“A pornografia entrou traiçoeiramente e de fininho em nossas casas e criou nossa filha”

Por Diana*

Meu marido Gary e eu temos três filhas em idades similares. Nossa mais nova, Monica, que acaba de completar 18, é doce e gentil e super inteligente na escola — mas era nossa “rebelde”. Nós pensávamos que estávamos dando conta de lidar de forma saudável com sua pré-adolescência e adolescência, mesmo trabalhando com acompanhamento profissional em algumas ocasiões (quando ela não queria se abrir para nós), de forma geral pensávamos que ela estava indo bem.

Aos 8 anos, Monica estava jogando jogos online em seu tablet, e a pornografia a encontrou. Ela não contou para ninguém. Ela pensou que era algo que ela deveria saber, mas nunca perguntou a ninguém e manteve aquilo em segredo. Ela passou a assistir mais e mais pornografia online gratuita com o passar dos próximos anos, sem nosso conhecimento.

Monica se tornou sexualizada em uma idade muito jovem. Queria usar unhas postiças, salto alto, maquiagem e roupas “sexy” desde os 9 ou 10 anos. Ela tirava fotos “fashion” de si mesmas em poses provocativas e, quando as encontrávamos, nós ensinávamos a ela sobre o que era “aceitável” e o que “não era”. Ela não parou de tirar fotos similares, apenas as manteve melhor escondidas. Nós culpávamos a mídia, a pressão feminina, mas sempre tivemos dificuldade de entender o que estava realmente passando com ela e não conseguíamos dizer exatamente o que era.

Nós monitoramos sua atividade online mas, mesmo assim, Monica estava sempre dois passos à frente. Sair de fininho de seu quarto quando estávamos dormindo para usar um celular ou o computador, usar a internet de outras pessoas, e ter um celular secreto eram algumas das coisas que ela fazia para acessar o mundo online e redes sociais.

Aos 12 anos, ela começou a se autoflagelar. Ela dizia que odiava sua vida, e me odiava por ser estrita demais com ela, e a esse ponto, já estávamos discutindo constantemente sobre todas aquelas coisas que ela queria fazer e como queria se vestir.

Monica não conseguia aceitar o porquê de não deixarmos que ela fizesse coisas como ir dormir em casas de amigos onde estariam meninas e meninos misturados, ou ir para a casa de pessoas que não conhecíamos nada ou quase nada, “passear” com seus amigos sem supervisão quando desconfiávamos do que eles realmente iriam fazer, o porquê não queríamos que ela fosse para festas a noite sem supervisão de adultos. O porquê de sermos tão estritos sobre o que ela usava para se vestir, e principalmente o porquê de sermos tão estritos com seu uso do celular.

Quanto mais monitorávamos suas ações e comportamento online, quanto mais dávamos a ela qualquer forma de disciplina ou consequência por comportamentos inapropriados que descobríamos, ou se apenas tivéssemos uma discussão sobre o assunto — mais e mais sorrateira ela se tornava. Nós mal conhecíamos suas amizades.

Nós não sabíamos naquela época que ela estava buscando desesperadamente se tornar sexualmente ativa. O comportamento piorou. Aos 14 ela começou a depilar seus pelos pubianos completamente. Ela manteve isso em segredo.

Aos 14 ou 15 anos, nós interceptamos uma conversa sexual por mensagens em seu celular. A princípio, apenas palavras e mensagens, tinha discussões com meninos sobre masturbação, sexo e pornografia. Tudo sem sabermos. Nessa idade ela já tinha algum contato sexual com o sexo oposto (masturbação mútua). Eu estava ouvindo rumores sobre ela exibindo comportamento “vulgar”, e tinham me contado que ela permanecia grande parte das noites em viagens escolares nos quartos dos garotos. Quando tentei conversar com ela sobre o que eu estava ouvindo, ela veementemente negou ter feito aquelas coisas e disse que eram mentiras. Aos 16 ela começou o uso de álcool em festas. Ela dizia que aquilo a ajudava a conversar com os garotos e se sentir mais confortável nas festas.

Aos 16 anos ela também estava fazendo sexo secretamente. Sua primeira experiência sexual foi com um garoto que ela conheceu em uma festa, menos de uma hora depois de conhecê-lo. Aconteceu em uma viela perto do local da festa. Ela praticou sexo oral desprotegido e sexo vaginal. Sua segunda experiência sexual foi fazer sexo oral em um garoto em um banheiro público. Assim começou a sua experiência.

