Champions League 1998/1999 — Capítulo 1: Manchester United x Barcelona

A história completa da conquista do segundo troféu europeu da vida do Manchester United

Guilherme Rodelli Rocha
redarmybrasil
6 min readFeb 13, 2021

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(Fonte: Getty Images)

A conquista da Uefa Champions League da temporada 1998/1999 é um dos capítulos mais emblemáticos da história do Manchester United. A final é um evento marcante, mas será que você sabe como foi a caminhada até o time de Sir Alex Ferguson bater o Bayern de Munique no Camp Nou? Essa é a história de 11 capítulos que será contada a partir de hoje.

Antes de tudo, vamos entender o contexto. O United acabara de ser vice-campeão da Premier League. Perdera o título por um ponto para o Arsenal. Apesar disso, a expectativa era alta. Um bom projeto estava chegando ao seu auge (que seria o Treble nesta mesma temporada). Além do famoso grupo da “Classe de 92”, chegavam para incorporar o elenco nomes como Jaap Stam,do PSV; Jesper Blomqvist, do Parma; e Dwight Yorke, do Aston Villa.

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Naquela época, o formato da Champions permitia apenas que os campeões nacionais fossem direto para a fase de grupos. Por isso, o Manchester United teve que passar por uma fase eliminatória antes. Venceu o polonês LKS Lódz por 2 a 0 no agregado (2 a 0 no Old Trafford e 0 a 0 na Polônia). Gols de Giggs e Yorke.

Classificado, viu o sorteio o colocar no tradicional “grupo da morte”. O grupo D tinha Barcelona, Bayern de Munique — o adversário da final — e Brondby, da Dinamarca. O caminho para os ingleses passou a ser pavimentado a partir do dia 16 de setembro de 1998 contra o campeão espanhol, Barcelona.

É aqui que começa o capítulo 1. O Manchester United, mesmo no Old Trafford, jogou de branco enquanto o Barça utilizou seu uniforme titular. Era comum isso acontecer nos anos 90: o time da casa usar o uniforme dois e o visitante, o principal.

O United foi a campo com Schmeichel; Gary Neville, Stam, Berg e Irwin; Beckham, Keane, Scholes e Giggs; Yorke e Solskjaer. Já o Barcelona, comandado por Louis Van Gaal, entrou em cena com Hesp; Luís Enrique, Abelardo, Reiziger e Sergi; Cocu, Giovanni e Rivaldo; Figo, Zenden e Sonny Anderson. Xavi já estava no banco na época.

Primeiro tempo

Logo no primeiro minuto, David Beckham já tem uma oportunidade pelo lado direito após falha de Sergi numa cobrança de lateral, mas pega mal na bola e manda por cima.

A primeira chance do Barça aconteceu aos cinco minutos. Paul Scholes erra o passe, Rivaldo rouba e tabela com o compatriota Sonny Anderson antes de finalizar para a defesa de Peter Schmeichel. Em seguida, o camisa 11 brasileiro tentou surpreender o goleiro dinamarquês com um chute do meio de campo. Passou longe.

Os dois times buscavam o jogo pelas pontas. O Manchester apostava em lançamentos para Beckham, que conseguia vantagem contra Sergi, e Giggs. Os catalães trabalhavam mais pelo chão e trocavam bastante de posição, principalmente Giovanni e Figo.

Nosso camisa sete estava muito atento na saída de bola do Barcelona. David interceptou um passe de Reiziger e, com toda sua categoria, lançou Ryan Giggs. O galês cruzou rasteiro para o meio e Ole Gunnar Solskjaer, na pequena área, acertou o travessão.

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Aos 15, Giggs dançou para cima de Luís Enrique, deixou o espanhol no chão e cruzou para Yorke. O atacante conseguiu cabecear, porém, a bola subiu mais do que devia. Hesp nem se assustou.

No ataque subsequente, depois de boa postura defensiva de Stam, o United contra-ataca com muita qualidade, Beckham passa facilmente por Sergi e cruza com precisão para Ryan Giggs abrir o placar, de cabeça no contrapé de Hesp. Belo movimento do galês.

Os espanhóis não conseguiam criar absolutamente nada. Roy Keane, Scholes, Stam, Henning Berg e Denis Irwin anulavam qualquer tentativa. Os wingers trafegavam facilmente para cima dos laterais e a pressão em Abelardo e Reiziger não parava.

