10 Ex-Atrizes pornô revelam a verdade brutal por trás de suas cenas mais populares.

Ninka
Recuse A Clicar
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9 min readSep 10, 2019

Há muitas pessoas na nossa sociedade saturada por pornografia que pensam que que o pornô é apenas um tipo de ‘entretenimento’ individual e inofensivo. Ou ainda, como já ouvimos, que apesar de que assistir pornografia possa fazer mal diretamente para o usuário, não há nada de danoso acontecendo em sua produção.

Essas pessoas frequentemente compram a ideia de que as atrizes pornô realmente são aquelas deusas insaciáveis sedentas por sexo que a indústria do sexo as vende por. Apesar do esmagador número de pesquisas e incontáveis relatos pessoais expondo a realidade sombria da indústria pornográfica, muitos ainda compram a fantasia de que a indústria na realidade trabalha bastante duro para manter.

Muitas pessoas têm uma mentalidade similar à que encontramos no comentário desse rapaz, que nos mandou uma mensagem pelo facebook:

“Vocês são idiotas pra c*. Vão praticar um hobby que inclua mais tomar conta das suas vidas lol Pornografia não machuca ninguém. Ninguém é estuprado ou abusado ou ferido ao fazer pornografia e as pessoas fazem isso porque elas gostam. Cresçam de uma vez.

“Pornografia não machuca ninguém.” “Elas fazem isso porque gostam”.

Essas frases demonstram uma percepção popular no que diz respeito à pornografia, no entanto, uma percepção popularizada nem sempre reflete a realidade. Uma mentira propagada muitas vezes não se torna uma verdade. O fato é que a indústria da pornografia está entupida de violência, drogas, coerção, doenças sejam elas físicas ou mentais, e de exploração. E enquanto uma atriz pornô na ativa no meio raramente irá, se é que irá, falar sobre o assunto abertamente devido ao medo de ser colocada na lista negra da indústria ou sofrer discriminação dentro e fora dela, a maioria das exatas mesmas mulheres inevitavelmente acabam conversando e se abrindo sobre suas experiências reais depois que deixam o meio do comércio sexual. E esses relatos pessoais nunca são glamourosos, bonitos ou agradáveis.

Pra colocar um fim na fachada de “glamour, dinheiro e sensualidade” que muitas pessoas na nossa sociedade compram em relação à indústria da pornografia, nós recolhemos algumas histórias representativas de 10 ex-atrizes pornô e suas reflexões de embrulhar o estômago sobre sua vida fazendo pornô.

*AVISO DE GATILHO: Nós fizemos nosso melhor para encontrarmos citações que não fossem explícitas demais, ao mesmo tempo que ainda preservassem a natureza extrema e seriedade das histórias dessas mulheres. Apesar disso, muitos ainda podem considerar os seguintes relatos como gráficos demais, ou perturbadores, ou que possam servir como gatilho. Cuidado ao prosseguir.*

Alex.

“[Um filme em particular] foi a cena mais brutal, depressiva e assustadora que eu já gravei. Eu tentei bloquear aquilo da minha memória devido ao abuso severo que eu sofri durante a filmagem daquela cena naquele dia. O [ator pornô] tem um ódio natural contra mulheres, no sentido de que ele sempre foi conhecido por ser ainda mais brutal do que o que foi pedido. Eu concordei em gravar a cena, achando que seriam menos agressões do que um isolado soco na cabeça. Mas, se você não percebeu, [ele] estava usando seu sólido anel de ouro durante todo o tempo e ele continuou a me socar com aquilo, de novo e de novo. Eu realmente parei a cena enquanto ela estava sendo gravada porque eu estava sentindo dor demais”.