Ela continuou a “ficar com” meninos dessa forma, completamente em segredo, escapava de casa a noite enquanto dormíamos para encontrar garotos em estacionamentos, teve sexo com um e depois outro em uma mesma noite em duas ocasiões que ficamos sabendo. Ela até mesmo pegou um táxi no meio da noite para a casa de um garoto que não conhecia pessoalmente. Ele nem mesmo pagou por esse táxi.

Sua saúde e segurança não eram preocupações que ela tinha, mesmo ela se sentindo usada e vazia depois. Tudo que víamos é que ela estava frequentemente cansada, ansiosa, e estava rapidamente desenvolvendo um extremo problema de autoestima e não conseguia ver seu valor. Ela nos contava muito pouco sobre seu mundo social e gastava bastante tempo no celular.

Nós não entendíamos como aquilo podia acontecer, já que éramos pais amáveis e que dávamos suporte a nossas filhas. Afinal de contas, não providenciamos ajuda profissional quando foi necessário? Pensávamos que ela estava sendo aberta e honesta. Quantas vezes tivemos aquelas conversas sobre sexo, namoro, respeito, relacionamentos e amor? Porque isso estava acontecendo com uma de nossas filhas, quando nossas outras filhas não tinham passado por nada disso?

Já nessa época, Monica estava regularmente compartilhando nudes, fotos pornográficas e infantilizadas extremamente claras dela mesma para garotos, e eles mandavam fotos deles mesmos em resposta. Ela estava levando uma vida dupla, e mentia constantemente para disfarçar.

Em um dia de semana no começo desse ano, eu inesperadamente passei em casa vindo do trabalho, e encontrei Monica, agora com 17, fazendo sexo em nossa casa depois da escola, com um garoto que hoje sabemos tinha problemas com surtos de raiva, violência e uma fascinação pelo suicídio. Ela o encontrou em uma rede social e o convidou para nossa casa para o encontro sexual. Foi um ponto crítico. Muito aconteceu desde então. Monica havia mentido sobre seu comportamento sexual e online pela maior parte de sua vida, então esperávamos que mais fosse revelado com o passar do tempo, quando ela se sentisse pronta para falar sobre isso.

É provável que ela agora estará em um tratamento psicológico por bastante tempo, talvez anos. Hoje ela entende como a pornografia a afetou, e ela desabafa sobre como ela está desesperada para parar de se sentir como se sente, e para parar de fazer as coisas que fazia.

Ela (e nós) estamos aliviados ao achar uma explicação, a entender que ela foi uma vítima quando ainda muito jovem, e que ela seguiu sua vida como seguiu como um resultado de ter sido aliciada para dentro do mundo da pornografia por causa de um contato inocente e acidental. Nós, como pais, também precisamos buscar nossa própria ajuda profissional para conseguirmos lidar com a realidade sobre o que aconteceu. Nossa feliz e “perfeita” família foi danificada com vergonha, medo e arrependimentos.

A culpa que estamos sofrendo como pais é excruciante, especialmente por causa da maneira como nós mesmos tratamos Monica, ou a disciplinamos por seu comportamento inapropriado, comportamento que não estava de acordo com nossos valores como família. Nós a castigamos, removemos privilégios, e ficávamos frustrados e rancorosos com ela quando nenhuma dessas medidas fazia nenhuma diferença.

Isso só aumentou o problema dela e nossa capacidade de nos comunicarmos com ela. Em seus olhos, éramos inimigos. Em seus olhos, nossa disciplina era abuso. Ela pensava que merecia aquela sua “liberdade” sexual, e que nós éramos um fator que a impedia de tê-la.

Monica esteve planejando se mudar de nossa casa assim que pudesse, para ir para a Universidade. Ela então seria livre para ter tanto sexo quanto gostaria, quando gostaria. Mesmo que, agora, ela admita o quanto se sentia usada. Monica não estava preocupada sobre como ela iria se manter, ela tinha pesquisado que ela podia se tornar uma stripper, e aparentemente se sustentar com aquilo.

Ela claramente pensava que poderia viver da mesma maneira que vivia em nossa casa, ainda vestindo roupas caras, tendo muitos sapatos e comprando maquiagens caras. O que ela não entendia era como a indústria da pornografia mente sobre o sexo e sobre a própria indústria. Esperamos de todo coração que hoje ela entenda.

