Transição de carreira: minha jornada até me tornar um desenvolvedor de software

Kaio Felipe Silva
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11 min readJul 13, 2021

Várias pessoas já me perguntaram como foi o processo de transição para carreira como desenvolvedor. Nesse post quero contar desde o começo como tudo foi acontecendo, os aprendizados, desafios e ajudas que tive durante esse tempo. Se estiver meio sem tempo (irmão), fique a vontade para pular direto para os aprendizados logo abaixo, sem problemas :)

Eu passei por esse processo de transição de carreira duas vezes. A primeira foi quando eu trabalhava como Analista Administrativo e passei a ser Tech Recruiter e a segunda transição que foi do recrutamento para o desenvolvimento de software. Parece não ser uma carreira tão “lógica”, mas vem comigo para conhecer como foi.

Tudo começou lá em 2014

Uai, tão longe assim?

Pois é. Em 2014, aos 14–15 anos, foi onde tive meu primeiro contato com programação num curso do SENAI onde fui convidado a entrar nele graças a um baita amigo (saudades Abreu!). Lá eu aprendi a criar sites lidando com HTML, CSS, um pouco de Javascript com jQuery e, principalmente, PHP e MySQL. O curso tinha duração de um ano e no final tínhamos que apresentar um TCC com um projeto completo.

Só por curiosidade: nessa época eu andava muito de skate e meu TCC era sobre uma escola de skate chamada Saint Skateboard que no seu site oferecia os pacotes de aulas e do lado admin gerenciava os alunos, professores e turmas. Foi bem divertido 😅.

Passou-se esse ano, finalizei o curso, mas aquela altura eu não tinha muita maturidade e clareza para saber se realmente dava para seguir carreira na área de desenvolvimento. Além disso, eu sempre tive uma enorme insegurança e quando eu pensava no meu dia a dia trabalhando com tecnologia, a única coisa que me vinha na cabeça era:

“E se me pedirem para fazer uma coisa que eu não sei fazer?”

Isso me travou demais e por muito tempo! Pretendo falar um pouco mais só desse tópico de insegurança em outro post, mas quero adiantar que isso acontece várias vezes no dia a dia de uma pessoa desenvolvedora e tudo bem, você pode aprender durante o processo.

Acabou que eu gostei muito, mas não conhecia muito do mercado e me sentia bastante inseguro com esse mundo e não dei sequência depois disso.

O que aconteceu entre 2015–2018 na minha carreira

Não vou me estender muito aqui, mas resumidamente nessa época eu já trabalhava como Jovem Aprendiz na Administração de uma empresa de tecnologia e no final de 2016 consegui uma bolsa 100% numa faculdade também de Administração (isso foi um marco bem significativo para mim e minha família, já que eu seria apenas o segundo da família inteira a entrar numa faculdade). Nesse mesmo período, fui efetivado como Assistente Administrativo nesse trabalho. Ou seja, faculdade encaminhada e efetivação realizada, minha carreira parecia bastante direcionada para esse lado da administração.

Passou 2017 inteiro e chegou um momento que eu me senti muito adulto: tirar as primeiras férias! Eu não tinha preparado nada para essas férias, então o que eu ia fazer era, resumidamente, ficar em casa e fazer uma coisinha aqui e ali.

Foi nessas férias que o jogo mudou. Como eu não tinha nada preparado, resolvi estudar (sim, estudar nas férias, isso mesmo). Eu lembro que eu estava com algumas tarefas no trabalho relacionadas a automatização de planilhas e tudo mais e eu ia fazendo isso meio “on the job” e nunca tinha estudado. Nessas férias tirei um tempinho para isso e foi onde lembrei de 2014 e reacendeu a vontade de estudar programação novamente.

Como fazia ~4 anos que eu não escrevia códigos (além das fórmulas do Excel), comecei tudo do zero. Fui para a base, fazer cursos de lógica de programação, algoritmos e na sequência HTML, CSS e Javascript. Foi um período de férias muito produtivo, eu realmente estava convicto que queria aquilo no meu dia a dia!

