Pornografia é prostituição gravada e totalmente descriminalizada. E isso não a torna segura.

Sendo uma sobrevivente do comércio da exploração sexual, tanto dentro da prostituição quanto da indústria pornô, eu acho que a afirmação de que ‘a descriminalização de terceiros, como os cafetões, é necessária para “manter as mulheres seguras”’ é absolutamente ridícula.

Aqui está o porquê.

No Reino Unido, a indústria pornográfica é em grande parte completamente descriminalizada. Apenas pornografia que contenha abuso infantil, necrofilia, bestialidade ou atos que ponha em risco a vida de alguém está sujeita às leis criminais que dizem respeito a sua distribuição ou posse.

Vista como uma indústria comercial e meio de negócios legítimos que alguém poderia esperar que ela fosse, se as afirmações dos lobistas fossem verdadeiras, a pornografia seria a área mais segura do comércio sexual para as mulheres presentes.

Isso não é verdade.

Em minha experiência a indústria pornográfica foi de longe a forma de prostituição mais abusiva e tóxica com a qual eu me envolvi. O fato de que ela era ‘legal’ não me deu ‘direitos trabalhistas’ reais como uma ‘atriz’, mas me proveu um ambiente não regulamentado para que os cafetões e pornógrafos abusassem de mim e me explorassem de acordo com suas vontades.

Esse era um segredo em aberto. No época em que eu estava envolvida, as duas atrizes pornô mais procuradas tinham sido originalmente traficadas para dentro da indústria com 14 e 15 anos de idade. Eu escutei a busca de RG’s falsos para menores de idades ser discutida dentre os pornógrafos e entreouvi uma conversa onde foi dito que mulheres jovens ‘frescas dos sistemas de ajuda social’ eram as que mais tinham probabilidade de serem favoráveis à ideia de adentrar para a indústria. Eu nunca escutei alguma condenação desse abuso em flagrante e aliciamento de meninas e jovens mulheres vulneráveis por parte daqueles — principalmente homens — que organizavam, produziam e distribuíam filmes pornôs.

A pornografia não é diferente em essência da prostituição; existem outras pessoas envolvidas e uma delas tem uma câmera que grava cada minuto do abuso praticado, mas no fim ela é simplesmente prostituição na frente das câmeras. Há também uma boa superposição quando falamos sobre quem são as pessoas envolvidas. A maioria das atrizes pornô também são ‘acompanhantes’, e vice versa. Muitos dos pornógrafos que eu conheci eram também administravam ‘agências de acompanhantes’, bordéis e sites de publicidade. Os bordéis eram claramente considerados o negócio mais arriscado, já que eles são ilegais no Reino Unido. Os descriminalizar não fará com que as mulheres exploradas neles se tornem nem um pouco menos vulneráveis ao abuso, mas colocará mais ‘lucro legítimo’ nas mãos daqueles que já estão sexualmente explorando e abusando de mulheres e, muito frequentemente, de garotas.

Que a pornografia está se tornando mais e mais violenta não é um segredo, no entanto eu muito frequentemente ouço a desculpa de que é “apenas atuação”.

Não é apenas atuação. A garota que está sendo sufocada realmente está sufocando. A mulher no vídeo de ‘anal doloroso’ realmente está pedindo para que o homem que a está analmente estuprando pare, porque está doendo. A dica está no nome. ‘Abuso facial’, ‘estupro coletivo’ e ‘tortura’ não são ‘atuações’, e ainda assim de alguma forma a tela age como um amortecedor, ajudando o telespectador a desumanizar a mulher à qual esse abuso está sendo infligido. Ela é uma ‘atriz’, com nenhuma vontade própria no set além da habilidade de performar e ser consumida pelos olhares masculinos que demandam por mais. Mais dor. Mais sofrimento. Mais degradação. O fato de que é a demanda masculina que alimenta essa indústria pode ser visto de forma clara na escalação da violência dentro da pornografia.

Eu fui, essencialmente, estuprada coletivamente diante das câmeras. Esse vídeo sem dúvidas ainda está flutuando por aí no éter digital para que homens se masturbem para ele. Uma das ‘atrizes’ mais populares que citei anteriormente chorou em meus ombros depois de uma gravação na qual fizeram com que ela engatinhasse através de fezes no chão enquanto era verbalmente abusada. Isso foi na indústria mainstream, considerada por muitos como sendo a mais segura ou até mesmo glamourosa comparada com pornografia amadora ‘gonzo’.

É isso que acontece quando legitimizamos o comércio sexual. O lucro toma precedência sobre os direitos humanos. E a falta de medo da parte dos terceiros significa que o abuso passa sem ser visto, ouvido, checado.

Para aquelas mulheres presas em outras áreas da prostituição e que talvez nunca cheguem perto de um set de pornografia, bom, isso as afeta também. Homens irão frequentemente procurar por mulheres prostituídas para encenarem cenas violentas que eles viram em filmes pornôs, infligindo a essas mulheres o abuso com o qual anteriormente eles eram apenas capazes de se masturbar.

Como para as mulheres prostituídas, a atriz pornô percebe que o seu ‘não’ significa muito pouco depois que as câmeras começaram a gravar. Na verdade, seu ‘não’ pode até ser requerido para que consigam atingir a demanda por cenários cada vez mais violentos e abusivos. Eu aprendi do pior jeito que sejam quais forem limites que você possa discutir ou combinar anteriormente, depois que a câmera está gravando vale tudo. O fato de que nesse caso o abusador também está sendo pago como sendo um ‘parceiro de filmagem’ não os absolve de nenhuma responsabilidade pelo abuso que eles infligem.

Em alguns casos os ‘atores’ na verdade são apenas regulares compradores de sexo. ‘Festas sexuais’ gravadas onde um cara comum pode chegar e pagar uma taxa para entrar e ‘fazer sexo coletivo com uma estrela pornô’ se tornaram populares em clubes sexuais ao redor do país. Os pornógrafos e cafetões que organizam esses ‘negócios’ fazem dinheiro de formas ainda mais engenhosas, achando novas formas de lucrar com a exploração e o abuso. Os compradores e usuários, claro, dirigem a demanda por imagens e experiências mais fortes, violentas e extremas.

Eu deixei a indústria pornográfica depois de ter minha bebida derramada no meio do set. Até hoje eu não faço ideia do que aconteceu comigo aquele dia enquanto estava inconsciente, mas eu não tenho dúvidas que o vídeo está passeando por aí em alguns lugares na internet.

“Pornô de estupro”, aliás, não é ilegal no Reino Unido, desde que a ‘violência física mostrada não seja extrema o suficiente para ameaçar a vida de alguém’.

Pornografia e prostituição fazem uma zombaria de nossas leis de consentimento sexual.

Me explique de novo como é que isso torna as mulheres seguras?

By Scarlett X

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Traduzido livremente por mim. ❤ Nina Cenni.
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