“As Pessoas Querem Mais ‘Forte’”: Essas Frases Reais de Produtores Pornô são Mais que Perturbadoras.

Ninka
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6 min readMay 4, 2019

Aviso de gatilho.
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Para os consumidores, a pornografia às vezes se parece com um mundo de fantasias de prazer e emoções. É algo inteligentemente propagandeado como um fluir infinito de mais sexo, sexo melhor, e sexo mais ‘quente’. Sendo uma indústria global estimada em $97 bilhões de dólares por ano, a pornografia é uma das formas mais popularizadas de ‘entretenimento’ dentre de todas as principais plataformas de mídia. No ano passado, o principal site de pornografia online gratuita recebeu mais de 28.5 bilhões de visitas, e em 2016, exibiu em torno de 4.3 bilhões de horas de conteúdo pornográfico para seus usuários. Pornô em realidade virtual está agora chegando em ondas como uma nova fronteira para o ‘entretenimento adulto’, e os produtores pornô estão consistentemente puxando os limites para produzir cada vez mais material novo e mais chocante.

O Objetivo Final de um Produtor Pornô: Seu Dinheiro, Visualizações, e Seu Tempo

Pense sobre isso — o primeiro e único foco da indústria pornográfica é fazer dinheiro. Não é realmente “apimentar” sua vida sexual, te fornecer um entendimento saudável sobre sexo e consentimento, ou te ajudar a respeitas mulheres ou homens.

Por trás dos novos atos sexuais e títulos explícitos estão times de pessoas responsáveis por alimentar essa máquina produtora de dinheiro. Os produtores de pornografia têm todo o incentivo que precisam para criar o produto mais extremo disponível para então poder competir com um mercado inundado e, assim, fazer dinheiro.

Em nossos anos de educar as pessoas sobre os efeitos danosos da pornografia usando ciência, pesquisas, estudos e relatos pessoais, nós nos deparamos diversas vezes com pessoas que já tiveram envolvimento direto com a indústria pornográfica. Além disso, aqueles que estudam e produzem pesquisas sobre a realidade dessa indústria frequentemente descobrem verdades chocantes sobre as ideias, atitudes e motivações obscuras e detalhadas que dirigem a pornografia para novos territórios por detrás das câmeras.

Para mais informações a respeito disso, assista ao episódio três da série documental de três partes do FTND, chamado “Brain, Heart, World (ou “Cérebro, Coração, Mundo”; t.l. — infelizmente disponível apenas em inglês; n.d.t.). Você pode se surpreender com o que aprenderá sobre essa indústria.

Uma indústria de violência

No livro Coming Attractions: The Making of an X-Rated Video (algo como “Próximas Atrações: A Produção de um Filme para Maiores”; NdT), Dr. Robert J. Stoller, um dos principais especialistas em comportamento sexual humano, se junta a I. S. Levine, um escritor profissional com longa experiência na produção de vídeos para maiores de 18 anos, para examinar as ideias e estruturas psicológicas dos participantes do pornô. No livro, os autores entrevistam o produtor pornográfico Bill Marigold, que os diz:

“Eu gostaria de mostrar o que eu acredito que os homens queiram ver: violência contra mulheres. Eu firmemente acredito que nós servimos nosso propósito ao lhes mostrar isso. O mais violento que podemos chegar é o **** no rosto. Os homens gozam através disso, porque assim eles ficam quites com as mulheres que eles não podem ter. Nós tentamos inundar o mundo com **** no rosto.”
-Bill Marigold, citado no Robert J. Stoller e I. S. Levine, Coming Attractions: The Making of an X-Rated Video (New Haven, CT: Yale University Press, 1993) p. 22.

(* Isso era o que existia de mais violento no pornô na época (veja a data de publicação). Hoje em dia, os atos ficaram muito mais violentos e extremos, com tendência a piorar. N.d.T.)