Lembra que eu falei que estava na faculdade de ADM? Então, eu tive uma matéria de Marketing Digital onde um dos trabalhos que era pegar uma empresa real e aplicar marketing digital nela. E qual foi a minha ideia? Se você pensou que eu ia criar um site, acertou em cheio! Peguei a escola infantil da minha irmã como exemplo e desenvolvi um site para ela. Isso já foi um desafio e tanto, porque eu mal tinha começado a estudar tecnologia novamente e havia me comprometido com o trabalho da faculdade em entregar um site (algo que seria um pouco além do necessário para a matéria). Resumindo, deu tudo certo no trabalho, o site foi pro ar (não me orgulho muito do código dele, mas beleza) e tava aprovado.

Não se perde aí nas datas, estamos chegando em Janeiro de 2018.

A primeira transição

Nessa virada de ano (de 2017 para 2018) eu fui promovido para Analista Administrativo, estava contente por ser reconhecido, mas ainda assim o dia a dia não era aquele que eu queria. Foi então que ali por Março comecei a dar uma olhada em outras oportunidades. Confesso que eu não tinha planejado muita coisa como localização, salário, trade-offs, tipo de empresa e outras coisas. A única certeza que eu tinha era que gostaria de estar mais próximo do mundo de tecnologia. No meio disso, eu lembrei da Resultados Digitais (hoje RD Station) e me apliquei numa vaga que era do programa de contratação para pessoas com deficiência.

Para quem não sabe, eu tenho visão monocular, ou seja, enxergo o mundo com apenas um olho ;)

Não era uma vaga específica, o intuito desse programa é conhecer as pessoas e ver onde poderia fazer mais sentido. Encurtando a história, lembro que as entrevistas foram muito transparentes sobre ambiente, cultura e principalmente sobre o que eu sabia, não sabia e o que eu queria. Lembro também de ter falado que eu não me sentia preparado ainda para estar numa “cadeira” de desenvolvedor, mas a meta a longo prazo era essa. E aqui quero reforçar o quanto a transparência nesse processo é crucial. Repara que, antes mesmo de eu entrar a gente já teria um “acordo” que, em algum momento no longo prazo, uma transição assim poderia acontecer? E sim, isso ajudou muito lá na frente. Preciso destacar também que eu tive um tanto de sorte por falar com pessoas extremamente fora da curva como a Cá e a Mari (sou muito grato pela oportunidade até hoje) que me entrevistaram e apostaram que isso poderia dar certo.

Conversas feitas, vimos que uma possibilidade muito boa seria entrar como Assistente de Tech Recruiter. O que eu pensei foi: “eu ainda não conheço todo o universo de tecnologia (áreas, vagas, especialidades, requisitos…), mas aqui vou poder aprender isso tudo e me preparar para uma possível transição. Além disso, estarei muito próximo do mundo da tecnologia, então perfeito!”. E no dia 02/04/2018 eu começava essa nova jornada.

De forma resumida, foi assim que minha primeira transição aconteceu. Pouco planejamento, uma certeza muito forte, muita transparência e um tanto de sorte. Vai ser assim pra todo mundo? Com certeza não, mas talvez você possa tirar algum aprendizado daqui.

Bora para a próxima!

A segunda transição: indo para o mundo de desenvolvimento

Bom, chegamos na parte que considero o ápice desse texto (e acho que é o que você quer mais saber também). Para não entrar em muitos detalhes, vamos começar a partir do último trimestre de 2019. A essa altura, várias coisas já tinham acontecido: batemos recordes, fui promovido, troquei Administração por Análise e Desenvolvimento de Sistemas, minha liderança mudou, meu time diminuiu e cresceu de novo, além de vááárias outras coisas.

Reparou que eu destaquei que a minha liderança mudou?! Então, isso é importante e quero falar mais sobre. A nova pessoa que entrou, obviamente, não havia me entrevistado e não estava por dentro daquele “acordo” sobre uma possível transição no futuro. Aí que entra novamente a transparência.

Antes de continuar, quero destacar algo que falamos muito aqui na RD e eu acredito também: Nós somos responsáveis pela nossa carreira. Não é nossa liderança que deve decidir qual caminho seguiremos, mas sim, nós de forma proativa. A liderança pode/vai nos ajudar nesse processo fazendo com que isso ocorra da melhor forma e no melhor momento possível (sim, eu sei que não é assim em todos lugares, mas acredito que estamos evoluindo nisso como um todo).