*Nota do FTND: Em nossa pesquisa, nós descobrimos que a obscenidade e violência da cena que Alex está descrevendo aqui foi tão brutal que fez com que o distribuidor renunciasse a distribuição de todos os outros filmes desse mesmo estúdio. Uma crítica desse vídeo em um site popular de comentários sobre filmes pornô escreveu que o vídeo era um dos “vídeos pornográficos mais moralmente repugnantes que já vi na vida” e que “é o tipo de material que o governo poderia citar quando estivesse tentando prender pornógrafos e proibir a pornografia”.

Alexa

“Como a maioria das atrizes, eu perpetuei essa mentira. Uma das minhas coisas preferidas de dizer quando me perguntavam se eu gostei de filmar alguma cena em particular era, “Eu apenas faço o que eu gosto! Eu não faria se não gostasse!”. (E eu diria isso com um enorme sorriso falso e uma risadinha). Que mentira descabida! Eu fazia o que eu precisava fazer para “trabalhar” na pornografia. Eu fazia aquilo que eu sabia que me ajudaria a ganhar mais “fama” e aceitação naquela indústria”.

Nota do FTND: Vanessa Belmond (nome real) agora é uma voz ativa que denuncia os danos causados na e pela indústria pornográfica, e já participou de muitas fontes de noticiários, documentários e pesquisas. Clique aqui para saber mais sobre sua história.

Jessi

“Foi a coisa mais degradante, embaraçosa e horrível possível. Eu precisei gravar para um DVD interativo, o que levava horas e horas de tempo de gravação, com uma febre de 40 °C! Eu estava chorando e queria ir embora, mas meu agente não me deixava ir, e ele continuava me dizendo que ele não poderia me deixar falhar naquilo. Eu também gravei uma cena onde eu fui colocada com um ator que estava na minha “lista do não”. Eu queria agradá-los, então eu gravei. Ele pisou na minha cabeça […]. Eu me desesperei e comecei a berrar; eles pararam de gravar e me mandaram pra casa com o pagamento diminuído porque eles conseguiram filmar um pouco, mas não toda a cena que eles queriam.”

Andi

“Depois de mais ou menos um ano do que eles chamam de “vida glamourosa”, eu descobri com tristeza que as drogas e a bebida faziam parte do estilo de vida. Eu comecei a beber e ir a festas de forma fora do controle — cocaína, álcool e êxtase eram meus favoritos. Muito rapidamente, me tornei uma pessoa que eu não queria ser. Depois de gravar tantas cenas “hardcore”, eu já não conseguia mais. Eu apenas me lembro de estar em situações horríveis e de experimentar uma depressão extrema, de me sentir sozinha e triste”.

Nota do FTND: Andi deixou a indústria pornô em 2010 e se juntou à Pink Cross Foundation, um grupo de ex-atrizes pornô que começaram a falar abertamente sobre os danos da indústria pornográfica. No entanto, em 2014, Andi anunciou que estaria voltando à indústria pornográfica e ainda está ativa nela.

Regan

“Eu fui chutada para ***… a maioria das meninas começam a chorar porque estão sentindo dor demais… já eu não conseguia respirar. Eu estava sendo agredida e sufocada. Eu estava me sentindo muito mal com aquilo e ele não paravam. Eles continuavam a filmar. [Em um momento eu pedi para desligarem as câmeras] e eles continuaram a filmar.”

Anita

“Eu performei por 14 anos até agora na indústria de filmes adultos em muitos países, estados… em todos os lugares. Eu trabalhei para a maioria das companhias, e estava presente na época em que se detectava um caso de HIV por mês dentre atores e atrizes na indústria, em 1998. Sim, eu estava lá, e eu pude ver aquelas atrizes que ninguém sabe sobre — aquelas que ninguém diz que contraiu HIV, que não são parte das estatísticas — saírem pela porta, parando de serem contadas.
É, tem muita coisa sendo encoberta todos os dias. Muitas tragédias. Muitas coisas horríveis”.

