Ocaso

Gabriel Franklin
(Re)Leituras
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1 min readMar 26, 2023
“Saffron”, Mark Rothko (1957)

O fim de tarde é a hora dela.

Talvez, por ter sido ela a nomear as transições,
por fazer com que os começos tivessem, antes de si, um fim,
e, os depois, um antes;
por dar à noite algo para se despedir do dia.

Ou, talvez, por terem os nossos passos
sido dados próximos ao poente,
naqueles caminhos onde não existiam outros,
nem emaranhados,
apenas nós.

Firmes, mas não apertados;
firmes tal qual o entrelaçar dos dedos
de mãos frias como a chuva, meus,
de mãos marcadas por luz, dela.

E, assim, seguimos,
chuva e luz,
deixando arco-íris por onde passamos.
Sem a preocupação futura
de qual pretérito perfeito usar,
se o do ir, ou o do ser,
fomos, apenas.

Talvez, então, seja porque os arco-íris
tinham um gosto morno de sol,
aquecendo de dentro para fora,
e deixando um hálito de despedida.
Se quisesse prová-los,
teria que me voltar para trás:
à frente, apenas o caminho;
ao lado, o sorriso.

Talvez, na verdade, não seja o caso.
Talvez, o começo da noite é que seja a hora dela.
Talvez, toda hora seja a hora dela.

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Gabriel Franklin
(Re)Leituras

Fingindo que estou, sonhando que vou, inventando que volto.