Suspeitos de tráfico sexual tentam recrutar criadoras de conteúdo do OnlyFans, diz relatório

Ninka
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5 min readJun 12, 2022

De acordo com algumas criadoras e criadores de conteúdo do OnlyFans, pessoas que se suspeita serem traficantes sexuais usam a plataforma para repetidamente os contactar na tentativa de recrutá-los.

Essa não á a única forma que a plataforma, conhecida por hospedar “conteúdo adulto” parece estar facilitando a exploração, no entanto. Continue a leitura para entender melhor.

A Chegada do OnlyFans

Nos últimos anos, a plataforma de conteúdo por inscrição OnlyFans assumiu para si um grande espaço dentre as gigantes plataformas sociais. Ela tem mais de 170 milhões de pessoas inscritas e de 1.5 a 2 milhões de criadores de conteúdo.

Enquanto o conteúdo distribuído possa variar entre conteúdo fitness e alimentar, houve um dramático crescimento de popularidade de conteúdo pornográfico na plataforma por diversas razões.

Muitas pessoas consideram que consumir conteúdo pornográfico através do OnlyFans seja uma alternativa mais “ética” aos sites abertos de streamming de pornografia. Mesmo assim, a mudança da maior parte do conteúdo hospedado na plataforma para conteúdo explícito foi repetidamente recebida com críticas tanto por outros criadores de conteúdo quanto por terceiros, trazendo a questão sobre se o OnlyFans realmente é um espaço seguro e livre de exploração como muitas pessoas podem acreditar que seja.

Um novo relatório sobre exploração sexual

Dê uma olhada nesses fatos, publicados em um relatório recente de uma organização antitráfico humano dirigida por sobreviventes:

  • Mais da metade dos criadores de conteúdo no OnlyFans responderam não sentirem que a plataforma faz uma triagem suficiente ao aceitar novos criadores e inscritos durante o processo de registro no site;
  • 30% dos criadores de conteúdo entrevistados disseram ter recebido mensagens privadas de supostos traficantes sexuais oferecendo para administrar suas contas por uma parte ou todo o rendimento da receita de suas assinaturas. Dentre estes, eles compartilham que receberam tais mensagens dentre 3 e 18 vezes, com uma média de 7 vezes;
  • Foi perguntado aos entrevistados o porquê de terem parado de criar conteúdo no OnlyFans. Os motivos mais comuns foram: continuaram a vender sexo pessoalmente porque era mais rentável (36%) e porque suas preocupações com segurança na plataforma superavam qualquer potencial benefício (23%);
  • 30% dos entrevistados disseram que se sentiram pressionados pelo OnlyFans para criar conteúdos. Todos estes disseram que isso veio em forma de repetidos emails e notificações: “Eles te mandam emails dizendo que se você não postar, tirarão sua conta do ar”, diz um(a) entrevistado(a). Isso é combinado com as solicitações de inscritos por trabalho emocional e conteúdo customizado, e traficantes pressionando vítimas a criarem conteúdo na plataforma quando as transições em pessoa estavam baixas.

De onde estão vindo essas estatísticas preocupantes?

Esses achados foram publicados em um relatório de Dezembro de 2021 pela Avery Center , uma conhecida organização liderada por sobreviventes de tráfico que trabalha com fazer cumprir as leis a respeito do tráfico humano e sexual e com outras organizações de suporte para erradicar o tráfico sexual nos EUA.

Esses achados em relação à experiência de criadores de conteúdo no OnlyFans levanta grandes preocupações sobre que passos significativos a plataforma está dando para prevenir a exploração sexual no site, ou se ao menos há algum.

Uma olhada mais de perto para o relatório

Com o título “Relatório sobre o OnlyFans: um Estudo de Caso sobre a Exploração na Era Digital”, esses achados são alguns dos vários que o braço de pesquisa da organização Avery Center publicou.

Além de pesquisas, o Avery Center oferece múltiplos treinamentos e serviços de consultoria em seus esforços para acabar com a exploração sexual comercial, incluindo gerenciamento de grupos de apoio de pares, webnários, treinamento para carreiras e grupos de estudo financeiro, entre muito mais.

A organização diz que o relatório sobre o OnlyFans é “um projeto resultado de um ano de trabalho, no qual empregou-se métodos mistos como ouvir diretamente dos criadores, entender as percepções dos compradores de sexo, e utilizar táticas focadas em agressores para identificar potenciais casos de tráfico na plataforma, e ao mesmo tempo identificar oportunidades para colaborações entre setores que se centram na experiência real de verdadeiros sobreviventes”.

Alguns dos métodos usados incluíram entrevistas com criadores de conteúdo na plataforma, estudos observacionais, coleta de informações acerca da aplicação da lei, e um quadro de revisão onde os criadores de conteúdo e os compradores de sexo discutiram as interações no OnlyFans.

Dividido entre três assuntos principais, o relatório aborda:

  1. A experiência de criadores de conteúdo no OnlyFans no que se relaciona à exploração sexual;
  2. O papel do OnlyFans como uma rampa de transporte para dentro e/ou para fora do mercado da prostituição tradicional;
  3. O baixo retorno de investimento do OnlyFans para a grande maioria dos criadores de conteúdo.

Finalmente, algumas dicas e recursos são listados no relatório, incluindo instituições financeiras, material sobre cumprimento de leis, e prestadores de serviços relevantes.

Além das estatísticas listadas acima, outro dos achados chave se centra em achados sobre traficantes externos e abuso de menores, e a presente e crescente intercomunicação entre as mídias sociais e o tráfico humano e sexual.

Considere que: 11% dos entrevistados disseram ter ciência de menores que tinham contas no OnlyFans, e estavam pessoalmente cientes de ao menos 35 menores que tinham conteúdo íntimo de si vendido na plataforma. 6% afirmaram que seus traficantes as ajudaram a “criar e difundir seu conteúdo do OnlyFans”.

Outro ponto reforçado pelo relatório é a crescente a interconexão entre as plataformas sociais e como ela age como uma faca de dois gumes. Ela permite que conteúdo explorador flua entre redes sociais, mas também pode servir como um meio para rastrear o conteúdo e ajudar a cumprir as leis que visam acabar com o tráfico sexual, SE as plataformas cooperarem e trabalharem juntas para tal.

“O Mapa do Mercado Sexual Online”: como as principais plataformas se relacionam

Uma nota de esperança

Em resumo, o relatório publicado pela Avery Center traz à tona algumas realidades extremamente preocupantes no que diz respeito ao tráfico e exploração sexual presentes no OnlyFans.

A exploração sexual, especialmente de menores, não é um assunto qualquer, e é algo que os achados do relatório mencionam que está presente e interconectado através das plataformas e redes sociais.

Esforços como os do Avery Center de prover suporte para sobreviventes e trabalhar com garantir o cumprimento das leis e com outras intituiições para o combate ao tráfico sexual são críticos. E isso inclui relatórios como esse, que trazem à tona informações valiosas e emergenciais em uma realidade digital onde é extremamente difícil conseguir dados sobre indivíduos envolvidos na indústria sexual.

Com mais informação vem a oportunidade de conscientização, principalmente com o objetivo de PARAR A DEMANDA por exploração sexual.


Traduzido livremente por mim ❤ Nina Cenni.
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Link para o original.

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Ninka
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Cursando PhD em Física. Lutando contra a exploração e violência sexual evidente e inerente à pornografia, prostituição e tráfico humano nas horas vagas.