Quando a liderança é mais um rótulo do cargo do que uma habilidade.

Jeimyson Souza
Ship It!
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4 min readFeb 14, 2019

Você está em um cargo de nome bonito e poderoso com referências à liderança? Consegue me dizer se você tem um líder ou um chefe? A minha provocação aqui é sobre o quanto o mercado tem desvirtuado uma habilidade fundamental colocando-a apenas como um nome de cargo sem se preocupar com sua a essência.

Bom, para começar preciso combinar contigo que esta é a minha primeira postagem no Medium após um longo tempo enferrujado. Houve uma época que blogs e redes sociais eram ferramentas essenciais para que eu conseguisse esvaziar meus pensamentos e para retomar o hábito nada melhor do que um assunto relacionado à um tema que sempre gostei de abordar e esta foi a forma que encontrei para incentivar a inspiração. O tema é: Liderança.

Em 2019 completarei 15 anos atuando na área de tecnologia, especificamente em empresas de desenvolvimento de software. Destes 15, pelo menos 09 estive à frente de equipes, produtos e com diversas denominações formais: Coordenador, Gerente de Projetos, Gerente de Desenvolvimento, Gerente de Sistemas, Controller de Projetos e você imagina o que havia em comum nestes cargos? Um requisito sobre: Liderar pessoas.

Nos últimos anos tenho visto empresas e seus anúncios descrevendo novos cargos e responsabilidades utilizando desta habilidade como um rótulo e apesar de não ter nada contra e nem ter nenhum apego à estes rótulos, a reflexão que faço é sobre o quanto o rótulo do cargo é maior do que a habilidade?

Liderar pessoas é sobre construir relações, ter empatia, influenciar e inspirar, ser transparente, conquistar confiança e principalmente servir aqueles que estão ao seu redor. Sim, servir! O líder precisa ser disponível e não se lidera uma equipe estando de “portas fechadas”.

Quer saber de um fato engraçado? Em todas as empresas que recebi tal responsabilidade foi comum ganhar cursos e palestras sobre liderança. E preciso me posicionar aqui: não desacredito destes cursos, palestras, workshops e dos ótimos profissionais ou doutores no assunto, pelo contrário, acho que o fundamento teórico é extremamente importante e em quase todos estes você recebe receitas, frameworks, teorias de psicologia e boas práticas de como dar bons feedbacks. Alguns deles te ensinam também à “rotular” pessoas às agrupando em X, Y e Z. Ahhh, quem me dera resumir a complexidade do ser humano em uma lógica ou um cálculo!

Em minha pós graduação em gestão de projetos uma das matérias da grade era sobre liderança e me lembro de como fiquei ansioso em ver a materialização do assunto em uma prova. “Olha, vou aferir aqui se você é nota 10 em liderança.”

Mas se tem uma coisa que a experiência e tempo podem te dar de presente é a oportunidade de errar e apanhar bastante para depois aprender. E não, não é uma apologia à prática sem teoria.

Mas e qual é o meu ponto de vista sobre liderança?

  1. Liderança não é um cargo, é uma habilidade;
  2. Liderança não é uma questão de posição;
  3. Liderar não é escolher o melhor e mais capacitado técnico cheio de perfeições;
  4. Não se lidera pessoas sem ter empatia e tato e começa por não denominá-las de “recursos”, pois recursos são materiais e pessoas são pessoas;
  5. Liderar não é ser o melhor em emitir ordens;
  6. E é essencial entender que liderar não é controlar, mas sim gerar consciência;
  7. E acima de tudo, liderar não tem nada a ver com ser “bonzinho”! É preciso saber orientar, estabelecer os resultados e cobrá-los.

E tudo isto é suficiente? Não, liderar é aprender a lidar, estando preparado ou não, para enfrentar todos os imprevistos, variações e flutuações humanas e estes são ingredientes suficientes para não ter uma única receita.

Me permita tentar resumir o aprendizado de minha jornada até aqui que sem construir relações humanas saudáveis os resultados de uma equipe ficam à cargo da sorte. A minha receita é ser o mais próximo, transparente, coerente, disponível e não ter medo de compartilhar as minhas fraquezas, pois aliás, isto me torna humano. É preciso ter um certo nível de autoconhecimento.

E você pode dizer: vivemos em um mercado capitalista e este papo não cola na empresa em que trabalho, pois o que conta é produtividade e resultados. Eu lhe digo: o maior bem de uma organização anda, fala, respira e tem suas crenças e desejos. São estas pessoas que constroem ou destroem. Como destroem? Se mudando e aumentando o turnover, ou seja, quer ativo maior do que tempo e conhecimento?

O mundo muda cada vez mais rápido e a cada geração fica mais visível a evolução na forma de pensar e de querer. Cada vez mais o mercado necessitará de pessoas com habilidade para liderar grupos para conquistar resultados e é preciso estar disposto a ser mais do que um cargo com um nome bonito e poderoso. Os desafios são gigantescos e a responsabilidade equivalente.

Lidere e entenda as pessoas, seja transparente, humano, confiável, ético, servidor, empático, disponível, responsável e firme ao mesmo tempo. Assuma definitivamente que indivíduos são únicos e não há uma única receita!

Quando recebo um feedback dos que já trabalharam comigo sobre estas minhas características, este é o maior sinal de reconhecimento da minha carreira. Isto demonstra que consegui fazer a diferença no trabalho e na vida de alguém e que estou no caminho certo.

Ah, e sobre os resultados? Obtive muito mais sucessos do que fracassos, pois por todas as equipes que passei formamos a melhor equipe que poderíamos ser.

That’s all folks!

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Jeimyson Souza
Ship It!

Sr. Engineering Manager, líder preocupado com pessoas, MBA em Gestão de Projetos (FGV), formado em Análise e Desenv. de Sistemas e entusiasta em métodos ágeis.