Champions League 1998/1999 — Capítulo 6: Manchester United x Bayern de Munique

A história completa da conquista do segundo troféu europeu da vida do Manchester United

Guilherme Rodelli Rocha
redarmybrasil
8 min readMar 31, 2021

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(Fonte: manutd.com)

O Manchester United naquela altura do campeonato tinha somado nove pontos, sendo duas vitórias e três empates. O adversário da sexta noite europeia, o Bayern de Munique, tinha ultrapassado o United depois da vitória por 2 a 0 sobre o Brondby na rodada anterior.

Por sorte, o empate com o Barcelona duas semanas antes eliminara qualquer possibilidade de classificação do time espanhol. Portanto, o confronto em Old Trafford decidiria a liderança do grupo D e quem ficaria na expectativa dos outros resultados para saber se estaria na próxima fase ou não porque apenas os dois melhores segundos colocados dos seis grupos passariam.

Para estabelecer um pouco mais de contexto, na Premier League, os Red Devils tinham acabado de empatar com o Aston Villa pela 16ª rodada. Era um confronto que valia a liderança, na época. Ambos os times terminaram também empatados no topo da tabela com 30 pontos.

Por isso tanta expectativa. Apesar de uma sequência não tão animadora (apenas uma vitória em cinco jogos), o Old Trafford estava extremamente lotado e pulsante. Uma atmosfera digna d’O Teatro dos Sonhos.

Sir Alex Ferguson mandou a campo o seguinte time no clássico 4–4–2: Schmeichel; Brown, Stam, Gary Neville e Irwin; Beckham, Scholes, Keane e Giggs; Yorke e Cole.

Os bávaros, comandados por Ottmar Hitzfeld, pisaram no gramado com a escalação formatada em um 3–4–3, sendo Lothar Matthäus o líbero: Kahn; Babbel, Matthäus e Kuffour; Strunz, Jeremies, Effenberg e Lizarazu; Zickler, Salihamidzic e Élber.

O mítico e ainda em forma Ryan Giggs voltava ao time e na noite de 9 de dezembro de 1998, fez dupla com Dennis Irwin pela esquerda. Na direita, Wes Brown auxiliava David Beckham, como sempre.

(Fonte: eircom.net)

Com a bola rolando, a torcida empurrava o time para cima. Ferguson apostou em muita velocidade e técnica pelas pontas. A primeira chance, aos seis minutos, aconteceu justamente por esse poder lateral do United.

Beckham virou o jogo primorosamente para Giggs, que atacava as costas do limitado Thomas Strunz. O galês ajeitou para Andy Cole chegar finalizando. A bola explodiu em Markus Babbel e, no rebote, Dwight Yorke teve outra oportunidade, mas mandou por cima.

Isso foi o suficiente para a torcida, que já estava animada, transformar o ambiente em algo único e ensurdecedor. Oliver Kahn trabalhou pela primeira vez pouco tempo depois, mas apenas para agarrar o cruzamento de Cole.

O Bayern insistia pelo lado direito da defesa do Manchester. Bixente Lizarazu e Hasan Salihamidzic partiam para cima de Brown. Quando os alemães tentavam pelo outro lado, Elber e Strunz paravam em Scholes, Irwin e Neville.

Se na partida em Munique Jaap Stam e Gary Neville sofreram com Élber, em Manchester a história foi diferente. O atacante brasileiro mal aparecia, e quando tentava, era contido pela dupla de zaga. O mesmo vale para Stefan Effenberg. Ativo e dominante no meio de campo na Alemanha, controlado por Roy Keane e Paul Scholes na Inglaterra.

(Fonte: eircom.net)

Apesar do Bayern ter mais a bola, quem levava perigo era o Manchester United. Em uma bola ganha no meio de campo, Beckham teve liberdade para avançar e chutar de longe contra a meta alemã. Kahn defendeu de soco.

Na sequência, Giggs partiu para a linha de fundo depois de driblar Strunz e cruzou na cabeça de Yorke. A finalização não saiu como era costumeira para o atacante de Trinidad e Tobago, porém. Ou seja, fraca e longe do gol.

Os bávaros assustaram novamente pela esquerda. Salihamidzic segurou a bola para a passagem de Lizarazu. O lateral francês recebeu com liberdade e cruzou para Élber finalizar de peixinho direto para a linha de fundo de Peter Schmeichel.

Aos 22, Beckham sofreu uma falta na entrada da área e as expectativas cresceram. Dali, com o inglês na bola, geralmente era gol. Entretanto, a cobrança parou na barreira formada pelo goleiro adversário.

O domínio continuava sendo vermelho. Keane encontrou um passe vertical para Giggs, que passou de primeira para Cole. O camisa nove girou para cima de Jeremies e finalizou no contra pé do goleiro. A bola passou muito rente à trave e arrancou o “uuuh” do público.

Keane teve que aparecer de novo, agora na defesa. O irlandês foi essencial no corte de uma falta levantada de longe por Effenberg. Se não fosse por ele, o Bayern provavelmente empataria naquele momento.

A resposta aconteceu em seguida. Keane aproveitou falha de Strunz dentro da área e tentou finalizar, mas o lateral bávaro conseguiu se recuperar e travar a pancada do camisa 16. Por outro lado, Giggs conseguiu cabecear um cruzamento de Cole logo depois. O problema é que a cabeçada saiu muito fraca e ao lado do gol de Kahn.

Assim como a torcida, o time estava empolgado em campo e colocava o clube de Munique sob pressão. A defesa adversária não conseguia sair com a bola e cedia diversos escanteios, além de espaço para Keane e Scholes trabalharem na intermediária. Foi o melhor momento do Manchester United até então na partida.

