Conheça a #matrix, o projeto Open Source que vem revolucionando o trabalho remoto na RD

Juliemar Berri
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8 min readApr 30, 2019

Talvez você está tentando ou até já desistiu de tentar fazer o trabalho remoto funcionar tão bem quanto o presencial. Se nunca tentou, no mínimo, você conhece alguém que está nesse caminho.

Trabalhar de forma remota não é fácil como simplesmente chegar no escritório, sentar à sua mesa e passar algumas horas focado e/ou interagindo com as pessoas à sua volta. É necessário adaptar a forma de pensar e interagir. Afinal, coisas que são triviais no trabalho presencial já não são tão triviais quando mudamos para o formato remoto.

Como fazer uma dinâmica com post-its se o time está distribuído? Como fazer emergir aquela conversa informal, que muitas vezes, gera o alinhamento necessário entre as partes? Como substituir os bate-papo rápidos que acontecem em frente ao café (ou “water cooler chat”) e que criam um relacionamento interessante entre as pessoas?

Ainda que nenhuma ferramenta de trabalho remoto possa substituir plenamente os encontros presenciais, melhores ferramentas e processos são sempre bem vindos para evoluirmos cada vez mais.

Afinal, comunicar, e comunicar bem, é fundamental para o sucesso de qualquer equipe.

Esse é um dos motivos para investirmos pesado em ferramentas que buscam otimizar esta relação, como Slack, Zoom e Google Meet. Entretanto, vários aspectos da comunicação presencial não são bem substituídas por nenhuma dessas ferramentas. Por exemplo:

Não favorecem conversas emergentes. O simples fato de eu ter que “ligar” para alguém para conversar sobre algo, faz com que a comunicação atinja um certo nível de formalidade. Por um lado, é interessante que as pessoas se perguntem duas vezes se eu preciso de fato interromper alguém para dizer o que eu quero, por outro lado, restringir o relacionamento entre as pessoas somente a assuntos formais não cria a proximidade necessária para que se sintam pertencentes ao mesmo time.

A aproximação por contexto fica prejudicada. Quando estou no escritório e vejo dois ou três colegas de trabalho reunidos discutindo sobre um projeto que é do meu interesse, é muito fácil juntar-me a eles e participar da comunicação (e decisão, se for o caso). Ferramentas de videoconferência não permitem que isso aconteça, simplesmente por eu não saber que tais pessoas estão reunidas falando sobre algo. A não ser que alguém ativamente me chame para participar da conversa, certamente ficarei de fora.

Não sei quando a pessoa está disponível. A não ser que a pessoa seja altamente disciplinada em atualizar o status do Slack o tempo todo, eu nunca saberei o momento adequado para fazer uma chamada. Enquanto no escritório basta eu olhar para a mesa da pessoa e saber que ela está ali ou não, no “modo remoto” sempre existe a fricção de mandar um “oi, podemos conversar?” e esperar a resposta por um tempo, sob o risco de ser inconveniente.

Aqui na RD nós fizemos a seguinte pergunta: será que existe alguma forma de resolvermos esses problemas para melhorarmos ainda mais a experiência do trabalho remoto?

O cenário do trabalho remoto

O Connected World Technology, um estudo sobre tecnologia e trabalho realizado pela CISCO em 2014, apontou que 34% da geração Y prefere trabalhar em casa.

Este movimento cresceu de forma muito acelerada nos últimos anos e aqui na RD não foi diferente.

“Remote teams forces structural and systemic change to accommodate different ways of working and different ways of being ‘available’ and productive” Jennifer MossHelping Remote Workers Avoid Loneliness and Burnout

Outro estudo importante sobre o tema, o State of remote work 2018, aponta que o sentimento de solidão e comunicação colaborativa são as principais dificuldades que as pessoas que trabalham remotamente enfrentam em seu dia-a-dia.

State of remote work 2018

Em nosso time de engenharia e produto da Resultados Digitais, além dos escritórios físicos em Florianópolis, São Paulo e Joinville, temos profissionais espalhados por várias cidades do Brasil e do mundo. Por isso, temos sentido na pele as dificuldades em fazer do trabalho remoto uma experiência tão boa quanto (ou até melhor que) o trabalho presencial.

Os gamers são nossa inspiração

Nossa realidade, em sua grande maioria, é de um ambiente misto, onde temos em cada equipe alguns membros com presença no mesmo espaço físico e alguns membros em diferentes escritórios. Por algum tempo usamos a premissa de adaptar a experiência para quem estava remoto, tentando dar um jeitinho e fazer funcionar.

Por exemplo, um encontro do time com algumas pessoas fisicamente presentes em uma sala e algumas pessoas com presença remota, tentando unir o ambiente físico ao virtual. Estes encontros nunca funcionavam muito bem para quem estava remoto e a desculpa que sempre emergia era que as ferramentas digitais não nos trazem a mesma produtividade e são pouco flexíveis em relação a rabiscar em um quadro.

Percebemos que se continuássemos a apenas “adaptar” a experiência para quem está remoto nunca obteríamos deles o mesmo desempenho de quem estava presente fisicamente. Então mudamos nosso mindset para a experiência remote-first. Isso significa que qualquer conversa, reunião ou dinâmica seria modelada como se todos estivessem remotos.

Essa mudança de mindset nos permitiu olhar para os problemas da comunicação remota com mais profundidade. Percebemos que os problemas de ausência, de disponibilidade (facilidade de acessar as pessoas) e de visibilidade já estavam resolvidos em games multiplayer. Os gamers já experimentam o sentimento de presença e de pertencimento que estávamos buscando no trabalho remoto.

