Sobre Realismo Utópico

Pedro W. Gois
Realismo Utópico
Published in
2 min readJun 20, 2017

“(…) O realismo utópico combina a “abertura de janelas” sobre o futuro com a análise das tendências institucionais atuais, através das quais os futuros políticos estão imanentes no presente.” (A. Giddens, The Consequencies of Modernity, 1992)

A necessidade de escrever é imperiosa. Mas nem só de ficção vive o homem.

Esta publicação (Realismo Utópico) é fruto da minha constante necessidade em escrever e da falta de paciência para a produção da ficção. A política é, sempre foi, minha primeira paixão. Então porque não utilizar esta bela ferramenta de publicização que é o Medium para dar fim à esta demanda?

Mas o que é o Realismo Utópico?

À luz da ciência política, podemos compreender o “Realismo” como uma teoria política que explica as relações sociais através do pressuposto de que o poder é a principal finalidade da ação política. Logo, toda a teoria política precisa ser analisada sobre o prisma de como ela realmente é (e não como deveria ser).

Já a Utopia, ao contrário do que entende-se, não é o oposto do Realismo. É impossível “ver” a realidade que temos (Realismo) sem o pensamento reflexivo (Utopia). A Utopia é, na realidade, o oposto da Ideologia à medida que esta tem como principal fim a justificação de uma dada ordem. A Utopia, por outro lado, vem romper com a ordem através da construção de uma alternativa ao modelo vigente. Enquanto a Ideologia tende a naturalizar as injustiças, distorcendo e omitindo fatos conforme à conveniência, a Utopia — ao contrário — propõe a projeção de um novo modelo de organização social e política.

Slavoj Žižek, uma vez, contou a seguinte piada:

Um trabalhador alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que toda a sua correspondência seria lida pelos censores, disse aos seus amigos antes de partir: “Vamos combinar um código: se vocês receberem uma carta minha escrita com tinta azul, ela é verdadeira; se a tinta for vermelha, é falsa. Um mês depois, os amigos receberam a primeira carta dele, escrita a azul: é tudo uma maravilha por aqui. Os stocks das lojas estão cheios, a comida é abundante, os apartamentos são amplos e aquecidos, os cinemas exibem filmes ocidentais, há mulheres lindas, prontas para um romance. A única coisa que não temos é tinta vermelha.”

Diferentemente da personagem em questão, que conta mentiras em tinta azul, o Realismo Utópico vem para contar as verdades em tinta azul. Ou as mentiras em tinta vermelha, o que é quase-a-mesma-coisa.

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