Jan

“É claro que eu mentia para meus fãs. Eu os levava a acreditar que eu vivia uma vida de fantasia, o que era muito longe da verdade. Eu alimentada as fantasias deles. Eu dizia que eu queria sexo 24h por dia, 7 dias da semana, e fazia parecer que eu absolutamente amava o que eu fazia e estava vivendo uma vida feliz. Eu os dei esperança e reflexões sobre seus próprios relacionamentos ao dizê-los o que fazer. E eu comecei a me sentir como uma ninguém sem importância, eles conheciam a Elizabeth [a atriz pornô], mas nunca conheceriam a Jan [a verdadeira eu].

E eu tinha que fazer o que fosse que o produtor queria de mim e eu tinha que aceitar, ou eu não seria paga. Algumas vezes você conseguia uma filmagem e o produtor mudaria ali mesmo o que a cena seria, para torná-la em algo mais intenso e, novamente, se você não gostasse, sinto muito, ou você fazia aquilo ou não receberia nada.”

*Nota do FTND: Jan Villarubia (nome real) eventualmente conseguiu deixar a indústria e trabalhou na Pink Cross Foundation, uma organização que ajudava a reabilitar ex-atrizes pornô, e agora trabalha independentemente em livros e em documentários para espalhar informação e conscientizar as pessoas sobre os riscos da indústria pornográfica e ajudar outras atrizes a sair da indústria.

Jessie

“As pessoas na indústria da pornografia estão dessensibilizadas sobre a vida real e são como zumbis andando por aí. O abuso que acontece nesse meio é completamente absurdo. A forma com que essas jovens mulheres são tratadas é totalmente doentia e dissimuladora. Eu deixei o meio devido aos traumas que eu experimentei ali dentro, mesmo que tenha estado ali por pouco tempo. Eu socializava com muitas pessoas na indústria adulta, todo mundo desde meninas contratadas a atrizes gonzo. Todas ali têm os mesmos problemas. Todas estão nas drogas. É uma forma de vida vazia, tentando preencher algum vazio. Eu me tornei horrivelmente viciada em heroína e crack. Eu sofri de overdose pelo menos três vezes, senti pessoas puxando facas em mim, foi agredida meio caminho até a morte…”

Jenna

“Foi uma tortura que durou 7 anos. Eu era miserável, eu me sentia solitária, eu eventualmente me abri para as drogas e para o álcool e tentei suicídio. Eu sabia que eu queria sair dali, mas eu não sabia como fazer isso”.

“It was torture for seven years. I was miserable, I was lonely, I eventually turned to drugs and alcohol and attempted suicide. I knew I wanted out, but I didn’t know how to get out.”

Nota do FTND: Brittni Ruiz (nome real) conseguiu eventualmente sair da indústria e agora usa sua história para conscientizar as pessoas sobre os riscos da indústria pornô.

Genevieve

“O abuso e a degradação eram duros. Eu suava e sentia dores profundas. Além dessa experiência terrível, meu corpo inteiro doía, e eu me sentia irritada todos os dias, o dia todo. Os diretores realmente não davam a mínima para como eu estava me sentindo; tudo com que eles se importavam era terminar os vídeos”.

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Os danos para as atrizes, para os relacionamentos e para a sociedade

Os danos da pornografia não se limitam para aquelas pessoas em frente das câmeras ou atrás das telas. Existe um corpo de pesquisa crescente que mostra como os consumidores, os relacionamentos, e a sociedade em geral são todos danificados e influenciados negativamente pela pornografia. Esse não é um argumento moral ou raso, é simplesmente um fato a se considerar seriamente. Siga a Recuse A Clicar para ler mais sobre os danos provados da pornografia em todos os âmbitos, e faça uma decisão por si mesmo.


Texto traduzido livremente por mim. ❤ Nina Cenni.
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Ninka
Recuse A Clicar

Cursando PhD em Física. Lutando contra a exploração e violência sexual evidente e inerente à pornografia, prostituição e tráfico humano nas horas vagas.