Viajando como Heródoto: Milão

Milão foi a primeira cidade da Itália que visitei, em março de 2015, numa viagem que se estendeu às cidades de Florença, Nápoles e Palermo. Foi a primeira vez que coloquei os pés em terras italianas.
A história e a cultura da Itália não me eram estranhas, desde a minha infância com os vizinhos imigrantes no interior do Paraná, depois com os estudos escolares sobre História Geral, História da Arte, a música romântica, ópera, futebol e os grandes clássicos do cinema — Visconti, Fellini, Pasolini, Rosselini & tantos outros e, mais recentemente, quando frequentava o Curso de Doutorado em Engenharia de Produção da COPPE-UFRJ, li o excelente estudo: Comunidade e Democracia — a experiência da Itália moderna, de Robert D. Putnam, uma viagem exploratória sobre as transformações institucionais e econômicas na Itália, nos anos 1970. Não faltava curiosidade, faltava oportunidade.

Havia mais um motivo estimulando minha decisão de empreender uma viagem à Itália: em 2012, durante uma visita à Saragosa, na Espanha, encontrei na livraria de um antigo Palácio Árabe um CD com o título: Aragón en Nápoles, do conjunto italiano Micrologus. Numa encadernação de alta qualidade, textos muito bem ilustrados sobre a presença e influência espanhola na região de Nápoles, no século XV. As músicas, como não poderia deixar de ser são gravações atuais, com instrumentos antigos, da música composta para a corte aragonesa de Nápoles. Comprei o CD, lei o texto, ouvi várias vezes as músicas e esperei a oportunidade certa para conhecer de perto esta história. Calma, contarei tudo quando falar da visita a Nápoles, agora vamos falar de Milão.

Para a visita a Milão não fiz nenhuma consulta a site, guias turísticos, livros históricos, google ou wikipedia, contava com o gentil apoio de uma amiga que vive na cidade e trabalha num fundo regional de investimento. Paola é tia de um grande amigo de meu filho que foi seu colega num curso de mestrado na Alemanha. Em 2013, Paola e sua cunhada estiveram no Rio de Janeiro e eu promovi um city tour para a duas…agora, a visita a Milão era obrigatória.

Cheguei em Milão, numa segunda-feira à noite, e logo de manhã na terça-feira, depois de fazer o contato com Paola, parti para resolver duas questões essenciais para quem viaja: a) comprar um chip para conexão telefônica e internet com cobertura para a Itália; b) comprar um carregador para a minha câmera de foto e vídeo, pois ao chegar em Lisboa, uma semana antes de embarcar para Milão, descobri que havia esquecido o carregador no meu apartamento no Rio de Janeiro. Graças à internet, me correspondi por email com a filial da Panasonic em Milão e, assim que cheguei na loja fui saudado pela vendedora com o equipamento que eu necessitava.. eu era o primeiro cliente do dia.
Fiquei tão contente que comecei a fotografar e gravar takes de vídeo o dia todo…só parei no início da noite, quando retornei ao hotel exausto, com os pés e as pernas doendo de tanto andar pela cidade.

Na quarta-feira alternei visitas a Museus (Museu Novecento, Il Mondo di Leonardo, Pinacoteca de Milão), Galerias de Arte, com andanças pela cidade, observando a arquitetura e os belos monumentos que se articulam entre a tradição e a modernidade nesta bela, rica e movimentada cidade que é hoje o centro industrial e financeiro da Itália. À noite um encontro com os amigos para um magnífico jantar num restaurante com a comida tradicional da região. No dia seguinte não resisti e visitei o topo da Catedral (Duomo) onde pude realizar belas fotos e também experimentar a vista da cidade no alto da torre

Nada mais impressionante que a majestosa presença da Catedral (Duomo) na extensa praça povoada de turistas e artistas de rua, com a vizinha Galleria Vittorio Emanuelle I. Dois templos, o da religião católica e o do consumo conspícuo, lado a lado recebendo turistas do mundo todo. Fiquei emocionado ao visitar o Teatro Alla Scala e seu interessante museu, o palco, as galerias, o enorme hall, tudo me fez sentir num cenário de uma das óperas de Puccini, Verdi, Carlos Gomes e tantos outros que lá estrearam.

No sábado visitei o Cenacolo Vinciano, “A Ultima Ceia”, obra que foi pintada por Leonardo da Vinci, no refeitório do convento dos dominicanos na antiga igreja Santa Maria Delle Grazie. Posso assegurar que só a visita ao Cenacolo vale a viagem a Milão, vale por muitas aulas de história da arte, vale por estar diante de uma obra única no mundo. Todavia, para isso, o visitante tem que fazer uma reserva, por email, ou por telefone, com muita antecedência. Você pode solicitar um guia que fale em inglês mas geralmente os que falam italiano têm um sotaque muito claro e fácil de entender. Na minha visita a guia era uma italiana com muita informação sobre a obra e a história da cidade, foi muito bom.

A visita ao espaço onde está a obra de Leonardo da Vinci só pode ser feita com a presença de um(a) guia credenciada e as reservas (clique aqui para as reservas) têm que ser feita com antecedência porque só podem entrar, no máximo, 50 pessoas de cada vez, que contam com um período de tempo limitado em que podem observar a obra e ouvir as orientações da(o) guia. Mais uma vez contei com a cortesia da minha amiga Paola que havia feito a reserva. Estamos no início do mês de março, considerado como baixa temporada turística, portanto recomendo para quem quiser visitar o espaço, fazer a reserva com muita antecedência.

A esta altura eu já estava me sentindo à vontade na cidade: nos cafés, nos bares e restaurantes. A cidade é provida de um eficiente sistema de transporte urbano com os trams (bonde), ônibus e metro.
Não posso deixar citar a visita ao excelente museu Del Novecento em cuja coleção, logo na entrada, está exposta a famosa obra Il Quarto Stato.

Na segunda-feira à tarde, embarquei num trem com destino a Florença (Firenze), com um gostinho de quero mais…

Durante a visita a, guiado pelas lições de Heródoto, fiz alguns registros em fotos e vídeos, depois fiz algumas anotações e pesquisas musicais na internet que resultaram no vídeo, logo abaixo, que é uma forma de compartilhar com o leitor as sensações que vivenciei nestes bons dias em Milão.
Espero que gostem. (para ver em tela grande basta clicar no nome vimeo no canto direito inferior da tela)