Estrangulamento no sexo pode aumentar o risco de acidente vascular cerebral e lesões cerebrais, revela inquietante estudo

Iza Forzani
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4 min readAug 29, 2022

‘É assustador. Causa terríveis danos psicológicos e físicos. É diferente de outras formas de violência, pois muitas vezes não deixa sinais visíveis’, diz ativista

Ativistas pediram que o governo inclua a nova agressão conhecia por ‘estrangulamento não fatal’ no projeto de lei de abuso doméstico que está sendo considerado pelos deputados na quinta-feira para combater o número crescente de assassinos que alegam que mulheres morreram durante ‘sexo violento’ (iStock)

O estrangulamento durante o sexo pode aumentar o risco de acidente vascular cerebral e lesões cerebrais, mesmo que a pessoa não perca a consciência, alertam os cientistas enquanto os parlamentares debatem essa preocupante prática.

Ativistas pediram que o governo inclua como novo crime a prática de “estrangulamento não fatal” no projeto de lei de abuso doméstico, que vai ser debatido pelos deputados nesta quinta-feira, em uma tentativa de combater o número crescente de assassinos que alegam que mulheres morreram enquanto praticavam “sexo violento”.

Uma nova e preocupante pesquisa, primeira desse tipo, descobriu que é comum que o estrangulamento não deixe indicações visíveis de ferimentos, mas as vítimas podem sofrer sintomas dias ou mesmo semanas após o incidente.

Pesquisadores da Bangor University e médicos do North Wales Brain Injury Service descobriram que as repercussões físicas do estrangulamento podem incluir parada cardíaca, derrame, aborto espontâneo, incontinência, distúrbios da fala, convulsões, paralisia e outras formas de lesão cerebral de longo prazo.

“Já sabíamos do potencial de lesão pelo relato das vítimas”, alerta o estudo. “Mas, pela primeira vez, se resumiu as evidências médicas na íntegra de modo convincente e terrível.”

Um número crescente de mulheres está sendo gravemente ferida e morta nos chamados “jogos sexuais que deram errado”. Em 1996, duas mulheres por ano eram mortas ou feridas durante o que os réus chamavam de “sexo violento consensual”, mas esse número subiu para 20 mulheres em 2016, o que representa um aumento de dez vezes.

Os pesquisadores disseram que o estrangulamento é considerado a segunda causa mais comum de acidente vascular cerebral em mulheres com menos de 40 anos.

O estudo descobriu que mais de 50% das mulheres submetidas a abuso doméstico rotineiros sofreram estrangulamento e até 20% das mulheres que sofreram agressão sexual foram estranguladas. De outro lado, se um mulher for estrangula, a chance de ela consequentemente ser assassinada é aumentada em oito vezes.

O estrangulamento foi considerado um crime predominantemente de gênero — com investigadores que examinaram 300 registros forenses em San Diego encontrando 298 incidentes envolvendo um homem estrangulando uma mulher.

Pesquisadores alertam que o pescoço é “alarmantemente frágil”, pois observam que “bloquear a veia jugular pode exigir menos pressão do que abrir uma lata de Coca-Cola”.

O estudo descobriu que as vítimas podem perder a consciência em um espaço de tempo tão curto quanto quatro segundos de pressão arterial — explica que a perda de consciência demonstra que a pessoa sofreu pelo menos uma lesão cerebral leve.

A consciência foi perdida entre 17% e 38% dos episódios de estrangulamento estudados pelos pesquisadores.

Louise Perry, porta-voz do We Can’t Consent To This, um grupo de campanha que fez uma extensa pesquisa sobre a tese defensiva do “sexo violento”*, disse ao The Independent: “O estrangulamento não fatal é terrivelmente subnotificado. Muitas vezes é uma característica de abuso doméstico e agressão sexual.”

“Os perigos do estrangulamento são muitas vezes ignorados. Mas é assustador. Causa terríveis danos psicológicos e físicos. É diferente de outras formas de violência, pois muitas vezes não deixa sinais visíveis. Apoiamos absolutamente as emendas que estão sendo apresentadas pelo Center for Women’s Justice para tornar o ‘estrangulamento não fatal’ um crime separado”.

Embora as diretrizes elaboradas pelo Crown Prosecution Service (CPS) sobre ‘estrangulamento não fatal’ digam que ele deve ser julgado como uma agressão grave, geralmente não é esse o caso. Em 45% dos casos em que um homem mata uma mulher durante o sexo e alega que ela deu seu consentimento, a tese defensiva do sexo violento é bem-sucedida, o que leva o assassinato a ser processado por homicídio culposo ou nem mesmo considerado crime.

O Center for Women’s Justice, uma instituição de caridade que combate a violência contra as mulheres, apresentou uma emenda ao projeto de lei de abuso doméstico que está sendo debatido pelos parlamentares na quinta-feira para incluir o novo crime de “estrangulamento não fatal”.

Isso ocorre um dia depois que We Can’t Consent to This revelou que 67 vítimas foram levadas ao tribunal durante a última década para negar terem dado seu consentimento em serem estranguladas, agredidas ou submetidas à violência.

Os ativistas alertaram que “os perpetradores desse tipo de asfixia com muita frequência” conseguem usar com sucesso a tese defensiva do “sexo violento”.

A organização disse: “Os casos judiciais envolveram mulheres cujos agressores alegaram ter havido consentimento em atos como afogamento, ferimentos, eletrocussão, estrangulamento e asfixia, tapas, espancamentos, socos e chutes e, em um caso, uma espingarda disparou nas partes íntimas de uma mulher. Em cada um desses casos, a vítima insistiu que não consentia com a violência”.

Boris Johnson prometeu acabar com a “a tese defensiva do “sexo violento” ao ser questionado na quarta-feira, depois que a deputada conservadora Laura Farris disse: “Quando homens que matam suas parceiras em atos de violência com asfixia durante o sexo dizem no tribunal que ‘ela pediu por isso’ e evitam uma condenação por assassinato, será que agora ele concorda que é a hora de se acabar com a tese defensiva do sexo violento?

Johnson respondeu: “Ela levanta um ponto incrivelmente importante e nós estamos comprometidos em garantir que a lei seja esclarecida nesse ponto e que essa tese defensiva não seja mais aceita.”

Link da matéria original aqui.

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Iza Forzani
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Uma pessoa que se importa muito com tudo e amante dos animais.