REFÉM DO TÉDIO

Fabiana Santos
RECONTA
Published in
3 min readJun 28, 2019

Tudo era mais tranquilo quando eu enfiava as moedas no porquinho da “prosperidade”. Mas fui uma péssima administradora, o lanche da escola era um vilão que fazia eu desviar a verba do porquinho para investir em lanches gordurosos ou comprar garrafinhas com suco artificial congelado, que por sinal eu adorava.

Bem, então, precisei de ajuda para poupar a grana. É agora que a saga tediosa inicia. Cheguei ao banco às 10h06. Na verdade, uma lotérica. Mas acho quase a mesma coisa, ambiente tedioso. Nenhum atendente na mesinha logo na entrada com o nome abertura de conta. Entrei na fila para perguntar se era lá mesmo. Além de ter pesquisado na internet, tinha acabado de ler a placa com letras grandes em uma folha A4, mas eu ainda precisava de certeza.

Após gastar cinco minutos na fila, foi confirmado o que eu já sabia, era ali mesmo. Nesses ambientes eu viro a maníaca do tempo. Sentei e aguardei o atendente, havia apenas uma pessoa esperando pelo mesmo atendimento. Tentei lembrar da determinação sobre o tempo máximo que se deve esperar nesses locais, como não lembrava muito bem, então, deixei quieto. Nunca fui de prestar muita atenção em meus direitos até que precisasse deles. Depois perguntaria para o sr. Google.

Desinquieta, comecei explorar o espaço apenas com os olhos. Vi no alto a foto de um porcão com um sorriso bem largo e brilhante, ele me oferecia a oportunidade de ganhar um milhão em reais, fiz um olhar de desprezo. Porcos, de novo? Não! Continuei percorrendo as paredes e deparei com 24 milhões acumulados. O anúncio ainda dizia que eu poderia ser a ganhadora. Tentador, não é mesmo? Mas acho que ler a “Árvore que dava dinheiro” na infância tinha me deixado desconfiada com ofertas tão graúdas.

Nesse vai e vem de pensamentos sobre apostas, a atendente chegou. Distraí, já não estava tão concentrada no tempo. Foi aí que escutei a atendente responder para a cliente à minha frente que o processo duraria cerca de 30 a 40 minutos, pois o sistema estava lento. Agora sim, parecia que tinha formiga naquela cadeira, comecei ficar desinquieta e achei que a vida passaria e eu estaria ali sentada esperando.

Como já tinha lido tudo nas paredes, comecei observar as pessoas. Se você é uma pessoa que vive conectada à internet e nem notaria o tempo passar, preciso contar que o meu celular estava descarregando, só um tiquinho de bateria e desligaria. Observei a moça apressada que tentou furar a fila e o funcionário na maior paciência do mundo convidou-a ir para o final da fila, ele acompanhou-a, pegava no braço da moça enquanto conversava com ela. Desnecessária a ação touch screen.

De tanto que esperei, a fura fila foi embora e eu fiquei lá feito uma planta encostada naquela cadeira azul. A fila dos prioritários foi aumentando e a outra deu uma diminuída. Lá vem de novo o funcionário paciente. Os últimos idosos foram convidados à mudar de fila, pois tinham atendentes desocupados no atendimento comum. Um idoso recusou a sugestão e começou reclamar de tudo. Durão, feito um vaso de plantas, ele disse que preferia ficar ali mesmo. O funcionário explicou que não havia problema dele ir para outra fila, adiantaria o atendimento, o idoso contestou.

Aquilo era tão óbvio e simples quanto um mais um ser dois. Mas parei de julgá-lo quando lembrei que eu tinha sido teimosa quando ignorei a folha A4 na parede.

Estava exausta de tanto esperar. Quando chegou minha vez não fiquei tão feliz quanto se eu ganhasse o milhão do porco gigante, mas era uma sensação farta de satisfação. Era um até que enfim. Antes que a moça pedisse já tinha colocado todos os documentos em cima da mesa. Ela virou e disse: você tem sorte, o sistema está mais rápido. Nem comemorei, naquela hora só queria que ninguém ouvisse o RONC RONC do meu estômago.

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Fabiana Santos
RECONTA
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Jornalista. Apaixonada por pessoas e suas histórias. Ah! Vivo no sertão da Bahia.