Corpo e mente

Fábio Souza
Re-cortes
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2 min readJul 9, 2018

Acordei assustado no meio da noite. Odeio ter o pesadelo de que estou caindo. Ainda, após acordar, o pesadelo se prolongou enquanto vestígio até que as batidas do coração e o fôlego voltaram ao normal.

Mais tarde, acordado, olhando pela janela da sala de aula, recordava o momento do despertar assustado. Um momento pontual e recente que trazia em si uma coletividade de lembranças ligadas por esse pesadelo em comum. E a chuva, lá fora, caia forte, enquanto o professor escrevia na lousa. Naquele momento em que, acordado, não sentia o bater do coração nem tampouco minha respiração ofegante, me dei conta da falta que essa energia me faz. Parecia que nada poderia mudar naquele cenário. Não sem um grande impulso. Mas de onde poderia vir algum impulso onde aparentemente os corações não batiam ou o respirar não marcava presença pela urgência de se fazer com intensidade?

Desejei, então, sonhar que estava caindo. Que mal haveria em cair, se no patamar onde estamos não queremos mais ficar? A adrenalina instintiva diante da ameaça pode se tornar ansiedade desejosa pelo que há de vir? Dormi com esperança de sonhar com a maravilhosa queda.

Agora estou aqui, na cozinha, bebendo um copo d’água no meio da madrugada refletindo sobre o fracasso de meu esforço. Isso, logo após acordar novamente em desespero. Novamente o pesadelo recorrente. Despertei ofegante, assustado, suado e temeroso. Assustado. Mas o que deu errado? Se eu estava obstinado a ver o pesadelo como sonho, porque o terror me dominou? Será que mudar a mente não basta para doutrinar meu corpo a reagir de uma nova forma? Será que o corpo vence essa luta? Como lidar com algo que se apresenta mais forte que as idéias? Ou será que o pesadelo foi consequência de algo tão banal como comer logo antes de me deitar? Se o corpo pode se apresentar mais forte que a mente por vezes, talvez eu possa exercer meu domínio sobre meu corpo pela racionalidade, de forma consciente. Talvez esteja aí o exercício de mudança que me falta. Estar no controle enquanto não durmo e optar por mudar. Mas, ainda, um hábito pequeno e tolo, como o de beliscar alguma coisa na geladeira, parece tão importante para ser deixado de lado. O copo d’água já está vazio e eu estou parado, pensativo sobre o comprometimento que meus planos demandam de mim. Uma pequena ansiedade me domina por medo de não ter o espírito revolucionário para sustentar minha idéia até que alguma mudança seja percebida. É melhor voltar pra cama e rezar pra que amanhã eu acorde bem disposto.

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