Champions League 1998/1999 — Capítulo 5: Barcelona x Manchester United

A história completa da conquista do segundo troféu europeu da vida do Manchester United

Guilherme Rodelli Rocha
redarmybrasil
7 min readFeb 21, 2021

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(Fonte: Manchester United/Divulgação)

A atuação dos Red Devils no Old Trafford na última noite europeia (capítulo 4) tinha sido genial. Aquele jogo refletiu o melhor que o grupo de Sir Alex Ferguson podia produzir. Por mais que o adversário fosse o time mais fraco do grupo, já tinha dado trabalho tanto para o Bayern quanto para o Barcelona (venceu o primeiro e perdeu só de 2x0 para o segundo).

A classificação para a fase seguinte parecia algo muito próximo. Bastavam quatro pontos em duas rodadas para garanti-la sem depender de outros resultados. Mas uma história vencedora não é feita apenas de momentos bons. É necessário construir um drama para que o sucesso, quando atingido, seja ainda mais explosivo. A partida no Camp Nou do dia 25 de novembro de 1998 foi um exemplo disso.

No grupo D, o Brondby possuía três pontos e o Barcelona estava acima com quatro. Já o Bayern, com duas vitórias seguidas sobre os catalães tinha sete, um a menos que o Manchester United, o líder.

Na Premier League, as coisas começavam a complicar. De líder na 11ª rodada, o United tinha caído para a terceira posição com a derrota na rodada 14 para o Sheffield Wednesday por 3 a 1. Esta seria a segunda derrota no campeonato inglês. Contudo, dali até o final, o Manchester perdeu somente mais um jogo em toda a campanha. Mas isso é assunto para outro momento.

Portanto, para encarar o Barcelona de Louis Van Gaal novamente, Ferguson escalou seu tradicional 4–4–2 com Schmeichel; Brown, Gary Neville, Stam e Irwin; Beckham, Keane, Scholes e Blomqvist; Yorke e Cole.

O treinador holandês também manteve seu estilo com o 4–3–3. Foram a campo: Hesp; Celades, Reiziger, Okunowo e Sergi; Xavi, Rivaldo e Giovanni; Figo, Zenden e Sonny Anderson.

(Fonte: Manchester United/Divulgação)

Apenas 54 segundos se passaram após o apito do árbitro austríaco Günter Benko para o placar ser aberto. Sonny Anderson, que já tinha dado trabalho para a defesa inglesa no Old Trafford, aproveitou um levantamento de Giovanni que sobrou na área para driblar Neville — de novo jogando de zagueiro — e finalizar de direita nas redes de Peter Schmeichel.

O United estava atordoado. Sem conseguir manter a posse e marcar o meio de campo do Barça, Xavi, Rivaldo e Giovanni faziam Roy Keane e Paul Scholes se mexerem de um lado para o outro. Num desmarque inesperado, Rivaldo finalizou de fora da área e Schmeichel teve que fazer defesa difícil.

Quando o Manchester conseguia ultrapassar o meio de campo, o que era raro, o Barça conseguia recuperar e avançar com velocidade. Giovanni e Figo tiveram suas oportunidades. O primeiro chutou fraco, e o segundo, para fora.

Scholes deve ter corrido uns cinco quilômetros só nos primeiros dez minutos de jogo. Tentava de qualquer forma evitar que Rivaldo avançasse e ainda tinha responsabilidade de levar o time a frente.

Mentalmente, o time não estava nas melhores noites. Para tentar parar os talentosos jogadores de frente de Barcelona, Keane, Blomqvist e Irwin, que recebeu cartão amarelo, cometiam faltas na intermediária defensiva com frequência.

A forma que o Manchester United encontrou para sair dessa situação ruim foi através do pivô de Dwight Yorke, algo que já tinha sido eficiente antes na temporada. O atacante de Trinidad e Tobago conseguia, graças ao seu físico, ganhar e proteger a bola dos zagueiros, além de encontrar passes para manter a equipe à frente. Mas ainda era pouco.

Os espanhóis eram bem melhores e quase fizeram o segundo. Num contra-ataque que tinha cinco jogadores de azul-grená contra quatro de branco (o United usava o uniforme reserva), Sonny Anderson saiu cara a cara com Schmeichel e perdeu ao tentar cavar.

(Fonte: Manchester United/Divulgação)

Essa chance não abalou os comandados de Alex Ferguson, afinal, eram os Diabos Vermelhos. Mesmo pior na partida, os jogadores pareciam sempre encontrar soluções. Aos 25, Blomqvist antecipou Celades e encontrou Yorke livre nas costas de Xavi. O camisa 19 dominou e finalizou de direita no canto de Hesp para empatar o jogo. Era o quarto gol de Yorke em cinco jogos de Uefa Champions League naquela temporada.

