Sydney Sweeney: ‘Estou muito orgulhosa do meu trabalho em Euphoria — mas ninguém fala sobre isso porque fiquei nua’

Iza Forzani
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7 min readFeb 3, 2022

A estrela de 24 anos de ‘The White Lotus’ e ‘Euphoria’ fala com Ellie Harrison sobre o estigma em se despir na TV, interpretando uma garota malvada e seu difícil caminho para atuação.

‘Com ‘The White Lotus’, senti que as pessoas finalmente estavam reconhecendo o trabalho duro que venho fazendo’ (Getty Images para LACMA)

No verão passado, Sydney Sweeney foi apelidada de a garota mais assustadora da TV pelo The New York Times. Não por interpretar uma assassina violenta ou uma vilã sádica, mas por interpretar algo muito mais assustador: uma garota rica que lê Nietzsche e que descansa na piscina podendo destruir sua autoestima com apenas um olhar fulminante. “Eu adoro isso”, diz ela sobre a honra duvidosa. “Definitivamente não é um título que eu pensei que receberia, mas vou aceitar.”

A garota rica em questão é Olivia Mossbacher, uma de um conjunto de personagens maravilhosamente monstruosos em The White Lotus. A sátira mordaz da alta sociedade feita pela HBO, ambientada em um resort de férias havaiano com tudo incluso, tornou-se um sucesso por sua alfinetada na soberba do privilégio e na vigilância performática. Olivia é uma estudante universitária arrastada na viagem por seus pais ricos, que passa seus dias tomando sol com sua amiga Paula, julgando barbaramente outros hóspedes entre capítulos de textos filosóficos. Como os tubarões que espreitam em águas próximas, essa dupla terrível pode sentir o cheiro de sua próxima vítima a uma milha de distância. E elas vão destruí-los com alegria.

A própria Sweeney não é nem de longe tão aterrorizante. Ao telefone em Los Angeles, a jovem de 24 anos é enérgica e impetuosa. As palavras lhe escapam: fofocas, opiniões, anedotas. Pergunte a ela sobre seu cachorro, Tank — “ele está no quintal olhando para os esquilos” — e ela praticamente entrará em combustão tamanha efusividade. Ela também tem medo de Olivia. “Eu não estive perto de muitas Olivias, mas tive breves encontros com algumas e elas me assustaram.”

Você já viu Sweeney antes de The White Lotus, geralmente interpretando personagens que fingem ser duronas, mas na verdade são profundamente inseguras. Houve a noiva criança Eden em The Handmaid’s Tale; Alive, a adolescente intensa e suicida, em Objetos Cortantes; e, no drama adolescente Euphoria, a sensível colegial Cassie, que em minuto pode tirar a calcinha para seduzir, e no outro se desintegra por causa da ansiedade no banheiro. Ela está particularmente orgulhosa dessa performance — não que os críticos tenham dado muita atenção.

“Com The White Lotus, senti que as pessoas finalmente estavam reconhecendo o trabalho duro que venho fazendo”, diz ela. “Isso é algo que me incomoda há algum tempo. Estou muito orgulhosa do meu trabalho em ‘Euphoria’. Achei uma ótima atuação. Mas ninguém fala sobre isso porque eu fiquei nua. Eu faço ‘The White Lotus’ e de repente os críticos estão prestando atenção. As pessoas estão me amando. Eles vão, ‘Oh meu Deus, o que ela fará a seguir?’ Eu fiquei tipo, ‘Você não viu isso em Euphoria? Você não viu isso em The Handmaid’s Tale?’”

Ela acredita que há “um estigma contra atrizes que ficam nuas na tela”. “Quando um cara faz uma cena de sexo ou mostra seu corpo, ele ainda ganha prêmios e recebe elogios. Mas no momento em que uma mulher faz isso, é completamente diferente.”

Na primeira temporada de Euphoria — pense em Sex Education em LA, enriquecido com drogas e OxyContin e filmado em uma névoa de neon estonteante— Cassie estava no centro de uma história de slut-shaming. Deixada por seu pai viciado em heroína quando criança, ela passou a adolescência buscando a validação dos caras através do sexo. Quando os namorados perguntam se podem filmá-la, ela diz que sim, pensando que um dia, um relacionamento pode durar. Não demora muito para que os vídeos se espalhem por toda a escola.

Em um caso cruel de vida imitando a arte, capturas de tela das cenas de nudez de Cassie foram espalhadas pelas mídias sociais depois que a série foi ao ar. Sweeney só descobriu quando seu irmão mais novo foi marcado nas postagens. “Essa foi a coisa mais dolorosa que alguém poderia fazer”, diz ela. “O que eu faço é completamente separado da minha família. Meu personagem é completamente separado de mim. É tão desrespeitoso e angustiante.” Como ela lida com isso? “Eu não acho que haja realmente um mecanismo de enfrentamento para ser honesto. Você acaba se acostumando.”

