dias corridos
Vamos aplicar na fórmula:
- Throughput (média) = WIP (média) / lead time (média)
- Throughput (média) = 5 [WIP (média)] / 6 [lead time (média)]
- Throughput (média) = 0,83 demandas/itens de trabalho por dia
Transformando de dias corridos para semana: 0,83 * 7 (dias da semana)= 5,8
- Throughput (média) = 5,8 demandas/itens de trabalho por semana
Se diminuir o lead time, vou melhorar o throughput?
Sim, o exemplo nos mostra que se o WIP se manter em 5 demandas/itens de trabalho por dia, com a redução do lead time, teremos um aumento no throughput de 3,5 para 5,8 demandas/itens de trabalho por semana.
SIMULE NO SEU FLUXO
Agora que você viu esse exercício, os cenários e os exemplos, recomendo que você simule com os dados do seu fluxo, assim poderá ver as dúvidas e extrair alguns insights.
Conclusão
A lei de Little ajuda a entender o efeito e impacto do WIP e lead time no throughput . Mesmo com alguma imprecisão, a lei te ajuda a simular o efeito das mudanças, porém este é só mais um passo para entender de fato quais as relações de causa e efeito e usar como apoio para tomada de decisão.
Meu objetivo foi tentar aterrizar um pouco na prática e trazer exemplos / cenários que possam ser úteis no seu dia a dia.
Espero ter te ajudado a entender melhor como a lei de Little funciona e que você possa tirar alguns insights.
Se você achar alguma falha ou caso tenha visto algum erro no post, me chama e vamos conversar para deixar o post ainda melhor 🙏
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Veja também:
Métricas em times ágeis: as 3 métricas fundamentais que você precisa saber e dominar!
Quando se fala de times ágeis, além das métricas de resultados, há outras 3 fundamentais que são exploradas neste post:
- Lead time
- WIP (Trabalho em progresso)
- Throughput (Vazão)
Confira neste post: http://bit.ly/3metricas
Referências:
- Livro Grátis — Kanban Essencial Condensado
- Livro — Métricas Ágeis
- Post — Métricas em times ágeis: as 3 métricas fundamentais que você precisa saber e dominar!
- Post — Seu time com entregas previsíveis
- Post — WIP Limits — Porque limitar o trabalho em progresso é bom?
- Post — Little Law, cycle time and throughput
Agradecimentos pelas sugestões de melhoria e revisão ortográfica à Ari do Amaral, Bruno Lopes Mello, Debora Cristina Ramos, Dieine Silva, Dionei Piazza, Jorge Leite, Rogerio Angeliski, Thiago Torricelly, Tiago Pacheco Vieira, Wilhelm Meier.
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