Capítulo 3 | Cara gente branca, sexualidade é um espectro, negritude não

Junno Sena
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3 min readMay 6, 2018

Menosprezados por semelhantes. Esquecidos pelos diferentes. A solidão do homem negro e gay vai do seu círculo de amizade, para sua família e enfim, suas relações amorosas. Essa mesma solidão é o que o acompanha quando sua existência é negada por cada círculo social. Ora por ser negro, então por ser gay e enfim, por não se enquadrar nos aspectos sociais impostos.

E se o Lionel de Dear White People teve que passar por toda uma trajetória para entender que não havia problema em ser LGBT, que como ele disse diversas vezes, “sexualidade é um espectro”; agora, a lição era entender o que é fazer parte de duas minorias e ao mesmo tempo, não fazer parte de nada.

Esse conflito interno se mostra nas falas e atitudes do personagem de forma muito presente. Da forma como fica chateado por ser esquecido por Sílvio; Quando não entende uma referência pop; Até quando finalmente encontra outro homem negro e gay, tudo para escutar um “Eu não curto… Você sabe… Negros”; E o mais marcante, ao não conseguir encontrar um estilo para seguir.

A necessidade do personagem de combinar sua gravata com sua blusa é a mesma de querer entender o que passa na mente do companheiro e o que ele representa, tanto para o jornal em que trabalhava, para a faculdade na qual estuda e na forma em que se expressa entre outros homens gays.

E em toda essa trajetória de problemática e solução, Lionel é levado pela mão de Sílvio — aqui muito mais similar a um homem branco gay do que o latino que é. Para ser jogado em ambientes socialmente racistas e obrigado a se entrosar e então, levado a um lugar mais amigável, para novamente, ser retirado do espaço que aos poucos parecia conquistar.

Mesmo de forma metafórica, esse trajeto noturno, similar a uma bola de bilhar de Lionel é o que todo homem negro e gay enfrenta quando se entende o mesmo. Percorre de balada em balada para finalmente encontrar o seu Orgulho LGBT. Então, quando percebe, precisa encontrar o Orgulho Negro. Tudo isso para ainda ser constantemente atacado por ser uma dualidade que “não deveria existir”.

Lionel representa uma ferida muito recente na vida social do negro LGBT. Pois, assim como o racismo institucionalizado, essa situação é algo que não foi superada. E mesmo quando no fim da noite ele sorri com uma mensagem, ainda surge um imenso caminho para entender que a culpa da rejeição nunca foi sua, mas da sociedade em que está inserido.

Mas isso já é trabalhado de forma ainda mais sutil com o decorrer da temporada. Agora, com um interesse romântico novo, Lionel empilha suas identidades, para caso uma ceder, ter outras para se apoiar. Isto é, caso o relacionamento falhar, ele terá sua pesquisa. E se a pesquisa não resultar em nada, lá está seu companheiro. Se der tudo errado, o círculo de amigos estará lá, entendendo que, como diz Sam, ás vezes precisamos “ir lá e sermos gays à vontade”.

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Junno Sena
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Apenas um escritor, jornalista e designer tentando encontrar um rumo.