Aos 39, o United saiu rápido da defesa para o ataque e Cole teve oportunidade de finalizar de fora da área de pé esquerdo. A bola infelizmente desviou no defensor e ficou fácil para a defesa de Kahn.

Mas no finalzinho da primeira etapa, aos 43, o alívio. Giggs ganhou o duelo contra Strunz de novo deixando o lateral no chão e, da linha de fundo, rolou para trás. Nisso, Keane chegou como elemento surpresa completamente livre na entrada da área e finalizou de primeira, sem chances para Kahn. 1 a 0, delírio da torcida, primeiro lugar no grupo e classificação garantida para a próxima fase. Pelo menos isso era o que pensavam os torcedores naquele momento…

(Fonte: eircom.net)

O segundo tempo começou pegando fogo. Ronny Johnsen, que entrara na vaga de Irwin, machucado, teve a grande oportunidade de ampliar o placar: Beckham cobrou o escanteio, Keane ajeitou e, primeiro, o zagueirão furou com a perna direita para depois pegar o rebote com a esquerda para mandar por cima do travessão dos alemães.

Contudo, o Bayern foi melhor nos minutos seguintes. Zickler e Salihamidzic proporcionaram cruzamentos perigosos contra Schmeichel. Diante desse cenário, os Diabos Vermelhos procuravam o contra-ataque, que não acontecia com precisão graças à incomum falta de sintonia entre Yorke e Cole.

Aliás, não foi uma noite muito boa para a dupla de ataque, tanto que Yorke acaba substituído no segundo tempo por Nicky Butt e a formação do United muda do clássico 4–4–2 para uma espécie de 4–5–1, com Cole a frente.

Schmeichel estava sendo exigido. Kuffour apareceu no ataque e quase marcou um gol de placa aos 54 minutos. Dois minutos depois, o inevitável gol bávaro aconteceu. Por meio de bola parada, Effenberg cruzou um escanteio na cabeça de Strunz na primeira trave e o desvio desmontou toda a defesa inglesa. Salihamidzic aproveitou a paralisia momentânea e se antecipou ao goleiro dinamarquês para marcar.

(Fonte: eircom.net)

Os ingleses pareciam atordoados e com isso o Bayern poderia ter virado. Élber arrancou do meio de campo até passar para Zickler. O atacante grandalhão chutou, a bola desviou em Stam e sobrou na pequena área de novo para o atacante brasileiro. Por sorte, a finalização foi por cima.

Na esperança de uma vitória, o United se soltou. Giggs se aproveitava das limitações de Strunz e ganhava praticamente todos os duelos. Numa dessas passagens, o camisa 11 cruzou, a defesa alemã não conseguiu afastar e Scholes ficou com ela dentro da grande área. Entretanto, a finalização saiu com a direção errada e em cima de Kuffour.

Ottmar Hitzfeld foi cauteloso. Abriu mão de Matthäus para ter Thomas Linke na defesa antes de Kahn segurar um chute de longe de Yorke. Com isso, Strunz saiu do lado direito para o centro. Fazia sentido já que Giggs passeava por aquele flanco.

Paul Scholes mais uma vez desfilou no Teatro dos Sonhos. Se para os torcedores mais novos que só viram o final de carreira, fica a impressão de que Paul era um grande volante cheio de classe, então imagine em 1998, com 24 anos, físico em dia, velocidade e a inteligência de sempre? Demonstrou controle total sobre as ações no meio de campo naquela noite.

Numa jogada individual aos 66 minutos, o inglês passou por três marcadores, mas na hora de finalizar, pegou mal de pé esquerdo. Um minuto depois, o mesmo Scholes encontrou Beckham aberto pelo lado direito. O camisa sete caprichou no cruzamento para Cole, que cabeceou muito perto da trave. Era a grande chance de desempatar.

A pressão pelo segundo gol era criada através de bolas longas — o pivô de Cole funcionava muito bem — e cruzamentos de Dave, fosse com bola rolando ou dos seguidos escanteios que o United conquistou. Num desses, Keane quase acertou a meta de Kahn.

Claro que a vitória seria melhor, até porque o Manchester United não dependeria de outros resultados. Entretanto, o final de jogo (a partir dos 80 minutos) mostrava que mesmo Ferguson não se preocupava em ficar em primeiro ou segundo do grupo. Aparentemente, o treinador estava ciente dos outros placares. A torcida não.

Os bávaros comemoraram o empate e a liderança ao final do jogo. Restou ao United esperar. Era o fim da fase de grupos e olhando o copo meio vazio, o time só vencera o Brondby nos seis confrontos desta fase. Pelo outro lado, não perdera para nenhum outro time no grupo.

Com todos os resultados confirmados, o empate do Benfica em 2 a 2 com o PSV, derrota do Lens por 3 a 1 para o Dínamo de Kiev de Shevchenko, derrota do Galatasaray para o Athletic Bilbao e empate entre Dínamo Zagreb e Olympiacos, o Manchester United passou como o segundo melhor segundo colocado com 10 pontos, atrás do Real Madrid, com 12 pontos.

Para se ter uma ideia da importância da primeira colocação, o Bayern, por exemplo, iria enfrentar o Kaiserslautern. Apesar de possuir um grande time na época, não se comparava com os adversários do lado da chave do United.

No fim, a classificação para as quartas-de-final se confirmou e o sorteio colocou o Manchester United frente a frente com uma potência italiana, a Internazionale de Milão, primeira no grupo dos madrilenhos.

A história completa das quartas contra os nerazzuris será contada no capítulo 7 de European Nights!

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