Em um tempo onde sua vida deveria estar se abrindo para numa novos e emocionantes tempos com a maioridade, com seu último ano na escola e com a faculdade logo ali, nossa linda e amada filha está em sofrimento emocional e psicológico. Nós vivemos com medo de que as imagens que ela mandou, e que hoje se arrepende, se tornem públicas.

Somos gratos que ela não passou por estupros, não foi morta ou sequestrada, dado seus comportamentos de risco. Monica estava potencialmente por um triz de entrar no mercado do sexo, e nós somos extremamente gratos que isso não chegou a acontecer, e que ela promete que não se envolveu com outras drogas senão o álcool.

Somos gratos por sabermos hoje o que guiou seu comportamento por tantos anos, quando mesmo vários psicólogos e conselheiros escolares eram incapazes de determinar ou detectar a causa daqueles problemas, porque ela também não compartilhava todas as informações com eles.

A pornografia se esgueirou sorrateiramente para dentro de nossa casa e criou nossa filha.

Monica ainda aceita ocasionalmente pedidos de amizade no Facebook de garotos que ela nunca encontrou e nem mesmo tem amigos em comum. Mesmo hoje ela estando consciente dos perigos da internet, ela se acredita super esperta, e que basta “estalquiá-los” um pouco para ver se são genuínos. Ela ainda tem conversas casuais com eles. Em uma conversa que ela concordou em se mostrar, o assunto rodeava palavreados sexuais, péssimas e óbvias cantadas, e o garoto até mesmo perguntou se algum dia ela iria se encontrar com ele em sua cidade. Monica não concordou, mas mesmo assim perguntou se ele viria para a nossa. Ainda bem, isso nunca aconteceu.

Ela ainda se comunica diariamente via snapchat com meninos que tiraram vantagem dela, até mesmo com um deles que, “depois de acabar com ela, a entregou para seu amigo para que ele experimentasse”. Ela não consegue nos dizer o porquê de não parar de se comunicar com essas pessoas, e até mesmo deu um abraço amigo quando nos encontramos com ele por acaso recentemente. Ele tirou vantagem dela e ela não entende porque a aconselhamos a bloqueá-lo das redes sociais. Ela ainda passa boa parte do dia nas redes, e se comunica muito pelo snapchat, cujas imagens compartilhadas são irrastreáveis.

Monica ainda agoniza sobre sua aparência, sobre o que ela veste, com seu cabelo, com maquiagem. Ela poderia gastar horas se preparando para uma festa. É ainda incrivelmente importante para ela que ela se pareça o tão sexy quanto possível quando sai de casa. Mesmo tendo parado de se colocar em situações sexuais de risco, Monica ainda batalha com sentimentos de baixa autoestima e autovalor. Ela flutua entre momentos de felicidade com novos amigos e a esperança de um novo futuro na Universidade, para sentimentos de tristeza e profundo desamparo, até mesmo pensamentos ocasionais sobre suicídio. Temos um longo caminho pela frente. Um caminho que vamos trilhar.

Nós não podemos parar o papel que a tecnologia tem em nossas vidas, mas acreditamos que o governo e leis apropriadas podem para muito do mal que acontece online, muito do que hoje pode ser achado com facilidade mas não deveria.

O último ano também me fez perceber que nossa família está longe de ser a única atingida. Esse tópico ainda está sendo abafado ou negligenciado por ser associado culturalmente com vergonha e culpa — mas ele está aí. Existem provavelmente centenas de famílias por aí sofrendo como nós sofremos. É incrível como completos estranhos desabafaram comigo sobre o assunto e sobre suas próprias filhas. Eu acredito que seja mesmo uma epidemia. Eu espero que outros tenham a coragem de falar sobre isso e de contarem suas histórias, para que esse cenário possa ser parado, ou ao menos controlado como possível.

Eu espero poder usar nossa experiência pessoal para ajudar e alertar outras famílias que isso pode acontecer tão facilmente nas famílias mais normais e estáveis.

*Nome mudado por privacidade.*

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Traduzido livremente por mim ❤ Nina Cenni.
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Ninka
Recuse A Clicar

Cursando PhD em Física. Lutando contra a exploração e violência sexual evidente e inerente à pornografia, prostituição e tráfico humano nas horas vagas.