O que me cala — parte 1

Fábio Souza
Re-cortes
Published in
1 min readSep 7, 2019

As palavras me fogem. Como se a vontade de escrever, de falar, de gritar estivesse emudecida. Mas qual mordaça me cala? Logo tento me apropriar das mordaças dos outros. Será que é o mal do mundo a minha volta que me cala? Mas quais consequências eu realmente sinto na pele? Pele. Talvez esse possa ser o primeiro objeto de investigação. Onde vivo, sou branco privilegiado de classe média. Um lugar que certamente me aliena em relação ao mundo, que possui uma variedade de noções do que é ser branco e privilegiado e que, suspeito, tem, em sua maioria, critérios muito distintos dos daqui. O quanto a minha baianidade e de muitos outros é vinculada ao privilégio de ser tratado por branco privilegiado aqui? Onde o sincretismo permite que entidades africanas sejam cultuadas como se santos católicos fossem (em sua maioria europeus, creio eu), o mesmo se faz com as nossas raizes culturais? Apesar de muito poder ser pensado sobre isso, algo me diz que essa não é minha mordaça, mesmo que possa ser a de muitos outros.

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