Robert Jensen, um professor associado na Escola de Jornalismo da Universidade do Texas em Austin, escreveu um livro chamado Getting Off: Pornography and the End of Masculinity (algo como “Gozando: Pornografia e o Fim da Masculinidade; N.d.T). Nele, ele entrevista Paul Hesky, o CEO de uma companhia produtora de pornografia, que diz:

“Essencialmente isso vem de todos os homens com casamentos infelizes, e ele olha para a sua esposa que só resmunga com ele sobre isso ou sobre aquilo e sobre qualquer coisa, e ele diz, “eu gostaria de te ***** no ****”. Ele está bravo com ela, certo? E ele não pode fazer aquilo, então ele prefere assistir alguma mulher recebendo aquele ***** e fantasia naquele momento que ele está fodendo qualquer mulher que foi ruim com ele naquele dia em particular, e essa é a atração, porque quando as pessoas assistem anal, ninguém quer assistir uma mulher que está gostando do anal”.
-Paul Hesky, citado em Robert Jensen, Getting Off: Pornography and the End of Masculinity (South End Press, 2001) p. 58.

As duas citações acima são apenas duas de muitas outras, que refletem as atitudes sexistas e sexualmente agressivas que a indústria pornográfica produz e com as quais fatura diariamente. A indústria pornô não prospera mostrando pessoas fazendo sexo, ela lucra mostrando atos sexuais extremos, violentos e chocantes que retratam serem humanos como objetos sexuais menos-que-humanos. O artigo do LA Times de título Internet porn is an experiment in dehumanization (ou O Pornô Online é um Experimento em Desumanização, t.l.) coloca isso perfeitamente: “As mulheres ali não são nada mais que orifícios destinados ao uso e abuso dos homens, e os homens não são nada mais que falos anônimos que demandam serem servidos”.

Outras Frases Perturbadoras

Existem incontáveis outras falas do produtores pornô falando francamente sobre sua linha de trabalho. Aqui estão apenas mais algumas:

  • “As pessoas só querem algo mais forte, mais forte, e mais forte, porque como disse o Ron, o que você vai fazer em seguida?” — Jerome Tanner, “AVN Directors Roundtable,” Adult Video News, January 2003
  • “Algumas vezes nós fazemos um ****, onde a menina está fazendo um ****, e ela está engasgando tanto que ela vomita… É repugnante. Sim, é. Nós temos toneladas de coisas pelas quais eles tecnicamente poderiam nos prender. E quando isso aconteceu, eu só coloquei no nosso website — eu fiz um grande discurso: “Eu dou boas vindas ao LAPD (departamento policial de Los Angeles) se quiserem vir”. Eu disse, “venham e me peguem”, eu disse, “Porque não vamos cair sem lutar. Nós vamos lutar por isso. Não importa o preço, nós vamos lutar. Nós vamos espalhar isso pelo mundo”– Rob Black, PBS Frontline, PBS.org
  • “As pessoas querem mais. Elas querem saber quantos **** você consegue enfiar dentro de uma ******…. É um encontro do Fear Factor com Jackass. Fazer mais forte, mais extremo, mais nojento, mais insaciável. Os caras fazem a diferença. Você precisa de um bom cara, que já está por aí e pode dar uma boa cena, ***** elas com força. Eu fiz meu dever de casa. Esses caras são intensos. — Mitchell Spinelli, Adult Video News, September 2004

Porquê isso importa

A indústria pornográfica quer que você acredite que eles simplesmente providenciam um serviço para a sociedade. Eles querem que você acredite que as atrizes gostam daquilo que estão fazendo, que elas são bem tratadas, bem pagas, e seguras. Eles querem que você acredite que suas intenções são boas.

Elas não são.

Frases como essas acima fazem algo abundantemente claro: a indústria pornô só se importa com ela mesma. Ela se importa com sua verba, não com as atrizes ou com os consumidores. Ela se importa com a saúde e alcance da indústria, não com a saúde dos usuários. Ela se importa com o lucro, não com as consequências de consumir pornografia constantemente.

A indústria pornô não se importa com as pessoas mais do que ela se importa com seu produto. Essa é uma indústria ou forma de entretenimento que nós deveríamos estar idolatrando e normalizando na sociedade?

“A violência não é um efeito colateral da pornografia — ela é o objetivo”. t.l.


Traduzido livremente por mim ❤ Nina Cenni.
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Ninka
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Cursando PhD em Física. Lutando contra a exploração e violência sexual evidente e inerente à pornografia, prostituição e tráfico humano nas horas vagas.