Na RD temos conversas individuais, um para um, de forma recorrente (~15 dias) e isso ajudou muito nesse novo alinhamento. Foram nessas conversas que deixei claro esse desejo de um dia fazer uma transição para desenvolvimento e queria que isso acontecesse de forma tranquila, sem deixar ninguém na mão. Feito isso, perfeito, ficamos alinhados e eu constantemente era incentivado e empurrado (no bom sentido) pela minha líder sensacional (que era a Paula).

Porém, aqui surge um novo desafio: alinhei que queria fazer isso acontecer, mas como eu posso evidenciar que estava realmente querendo isso? Sendo direto, indo para cima e colocando a mão na massa.

Se surgisse alguma necessidade do time que fosse um pouquinho mais técnica e me desafiasse a aprender mais de tecnologia, eu estava lá envolvido. Isso foi desde automações de planilhas até lidar com integrações entre sistemas.

Um exemplo de algo que nasceu assim e de forma open source foi o Remote HeartCount. Se quiser saber mais sobre ele, dê uma olhada no repositório no Github.

Eu aprendi muito com esses desafios e recomendo demais para quem está vivendo um momento semelhante. Foi dessa forma também que o time de desenvolvimento começou a saber que eu minimamente entendia de tecnologia — quem não é visto, não é lembrado não é mesmo?! Falando nisso, eu buscava sempre estar envolvido em iniciativas da área de desenvolvimento, como hackathons internos e coisas do tipo. Não ganhei nenhum deles, mas ganhei bastante aprendizado e isso já tava valendo :D

Eu poderia me estender mais aqui em outros detalhes específicos desse período, mas não me parece necessário. Vamos pular para março/abril de 2020, a pandemia.

Há males que vêm para bem

Como todos sabem, a pandemia pegou todo mundo de surpresa e abalou muito o mundo como um todo e, obviamente, a gente sentiu isso também. Além de várias outras medidas, precisamos também congelar as vagas por um tempo. Agora pense, minha principal função era recrutar, trazer mais e mais gente para dentro e agora isso não era mais possível. A conta não parecia fechar. Sinceramente, eu esperava pelo pior, algo como uma demissão, porque era o que eu estava vendo acontecer todos os dias no mercado.

Porém, a RD agiu de forma totalmente diferente daquilo que eu estava vendo e ouvindo acontecer no mercado. Eles criaram um plano de realocação de pessoas que ficaram com baixa demanda para outras áreas que estavam precisando e que tivesse alguma relação com seu objetivo de carreira também. Essas mudanças poderiam ser temporárias ou permanentes. Nada foi imposto, foi tudo bastante humano e planejado para não gerar possíveis frustrações. Quando vi todo esse movimento acontecer, fiquei realmente grato e vi o quão importante é estar num lugar que se preocupa de verdade com as pessoas. Aqui deixo meu agradecimento público a RD por ter pensado nisso, mesmo num contexto tão zoado.

Agora, lembra que eu tinha alinhado com minhas lideranças, participado de iniciativas de desenvolvimento, construído coisas com código para ajudar meu time?! Isso deixou muito mais nítido para onde poderiam me direcionar, já que desde sempre eu apontava para o mesmo lugar. Foi então que recebi a notícia de que essa mudança aconteceria em breve. Era um sentimento estranho, até hoje não sei defini-lo bem. Feliz por estar realizando um sonho, mas triste pelo contexto ser tão contrário. De qualquer forma, o jogo tinha que continuar e isso ia acontecer. Fiz uma espécie de entrevista com a área e bola pra frente.

Repara que, o nosso plano (meu e da minha liderança) era fazer essa transição de forma tranquila, o que foi totalmente ao contrário no cenário da pandemia. A gente até brincou que dessa vez ela não deu um empurrão, ela me jogou de vez 😂.

E foi desse jeito meio estranho que no dia 08/06/2020 iniciei oficialmente minha carreira como desenvolvedor de software.

Para evidenciar como as coisas se relacionam e a importância de estar envolvido: o time que eu fui destinado (e que faço parte hoje) era o time que eu estava no hackathon também!

Bom, agora que contei a história toda (de forma resumida, mas com alguns detalhes) quero destacar os principais pontos que eu acredito que pode te ajudar numa transição também:

Aprendizados

Tenha claro o seu objetivo e entenda seu momento.