De um lançamento de Schmeichel sai o segundo gol do Manchester aos 24. Solskjaer aparece nas costas de Sergi e leva Reiziger junto. Beckham, de novo ele, recebe e cruza (de canhota) para Yorke virar uma bicicleta perfeita. O goleiro Hesp espalma, infelizmente. Mas no rebote, o inteligentíssimo Scholes infiltra e completa para a rede. Um golaço!

Por mais atordoado que estivesse, o Barcelona chegou a marcar um gol ainda no primeiro tempo, mas foi invalidado por impedimento de Sonny Anderson. Talvez fosse o prenúncio de uma reversão no cenário da partida.

Parecia improvável qualquer reação dos visitantes porque o Manchester terminou o primeiro tempo com muita superioridade. Mais gols, mais finalizações, mais chances criadas e pouquíssimas cedidas. Era uma grande apresentação. Entretanto, um crescimento do Barcelona aconteceu antes do intervalo. Schmeichel foi exigido e defendeu finalização a queima-roupa do camisa nove brasileiro.

Segundo tempo

Até que aos dois minutos do segundo tempo… Rivaldo recebe nas costas dos volantes, tenta o drible e divide com Keane e Stam. Nisso, a bola sobra para o pé esquerdo de Sonny Anderson, que fuzila Schmeichel. 2 a 1.

A partir daí o Barcelona agrediu mais. Van Gaal fez com que o time ocupasse melhor o meio campo e ganhasse mais bolas de Scholes e Keane, homens fundamentais para o funcionamento do United. Destaque para Cocu e Zenden. O primeiro escapava da pressão dos atacantes enquanto o segundo, com sua movimentação, abria espaço para as subidas de Sergi.

Nicky Butt foi a primeira opção de Sir Alex Ferguson para recuperar o jogo no meio. Ele entrou no lugar de Solskajer aos 55. Dessa forma, o time tinha três meio campistas que permitiam maior liberdade para Beckham, pouco participativo na segunda etapa até então, e Giggs.

Não deu tempo da alteração ter efeito. Cinco minutos depois, Luis Enrique, bem avançado no segundo tempo, encontrou Rivaldo dentro da área inglesa. O brasileiro deu o tapa na frente e acabou derrubado por Stam. Pênalti convertido por Giovanni, ex-Santos.

Antes que o Barça pudesse aproveitar o bom momento e o abalo psicológico por causa do empate relâmpago, Yorke recebeu uma falta perto da área (uns 25~30 metros do gol) e para coroar a boa atuação, Beckham guardou um golaço no ângulo na cobrança. Desde o início ele tinha se mostrado o principal jogador do time. Terminou com participação em todos os gols do Manchester United na partida.

Contudo, os catalães não se abateram. Pela direita, Lucho passou como quis por Irwin e Giggs e cruzou para Sonny Anderson acertar o travessão de peixinho. No rebote, Figo até faz o gol, mas o árbitro italiano Stéfano Braschi encontra toque de mão de Nick Butt. Mais um pênalti para o Barcelona e expulsão do camisa oito do United.

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Luís Enrique, autor da bela jogada que originou a penalidade, cobrou no canto direito de Schmeichel, que quase alcançou. Era o improvável empate. Toda a superioridade construída no primeiro tempo havia caído por terra em poucos minutos.

Para agredir mais, Van Gaal fez uma alteração que mudou o sistema dos culés. Xavi entrou na vaga de Giovanni. Com isso, Cocu se tornou um zagueiro, formando uma linha de três com Sergi e Abelardo. Reiziger virou ala e Luis Enrique quase um atacante. Mais gente no meio campo gerou mais aproximações e maior perigo ao gol de Schmeichel.

Vendo a desvantagem numérica e física, Ferguson promoveu a entrada de Phil Neville no minuto 79 no lugar de Irwin, abalado por conta do terceiro gol. Antes do fim, Giggs também saiu para a participação de Blomqvist. A intenção era garantir o ponto, já que tinha um atleta a menos. Por mais que o time azul-grená desse trabalho, foram poucas finalizações perigosas. Méritos de Stam, principalmente.

O apito final trouxe alívio aos jogadores e torcedores que estavam tão otimistas no começo. O empate, pelo que foi o primeiro tempo, não foi o melhor resultado, ainda mais considerando os outros adversários do grupo. Porém, os bávaros tinham perdido de virada para o Brondby, o que deixou o grupo indecifrável. De fato, era a primeira rodada, mas a tendência era que o Bayern começasse vencendo. Essa derrota já trouxe outra perspectiva para o confronto contra o Manchester United. Mas o jogo em Munique é parte do capítulo 2.

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