Sweeney como a sensível colegial Cassie na segunda temporada de ‘Euphoria’ (Sky)

Sweeney nunca se sentiu desconfortável filmando Euphoria, onde há um coordenador de privacidade no set. “Sam [Levinson, o roteirista] é incrível”, diz ela. Na nova temporada, que começou na Sky Atlantic este mês, “há momentos em que Cassie deveria estar sem roupa e eu disse a Sam: ‘Eu realmente não acho que isso seja necessário aqui. Não precisamos disso’. Eu nunca senti que Sam me pressionou ou estava tentando colocar uma cena de nudez em um programa da HBO. Quando eu não queria fazer isso, ele não me obrigou.”

Nem todos projetos foram tão tranquilo. “Já tive experiências em que queria ir para casa e me esfregar completamente porque me senti nojenta”, diz Sweeney. Ela atribui essa situação a um diretor que não se comunicava adequadamente e se recusava a fazer alterações no roteiro. “Não me sentia confortável com meu colega de elenco ou com a equipe, e simplesmente não sentia que meu personagem faria isso. Isso me deixou ainda mais autoconsciente. Eu não me sentia capaz de falar.”

No final da primeira temporada de Euphoria, Cassie fez um aborto e foi praticamente abandonada por seu namorado McKay. Já no início da segunda temporada, ela luta para ser solteira pela primeira vez e fica com Nate, um valentão violento que anteriormente já tinha estrangulado sua melhor amiga Maddy. O desenrolar não é bom. Cassie cai em depressão e desmaia em uma festa, onde fica tão bêbada que vomita em uma Jacuzzi. Foi horrível filmar.

“Eles tiveram que colocar uma coisa na minha boca que parecia um freio de cavalo”, diz ela. “Ela estava presa em um tubo que foi então preso no meu cabelo e nas minhas costas e conectado a um tanque que eles esconderam das câmeras. Durante a cena, o tanque era ligado e enchia minha boca com o vômito. Não sei o que foi. Não tinha gosto, nem era bom. Eu tinha que fingir que nada estava acontecendo e segurar até a hora de vomitar. Foi tão ruim.”

Sweeny e Brittany O’Grady como Olivia e Paula em ‘The White Lotus’ (Sky)

Cassie passa por uma série de dificuldades nessa temporada. Em outra cena enérgica, Sweeney foi arremessada em uma estrada deserta de Santa Clarita em um carro acoplado num caminhão. Mais tarde nesse episódio, ela fica completamente apavorada atrás de uma porta enquanto Maddy, desconfiada do comportamento maldoso de Nate, tenta derrubá-la com um martelo.

A própria adolescência de Sweeney não poderia ter sido mais diferente. Ela cresceu na fronteira de Washington e Idaho. Sua família vive no mesmo lago há cinco gerações, em uma casa sem internet, mas cheia de morcegos e ratos. “É um modo de vida diferente lá”, diz ela. “É muito simples. Família é tudo. Eu estava em todos os esportes possíveis. Eu estava no time de futebol, no time de beisebol, no time de esqui slalom de neve, eu estava fazendo wakeboard…”

Aos 11 anos, Sweeney sofreu um terrível acidente de wakeboard. “Meu rosto atingiu o giro inferior da prancha e se abriu, próximo ao meu olho esquerdo”, diz ela. “Eu levei 19 pontos. Eu estava com tanto medo de voltar a minha prancha depois disso. Mas no momento em que meus pontos saíram, minha mãe me levou de volta ao lago, me disse para entrar na água com minha prancha e não me deixou sair até que eu subisse nela.”

Em ‘Objetos Cortantes’, Sweeney e Amy Adams interpretaram colegas de quarto em uma instalação para pessoas que recebem tratamento para automutilação (Sky)

Foi nessa época que Sweeney percebeu que queria ser atriz. Talvez parecesse uma escolha mais segura do que o wakeboard profissional. Um pequeno filme independente de zumbis chegou à cidade e ela implorou a seus pais que deixassem ir à audição, montando um plano estratégico para convencê-los.

O plano funcionou. “Sou muito grata aos meus pais”, diz ela. “Eles sacrificaram quase tudo. Eles tiveram que deixar a casa em que estiveram por toda a vida. LA é dez vezes mais cara do que onde eu cresci. Todo o estresse financeiro, estresse familiar, teve muito desgaste entre nós e meus pais acabaram se divorciando. Não foi um caminho feliz para chegar onde estou agora, mas tento retribuir o máximo que posso”.

Eu acredito nela. Sweeney é uma dos fazedores da vida. Quando ela consegue se encaixar as aulas com a agenda de filmagens de Euphoria, ela está estudando para se formar em Administração. Ela também, aos 24 anos, montou sua própria produtora, Fifty-Fifty, que se concentra na adaptação de histórias lideradas por mulheres. E durante a pandemia, ela trabalhou arduamente consertando seu carro dos sonhos, um Ford Bronco original vermelho brilhante de 1969. Ela nunca para e está vivendo ao lado de uma mala. “Me sinto uma nômade. Eu nunca estou em um lugar por muito tempo”, diz ela. “Eu amo isso.”

Tradução livre e independente. Link original aqui.

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Iza Forzani
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Uma pessoa que se importa muito com tudo e amante dos animais.