Eu tinha uma única certeza quando iniciei essa jornada (se não lembra qual era, dá uma olhada lá no começo na parte da primeira transição). Isso fez com que eu direcionasse meus esforços para esse objetivo e não para outra coisa.

Seja transparente.

A certeza que temos é que as pessoas e o contexto vão mudar e você precisa realinhar as conversas sempre. Até mais desafiador do que falar, é manter os assuntos vivos, mas isso é de igual forma muito importante. Se você tiver conversas recorrentes com sua liderança, busque trazer esse tema para conversa, saber como um pode ajudar o outro nesse processo e onde mais podemos desenvolver. Em resumo, seja transparente, abra o jogo e não deixe cair no esquecimento. As coisas podem ser bem mais leves e mais fluída para ambos.

Não pense apenas no hoje, olhe para o longo prazo.

Normalmente queremos tudo para agora e nem sempre isso é possível. Não sei se você reparou, mas demorou 2 anos e 3 meses para essa jornada de transição se concluir. Eu desanimei em alguns momentos? Sim, vários. Mas pensar no longo prazo era o que ajudava a seguir no objetivo. Pode parecer duro, mas não é porque você terminou um bootcamp de 6 meses que você já está 100% pronto para uma jornada profissional.

“Ah, mas aconteceu isso com meu amigo”, beleza, mas as histórias não são iguais. Escreva a sua própria :)

Não espere por um fenômeno.

Não haverá um momento extraordinário que alguém do absoluto nada vai te convidar para uma mudança assim. Você precisa construir isso no dia a dia, com consistência. Eu não to falando de meritocracia, estou falando que você se torna mais aquilo que você quer evoluindo no dia a dia. Ou seja, eu me tornava mais desenvolvedor de software a cada dia que eu buscava mais conhecimento sobre aquilo.

Seja profissional, a sua carreira é de sua responsabilidade.

Isso me parece meio básico, mas é necessário falar. Você é responsável por decidir para onde quer direcionar sua carreira. Eu tenho certeza absoluta que você se conhece muito mais do que a sua liderança, não é mesmo?! Então crie objetivos, alinhe-os com as pessoas que trabalham com você e faça acontecer. Pode ter certeza que será muito menos custoso para ambos.

Esteja preparado(a). Constância é melhor do que intensidade.

Como falei anteriormente, se prepare um pouquinho todos os dias. Não busque estudar intensamente, 6–7 horas apenas um dia na semana. Busque estudar, nem que seja apenas 20 minutos, todos os dias. Já comentei um pouco sobre minha percepção de evolução e melhoria contínua nesse post, se quiser dá uma lida lá depois.

Imagine se eu não tivesse me preparado antes, eu poderia ter perdido uma oportunidade gigante de transição de carreira para atingir esse objetivo de ser desenvolvedor de software. Estude, pesquise e entenda o que é necessário para cumprir o papel que você deseja e se coloque a prova em desafios pessoais e profissionais.

Escreva sua própria história

Por último, mas não menos importante, seja dono(a) da sua história. A minha aconteceu dessa forma, mas muito provavelmente ela é bem diferente da sua. E a sua, muito provavelmente, é bem diferente de uma outra pessoa também.

Não tente se comparar ou tentar apressar os passos. Cada pessoa tem seu tempo e o importante é saber aproveitar ao máximo dessa jornada.

Bom, eu acho que era isso. Eu devo ter esquecido de alguns outros detalhes ou misturado algumas datas (sou meio ruim com isso), mas, de verdade, eu espero que esse texto te possa ajudar de alguma forma.

Se ficou com alguma dúvida ou quiser saber mais detalhes de algum momento específico, fique super a vontade para me perguntar, seja aqui nos comentários ou nas redes. Eu realmente gosto de falar sobre isso e vai ser um baita prazer ajudar.

Ah, se quiser vivenciar um crescimento de carreira (de verdade) com vários desafios bacanas, a RD pode ser esse lugar e estamos contratando!

Até a próxima! 👋🏽

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Kaio Felipe Silva
Ship It!

Apaixonado por tecnologia, nerd, curioso e sempre interessado em aprender algo novo.