Carta aos Leitores

Do REALPOLITIK

Pedro W. Gois
Realpolitik Madeira
3 min readFeb 3, 2020

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É chegada a hora de despedirmos-nos de nossos valorosos leitores, enquanto publicação no Medium. Pelo Realpolitik, foram dois anos de produções teóricas voltadas para a política, a economia e a sociedade. Encerramos um ciclo virtuoso de trabalho que iniciou-se com as eleições presidenciais brasileiras de 2018, cujo objetivo primário era de proporcionar uma plataforma alternativa séria e comprometida com as análises políticas de forma científica e não ideologizada.

Durante esses dois anos, buscamos colaboradores interessados em publicar artigos e expressar livremente as suas opiniões, empregando o Realpolitik como ferramenta de disseminação da informação. Lamentavelmente, fracassamos nessa missão de tornar coletiva a nossa produção intelectual. Percebemos, nesse sentido, que ocorre um defasamento histórico-material e um afastamento teórico-conceitual entre aquilo que acreditamos e aquilo que observamos, enquanto prática política dentro do nosso próprio segmento ideológico.

O campo progressista está cada vez mais distante do que nós cremos ser uma produção, um debate e uma prática eficiente e saudável na defesa de suas ideias. A Esquerda, enquanto quadrante político progressivo, afasta-se diariamente das noções de “Liberdade”, como princípio filosófico fundamental para o avanço social, econômico e político. Enquanto o mundo clama por maior Liberdade individual frente à qualquer tipo de exploração e opressão — seja ela proveniente de outros indivíduos, de sistemas de produção ou, até mesmo, de Governos e Estados nacionais -, aqueles que dizem ser progressistas mantêm-se fixados à ilusória compreensão autoritária de que a Igualdade precisa ser imposta — muitas vezes, de forma vertical na perspectiva de um Poder centralizado e transversal na perspectiva da representação da vontade popular.

A Igualdade, enquanto princípio filosófico, só pode cristalizar-se como realidade material através da própria Liberdade, enquanto prática política. Qualquer outro tipo de Igualdade — que não seja o de igualar os níveis de Liberdade dos Homens, entre si — é artificial e fictícia. Na natureza, o conceito de Igualdade não existe. Todo ser vivo — por mais similar que pareça — é distinto, singular e único, e logo difere-se de todos os outros seres vivos, ainda que sejam da mesma espécie. A única Igualdade que, de fato, existe no Universo material (não-natural mas social e, consequentemente, imagético) é a Igualdade de Direitos: o direito à Liberdade e o direito à Vida. Todo ser vivo tem direito a própria existência e, também, de ser livre enquanto existe. O resto é idealismo.

O Progresso que nega a Liberdade — inclusive, a Liberdade da progressão, em si-, escondendo-se por detrás da falaciosa noção igualitária, não pode ser outra coisa se não a negação do próprio Progresso. Converte-se, portanto, em um processo dialético onde a ideia de progressão transmuta-se na ideia de conservação. A designação de “Igualdade” está intimamente ligada à anulação da “Desigualdade”. Logo, o termo “Igualdade” é, necessariamente, ser Igual àquilo que conserva-se como Igual. Ou seja, a Igualdade é, à partir da eliminação da diferença, a conservação dos Iguais entre si. A Igualdade não significa Progresso mas Conservação à medida que “ser igual” significa “permanecer igual”. Dialeticamente, significa progredir para conservar, padronizando as relações de produção, as instituições, as crenças e os costumes.

Conservar é manter a Autoridade da Igualdade sobre a Liberdade da Diferença. É, portanto, uma Autoridade estranha à nós mesmos, onipresente e determinista. Nesse sentido, nossa ideia de Liberdade afasta-se de todo tipo de imposição exterior ao próprio indivíduo. Inclusive, a imposição da Igualdade. Reiteramos que só podemos ser iguais se formos Livres. É a Liberdade, como princípio filosófico comum à todos, que nos torna Iguais. Sem a Liberdade não há, nunca houve e nem nunca haverá uma Igualdade.

Compreendemos ser o momento de dar um tímido passo atrás para podermos dar dois largos passos à frente. Agradecemos à todos os leitores e, respeitosamente, manteremos o Realpolitik disponível na internet à todos os interessados em lê-la.

Traçaremos novos caminhos, vislumbrando o mesmo fim: defender a Liberdade, pautar-se pela Ética e objetivar o Progresso. Convidamos à ti, nosso leitor, à abraçar essa ideia. Que este não seja um “adeus”, mas um “até breve”, por parte da nossa publicação.

Atenciosamente,
Pedro Wandelli Góis
Idealizador, Editor e Redator do Realpolitik Madeira

Funchal,
Segunda-Feira, 03–02–2020.

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