‘Eu estava realmente me esforçando para chegar lá’: por que os homens mais jovens estão se voltando para o Viagra
Mais homens em seus vinte e trinta anos estão tomando pequenas pílulas azuis para uma variedade de problemas sexuais, desde disfunção erétil até ansiedade sobre seu desempenho no quarto. Ben Bryant fala com usuários, médicos e conselheiros de relacionamento sobre um fenômeno muito curioso.
Após o término de um relacionamento de cinco anos, James estava nervoso em se relacionar novamente. Ele tinha 27 anos, era saudável e tinha uma boa vida sexual. Mas quando se tratava de dormir com novas pessoas, ele estava experimentando “ansiedade de desempenho”. “Eu estava realmente esforçando para conseguir chegar lá”, diz ele. “Cheguei a um ponto em que estava fazendo sexo com muitas pessoas com uma taxa de erro de 75%”. James assumiu que o problema era apenas nervos. Ele não procurou o conselho de seu médico. Em vez disso, ele começou a se automedicar com sildenafila— mais conhecido como Viagra. Funcionou instantaneamente.
“Quando você toma, você pode realmente se concentrar em aproveitar o sexo e curtir o momento”, diz ele, “em vez de pensar: ‘Oh meu Deus, meu p** está falhando. Não! Não! Não pare! Continue!” Quando ele começou a ser relacionar com uma nova pessoa, no entanto, James sentiu uma necessidade ainda maior de usar a droga. Para ter a certeza de que ele não seria uma decepção, e ao sentir que eles estavam prestes a fazer sexo, James decidiu que — só para ter certeza — ele iria “dropar duas vezes” duas pílulas de 100mg de força máxima. Sua nova parceira, porém, não estava de bom humor e adormeceu ao lado dele.
“Eu senti que meu pênis estava prestes a explodir”, diz James. “Eu estava incrivelmente fadigado.” Ele se lembra dos capilares sanguíneos na superfície de seus olhos entrando em foco enquanto ele olhava para a escuridão. Ele estava profundamente desconfortável. “Eu precisava fazer xixi”, diz ele, “e então eu estava fazendo xixi provavelmente a cerca de dois ou três metros de distância para cair na privada”.
Agora na casa dos trinta, James ainda toma Viagra regularmente. Ele nunca contou a sua parceira o que tinha feito. E nesse ponto, ele não está sozinho. Ele estima que até metade de seus amigos do sexo masculino lhe disseram que tomam Viagra, e ainda suspeita que mais o fazem, só que em segredo. Alguns, como Josh, 27, admitem tomar principalmente como uma droga recreativa para melhorar a experiência sexual — “Eu tentei e foi como se eu tivesse 14 anos novamente”. A pílula geralmente está associada a homens mais velhos. Mas um número crescente de homens com menos de 50 anos também está tomando sildenafila.
Os possíveis efeitos colaterais incluem uma redução na eficácia da medicação ao longo do tempo, bem como em resultados mais graves. “O uso a longo prazo do Viagra pode potencialmente aumentar o risco de dependência psicológica e também tem sido associado a vários problemas que afetam os sistemas auditivo e visual e a visão”, diz Shirin Lakhani, médica que oferece tratamentos especializados para disfunção erétil em sua clínica particular em Londres. “Os efeitos colaterais graves de curto prazo incluem derrames e ataques cardíacos em casos muito raros, bem como diarreia e gastrite”.
Os números divulgados ao The Independent pela empresa farmacêutica Viatris mostram que, entre maio de 2020 e maio de 2021, o Viagra Connect vendeu mais de sete milhões de comprimidos no Reino Unido. Segundo a empresa, mais de 60% dos usuários do Reino Unido têm entre 25 e 54 anos.
A droga é muito mais acessível do que costumava ser graças a um relaxamento dos controles. O Viagra Connect, lançado em 2018, é um medicamento de venda livre que pode ser obtido sem receita médica. Tornou-se tão popular que no mês passado a Boots anunciou o lançamento de sua própria versão genérica, que terá um preço mais barato do que da marca mais reconhecida. A sildenafila genérica também pode ser comprada online com receita médica, que pode ser obtida com relativa facilidade respondendo a uma breve consulta. “De nossa base personalizada de disfunção erétil, 9% estão na casa dos vinte e 21% na casa dos trinta”, diz Abbas Kanani, farmacêutico online.
Isso se soma a muitos usuários jovens. E embora a disfunção erétil ainda seja um tema que é um tanto tabu entre os homens jovens, parece ser muito comum. De acordo com um estudo de 2018, cerca de metade dos homens britânicos na faixa dos trinta anos relatam dificuldades para ter ou manter uma ereção. Como James, no entanto, os jovens com disfunção erétil não estão necessariamente conversando com seu médico sobre isso. “Na minha função como clínico geral do NHS (NT: tipo o SUS do Reino Unido), quase não vejo homens na faixa dos vinte e trinta anos com disfunção erétil”, diz Luke Pratsides, que também trabalha para um site comercial de saúde masculina. “Isso provavelmente ocorre porque os homens jovens não procuram os métodos tradicionais de saúde e talvez não queiram interagir com várias pessoas para discutir a função sexual, o que para muitos pode ser difícil de falar”.
Ao ignorar os médicos, os homens estão perdendo um diagnóstico adequado. James nunca perguntou ao seu médico sobre a causa subjacente de sua disfunção erétil — mas ele suspeita que está experimentando algum nível de ansiedade sobre o desempenho. Isso é comumente definido como homens que não necessariamente têm um problema toda vez que fazem sexo, ou quando se masturbam, mas que — como James — ficam mais confiante em saber que a pílula os ajudará se ficarem presos numa espiral broxante de negatividade. “Se eu for dormir com alguém pela primeira vez, fico ansioso, então aceito”, diz James. “Mas com o tempo eu fico mais confortável perto delas — e então eu não preciso mais disso.”
A ansiedade sobre o desempenho é uma causa comum, mas pouco discutida, de disfunção erétil, de acordo com Peter Saddington, terapeuta sexual que trabalha no departamento de Andrologia do Sheffield Royal Hallamshire Hospital. “A ansiedade libera uma substância química no cérebro que tem um efeito adverso nas ereções. Vai contra sentir-se relaxado e sexual”, explica ele. O problema é muitas vezes exacerbado pela excitação de fazer sexo com alguém pela primeira vez. “O corpo interpreta a excitação como também próxima da ansiedade, porque você está conhecendo uma nova pessoa.”
“A certa altura”, observa Saddington, até a sildenafila deixará de funcionar. “Viagra não te dá uma ereção; facilita o processo natural, então se você está ficando cada vez mais ansioso, eventualmente sua ansiedade pode anular o efeito da sildenafila.”
James diz que sempre se sente ansioso com seu desempenho sexual — mas especialmente quando está com uma nova parceira — e lembra da primeira vez que ouviu algumas de suas amigas falando sobre sexo. “O que é dolorosamente óbvio para mim é que as mulheres na casa dos trinta são obcecadas e se divertem com as minúcias da anatomia masculina”, diz James. “A circunferência, comprimento, movimento. Absolutamente tudo é analisado — e com muito prazer — na frente de suas amigas. Então, tendo testemunhado isso — em uma mesa com pessoas com quem eu realmente dormi — estou ciente de quanta pressão existe para se entregar um bom sexo.
Link da matéria original aqui.
