Moda

Precisamos falar sobre o consumo de fast fashion

Entenda o conceito de fast fashion e o impacto desse segmento na sociedade, após loja de varejo chinesa alcançar 2 bilhões de visualizações no seu site em setembro de 2020

Nauri Escoto
Realidades Invisíveis

--

Pinterest — Wave Creative Studio

Se o número de compras em varejo diminuí durante a pandemia, conforme mostra a Pesquisa Nacional sobre o Impacto da covid-19 nos Negócios, com as compras online aconteceu o oposto, segundo o relatório publicado pelo Ebit/Nielsen as compras através do e-commerce sofreram um aumento de 47% no último ano. Um exemplo desse sucesso na internet é a marca Shein que ultrapassou 2 bilhões de acessos em seu site e aplicativo em setembro de 2020. No site não há muitas informações sobre a fabricação de suas peças além de dados irrelevantes. E toda a semana a marca libera uma nova coleção.

A marca de fast fashion Shein que está no mercado desde 2008 com vendas online é conhecida pela grande quantidade de produtos ofertados e pela variedade de tamanhos que dificilmente se encontra em outras lojas. Além disso, o preço baixo enche os olhos dos compradores.

Mas afinal, o que é fast fashion?

Fast fashion ou compras rápidas, é o termo inglês que se refere ao consumo exacerbado. Marcas desse seguimento normalmente lançam diversas coleções dentro de um mesmo ano e instigam seu público a consumir. O conceito também faz referência ao meio ambiente, já que marcas de fast fashion normalmente usam tecidos que não são biodegradáveis. A maioria produzida a partir do petróleo que libera diversos gases poluentes no planeta. Além disso, por terem um preço muito mais baixo que a concorrência, parte dos produtos acaba sendo também de baixa qualidade e muitas vezes são feitos a partir de mão de obra escrava.

No Brasil, as marcas de fast fashion mais populares são Renner, Riachuelo, C&A, Hering e Marisa segundo pesquisa realizada na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Muitas dessas empresas estão se reposicionando no mercado deixando mais transparente para o comprador como são feitas as peças e quais tecidos são utilizados.

Por que as pessoas seguem consumindo fast fashion?

A blogueira do Rio de Janeiro Marina Libano, diz que compra na Shein pela pluralidade de tamanhos e pelo preço acessível. “Normalmente peças plus size possuem um preço mais elevado e, como a Shein mantém um valor mais acessível com uma variedade de peças e tamanhos, eu acabo optando por comprar com eles.” Explica.

De acordo com a psicóloga mineira Débora Blaso, que estuda as relações pessoais com o consumo de moda desde 2016, marcas de fast fashion são um grande atrativo para o público por uma questão social e econômica. “A moda precisa ser pluralizada e enquanto não houver esse olhar para o outro, para corpos e condições financeiras reais, marcas com mão de obra duvidosa, preços extremamente baixos e poluentes como a Shein sempre estarão em ascensão, pois os varejos mais sustentáveis normalmente visam corpos magros e a classe média alta tornando o acesso muito mais difícil.”. Diz Débora.

Moda sustentável e o consumo consciente

A jornalista e consultora de imagem e estilo Pam Zottis, de Porto Alegre, possuí mais de 30 mil seguidores em seu Instagram e ensina suas seguidoras e clientes a otimizar seus guarda-roupas sem que precisem fazer novas compras. “Elas acham ótimo. Ficam aliviadas. Porque a maioria acredita que eu vou ser uma espécie de esquadrão da moda e vou colocar tudo fora.” Ela diz que boa parte das pessoas tem verdadeiros tesouros dentro do armário e não percebem. “A consultoria de imagem e estilo é sobre olhar pra dentro, não apenas do armário, para dentro de si.” A partir desse olhar, consumir fast fashion acaba sendo desnecessário.

O processo para um consumo consciente não é fácil. Pam Zottis diz que ela mesma já comprou roupas por estarem baratas, ou por questões psicológicas, como por achar que merecia ou até mesmo por estar triste. Mas quando ela se deu conta de que gastava em algo que nem iria usar, percebeu que algo precisava mudar. “Muita gente é como eu era no passado, tem sonhos em viajar, em comprar um carro, uma casa, mas fica gastando em coisas inúteis e quando vê poderia ter guardado um bom dinheiro no mês para realizar seus desejos.” Pam, conclui que roupa cara é aquela que fica parada no armário.

A influenciadora Marina diz que ainda está nesse processo pelo qual a Pam passou, mas por trabalhar com a internet acaba sendo mais difícil não cair em determinadas tentações. Para quem quer mudar, a psicóloga Débora dá as seguintes dicas para se enfrentar momentos de compulsão por compras.

  • Primeiro, sair de todo e qualquer grupo de vendas online, seja no WhatsApp, Facebook ou outra rede social.
  • Segundo parar de seguir nas redes sociais aquelas pessoas que compram ou ganham roupas novas toda a semana.
  • E terceiro, e a mais importante, mudar os estímulos do cérebro. Por exemplo, sempre que pensar em comprar algo novo se questionar se realmente vai usar e se precisa mesmo daquela peça.

É possível também, comprar roupas em brechós, realizar trocas entre amigas e família, customizar aquela peça da qual enjoou levando até uma costureira ou se divertindo em casa. Dessa forma além de amenizar o consumo de fast fashion se coloca o consumo consciente em prática com uma pequena mudança de hábito.

--

--