É com esta inspiração em virtualização do mundo real que criamos a #matrix, com o propósito de possibilitar aos profissionais do trabalho remoto uma nova experiência em comunicação e ambiente de trabalho. A #matrix nasce com a promessa de criar um ambiente virtual que seja tão bom quanto o ambiente físico/presencial e torne a experiência do trabalho remoto excelente. Será que é possível?

Mas o que é a #matrix?

A #matrix é um escritório virtual que traz a experiência do escritório físico, com várias salas e espaços de trabalho, onde as pessoas podem entrar e sair, mostrar onde estão presentes, se comunicar e fazer videoconferências.

É uma ideia absolutamente simples, no primeiro momento até parece ingênua, entretanto, para o nosso time de Engenharia com quase 100 pessoas distribuídas em 3 diferentes escritórios e mais várias cidades, faz uma diferença enorme.

#matrix — Work everywhere. Stay Together

O que há de tão diferente em um escritório virtual?

Vimos que existem alguns problemas com a comunicação e agilidade de trabalharmos remoto, certo? Focamos em 3 melhorias que parecem pequenas e sutis, mas que são pilares para fazer a diferença na experiência do trabalho remoto. São elas:

Presença. Possibilita ver todas as pessoas online no momento e suas interações, com quem estão falando, se estão em reunião ou se estão disponíveis.

Visão das salas

Disponibilidade. Conversar com alguém torna-se tão fácil quanto ir até a sua mesa e trocar duas palavras. Às vezes a comunicação escrita não fica tão clara e tão rica quanto a comunicação falada. Permitir que ela aconteça de maneira tão simples e fácil faz toda a diferença para que uma experiência de pair programming ou revisão possa ser feita em conjunto.

Vendo outras pessoas entrando na sala e iniciando uma videoconferência

Além disso, existe uma maneira muito rápida de avisar que você deseja falar com a pessoa através da feature de “Get” (Botão Direito do mouse), que avisará a outra pessoa que eu desejo falar com ela, trazendo esta para a sala.

Chamar a pessoa para a sala

Visibilidade. É possível ver as conversas acontecendo e entrar nelas caso sejam do seu interesse, ou ainda, esperar que finalize para que você possa interagir com uma das pessoas que estavam ocupadas até o momento.

Clareza na disponibilidade dos usuários

Com os estes recursos aparentemente simples implementados na #matrix, conseguimos melhorar ainda mais a experiência do usuário remoto e permitir maior colaboração dentro das equipes e entre equipes, independente do local físico de trabalho. Os feedbacks que temos recebido, principalmente das pessoas remotas, são extremamente positivo.

“Só queria compartilhar que é muito massa acessar o app e ver a galera engajada, todos esses fonezinhos em vermelho” — Alessandro Tegner

Qual a filosofia e tecnologias no projeto?

Buscamos deixar a #matrix o mais simples possível justamente para eliminar as barreiras de entrada. Este é um projeto que foi criado no mês do Open Source da Resultados Digitais e que você consegue rodar em modo standalone sem a necessidade de realizar configurações complexas. Utilizamos na camada back-end do projeto Node.js e socket.io para dar vida ao escritório. Já na camada front-end decidimos utilizar o bootstrap e Jquery (aqui temos uma boa oportunidade para utilizar Vue.js ou React.js).

Quando o projeto nasceu, as videoconferências eram apenas links para outras ferramentas como Google Meet e Zoom. Já nos primeiros dias de projeto nosso Arquiteto chefe Marcelo Uemura sugeriu dois projetos de videoconferência Open Source que poderiam ser incorporados na #matrix. Avaliamos as opções e percebemos que o Jitsi.org estava bem alinhado com a filosofia de simplicidade que norteia a #matrix. Com um experimento de alguns poucos minutos já estava no ar o suporte à videoconferência. Foi a partir daí que o projeto ganhou ainda mais força e seguidores.

Quero experimentar a #matrix. Como faço?

Todo o projeto está publicado em nosso GitHub. Você pode executá-lo localmente seguindo os passos no arquivo SETUP.md utilizando Node ou Docker. Mas caso você desejar fazer um teste rápido, disponibilizamos o botão “deploy to Heroku” e em menos de 2 minutos você já tem seu escritório virtual para testar com seu time.

Botão de deploy para o Heroku e controles de qualidade e integração contínua

Qual o futuro da #matrix?

“I don’t know the future. I didn’t come here to tell you how this is going to end. I came here to tell you how it’s going to begin.” Neo — Matrix

A comunidade vai guiar o futuro da #matrix. Acreditamos que com a opção do projeto estar aberto teremos novos recursos muito alinhados às reais necessidades que os times remotos forem encontrando e avaliando como algo essencial para o projeto. Também acreditamos que por estar ainda bem embrionário é uma ótima oportunidade para pessoas que desejam iniciar seus primeiros passos em contribuição no mundo Open Source realizarem seus primeiros PRs.

Com a força da comunidade, as dificuldades que enfrentamos no dia-a-dia de nossos times remotos podem ser minimizados. Estamos verdadeiramente empolgados com a evolução da ferramenta e em aumentar a colaboração nos mais diversos problemas em times remotos pelo mundo.

Você acredita que uma ferramenta como a #matrix pode ajudar a melhorar a sua experiência de trabalho remoto? Para nós tem feito uma diferença bastante positiva!

Se você deseja contribuir, acesse o GitHub e faça o seu PR.

Conheça também os nossos outros projetos Open Source em http://opensource.resultadosdigitais.com.br. Sua contribuição será muito bem vinda!

Viva o Open Source o/.

Agradecimento especial a todos os RDoers que fizeram este projeto se tornar realidade.

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Juliemar Berri
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A curious product and tech person. lover of behavior change | CPO @amicci