A resposta dos catalães veio rapidamente. Schmeichel salvou um chute de Rivaldo e outro de Figo — curiosamente os mesmo que tinham agredido o United antes do gol. A segunda chance, do português, foi a mais perigosa. A lenda dinamarquesa precisou espalmar a bola duas vezes para evitar a desvantagem.

Os 20 minutos seguintes foram bem mais abertos que os anteriores. O Barcelona continuava incomodando, principalmente pela direita com Figo, que garantiu um amarelo para Keane também. Xavi armava o jogo de trás e já se mostrava um volante diferenciado em relação ao padrão dos anos 90. Já o United conseguia ocupar o campo de ataque. Finalizava pouco, é verdade, mas não tinha mais dificuldades em superar a primeira marcação do Barça no meio de campo. Os passes longos de Scholes e Beckham foram essenciais para isso.

O primeiro tempo acabou com uma grande chance para o Manchester. Scholes roubou a bola e o time partiu em velocidade, pegando o Barça desarrumado. O gol só não saiu porque Okunowo salvou a finalização de Beckham no último momento.

Para virar o jogo, foram necessários oito minutos na segunda etapa. E que golaço. Mais uma amostra da essência daquele grupo, principalmente por conta do entrosamento entre Yorke e Cole. A origem do gol é na defesa, com Scholes. A bola vai passando de pé em pé até que Keane acelera e os atacantes se aproximam. Yorke vem para receber e faz um corta-luz brilhante para Cole, que devolve e se movimenta no espaço deixado pelo zagueiro do Barça. Com um toque de primeira, Yorke passou para Cole novamente, que dominou e virou o jogo.

(Fonte: Daily Mail)

Uma pena que a beleza do gol tenha sido ofuscada menos de cinco minutos depois. Figo, o jogador mais caçado da noite, sofreu uma falta de Irwin no lado esquerdo da defesa inglesa. Rivaldo cobrou e, como Schmeichel saiu para cobrir o canto da barreira, acertou o canto oposto completamente vazio. 2 a 2.

A partida era muito bem jogada. Os dois times queriam ser diretos, por isso, muitas finalizações e passes errados aconteciam. Até que Beckham, sumido, apareceu. Em dois cruzamentos mostrou toda a sua qualidade. O 3 a 2 aconteceu na segunda tentativa, mas antes ele já tinha colocado a bola na cabeça de Yorke. Hesp fez a defesa. O goleiro não foi feliz no lance seguinte, muito menos a defesa do Barça, que deu todo o espaço necessário para o atacante completar o passe açucarado de David, aos 68 minutos.

Quase que imediatamente o quarto gol poderia ter saído. O bandeira número um apontou um impedimento inexistente de Yorke. Seria o hat-trick dele. Isso acabou custando os três pontos ao Manchester United porque aos 73, Rivaldo fez de bicicleta. Sim, mais um gol antológico naquela noite: Sergi cruzou da esquerda e o brasileiro, entre Neville e Stam, teve conforto o suficiente para matar no peito antes de fazer o movimento perfeito.

(Fonte: Daily Mail)

A pressão pelo resultado estava em cima dos catalães. Além de jogarem em casa, precisavam da vitória para disputar a vaga. Sabendo disso, Rivaldo não parou de tentar. Em uma de suas tentativas sequenciais, acertou o travessão de Schmeichel. Um grande susto. O Barça estava definitivamente de volta ao jogo, não só pelo placar, mas pela postura.

Vendo o crescimento do adversário, Sir Alex Ferguson teve que mudar. Tirou Beckham para colocar Nicky Butt, reforçando a entrada da área. Ainda tinha Blomqvist para dar velocidade aos contra-ataques que deveriam aparecer. Porém, eles não vieram.

A equipe de Loius Van Gaal continuou melhor até o final e poderia ter vencido se Schmeichel não tivesse parado um chute a queima roupa de Figo aos 80 minutos ou se Sonny Anderson não tivesse finalizado para fora o cruzamento de Figo nos acréscimos.

O empate permaneceu. A atuação tinha sido, no geral, preocupante, assim como nos jogos recentes da temporada. O ataque estava bem, mas a defesa falhava. Por melhores que tivessem sido os momentos dos gols, quando o Barcelona pressionou e usou os seus talentos combinados — Figo e Rivaldo — criou muitos problemas. A classificação dependia agora do último jogo da fase de grupos, contra o Bayern em casa. Essa é a história que será contada no capítulo 6.

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