Champions League 1998/1999 — Capítulo 5: Barcelona x Manchester United
A história completa da conquista do segundo troféu europeu da vida do Manchester United
A atuação dos Red Devils no Old Trafford na última noite europeia (capítulo 4) tinha sido genial. Aquele jogo refletiu o melhor que o grupo de Sir Alex Ferguson podia produzir. Por mais que o adversário fosse o time mais fraco do grupo, já tinha dado trabalho tanto para o Bayern quanto para o Barcelona (venceu o primeiro e perdeu só de 2x0 para o segundo).
A classificação para a fase seguinte parecia algo muito próximo. Bastavam quatro pontos em duas rodadas para garanti-la sem depender de outros resultados. Mas uma história vencedora não é feita apenas de momentos bons. É necessário construir um drama para que o sucesso, quando atingido, seja ainda mais explosivo. A partida no Camp Nou do dia 25 de novembro de 1998 foi um exemplo disso.
No grupo D, o Brondby possuía três pontos e o Barcelona estava acima com quatro. Já o Bayern, com duas vitórias seguidas sobre os catalães tinha sete, um a menos que o Manchester United, o líder.
Na Premier League, as coisas começavam a complicar. De líder na 11ª rodada, o United tinha caído para a terceira posição com a derrota na rodada 14 para o Sheffield Wednesday por 3 a 1. Esta seria a segunda derrota no campeonato inglês. Contudo, dali até o final, o Manchester perdeu somente mais um jogo em toda a campanha. Mas isso é assunto para outro momento.
Portanto, para encarar o Barcelona de Louis Van Gaal novamente, Ferguson escalou seu tradicional 4–4–2 com Schmeichel; Brown, Gary Neville, Stam e Irwin; Beckham, Keane, Scholes e Blomqvist; Yorke e Cole.
O treinador holandês também manteve seu estilo com o 4–3–3. Foram a campo: Hesp; Celades, Reiziger, Okunowo e Sergi; Xavi, Rivaldo e Giovanni; Figo, Zenden e Sonny Anderson.
Apenas 54 segundos se passaram após o apito do árbitro austríaco Günter Benko para o placar ser aberto. Sonny Anderson, que já tinha dado trabalho para a defesa inglesa no Old Trafford, aproveitou um levantamento de Giovanni que sobrou na área para driblar Neville — de novo jogando de zagueiro — e finalizar de direita nas redes de Peter Schmeichel.
O United estava atordoado. Sem conseguir manter a posse e marcar o meio de campo do Barça, Xavi, Rivaldo e Giovanni faziam Roy Keane e Paul Scholes se mexerem de um lado para o outro. Num desmarque inesperado, Rivaldo finalizou de fora da área e Schmeichel teve que fazer defesa difícil.
Quando o Manchester conseguia ultrapassar o meio de campo, o que era raro, o Barça conseguia recuperar e avançar com velocidade. Giovanni e Figo tiveram suas oportunidades. O primeiro chutou fraco, e o segundo, para fora.
Scholes deve ter corrido uns cinco quilômetros só nos primeiros dez minutos de jogo. Tentava de qualquer forma evitar que Rivaldo avançasse e ainda tinha responsabilidade de levar o time a frente.
Mentalmente, o time não estava nas melhores noites. Para tentar parar os talentosos jogadores de frente de Barcelona, Keane, Blomqvist e Irwin, que recebeu cartão amarelo, cometiam faltas na intermediária defensiva com frequência.
A forma que o Manchester United encontrou para sair dessa situação ruim foi através do pivô de Dwight Yorke, algo que já tinha sido eficiente antes na temporada. O atacante de Trinidad e Tobago conseguia, graças ao seu físico, ganhar e proteger a bola dos zagueiros, além de encontrar passes para manter a equipe à frente. Mas ainda era pouco.
Os espanhóis eram bem melhores e quase fizeram o segundo. Num contra-ataque que tinha cinco jogadores de azul-grená contra quatro de branco (o United usava o uniforme reserva), Sonny Anderson saiu cara a cara com Schmeichel e perdeu ao tentar cavar.
Essa chance não abalou os comandados de Alex Ferguson, afinal, eram os Diabos Vermelhos. Mesmo pior na partida, os jogadores pareciam sempre encontrar soluções. Aos 25, Blomqvist antecipou Celades e encontrou Yorke livre nas costas de Xavi. O camisa 19 dominou e finalizou de direita no canto de Hesp para empatar o jogo. Era o quarto gol de Yorke em cinco jogos de Uefa Champions League naquela temporada.
A resposta dos catalães veio rapidamente. Schmeichel salvou um chute de Rivaldo e outro de Figo — curiosamente os mesmo que tinham agredido o United antes do gol. A segunda chance, do português, foi a mais perigosa. A lenda dinamarquesa precisou espalmar a bola duas vezes para evitar a desvantagem.
Os 20 minutos seguintes foram bem mais abertos que os anteriores. O Barcelona continuava incomodando, principalmente pela direita com Figo, que garantiu um amarelo para Keane também. Xavi armava o jogo de trás e já se mostrava um volante diferenciado em relação ao padrão dos anos 90. Já o United conseguia ocupar o campo de ataque. Finalizava pouco, é verdade, mas não tinha mais dificuldades em superar a primeira marcação do Barça no meio de campo. Os passes longos de Scholes e Beckham foram essenciais para isso.
O primeiro tempo acabou com uma grande chance para o Manchester. Scholes roubou a bola e o time partiu em velocidade, pegando o Barça desarrumado. O gol só não saiu porque Okunowo salvou a finalização de Beckham no último momento.
Para virar o jogo, foram necessários oito minutos na segunda etapa. E que golaço. Mais uma amostra da essência daquele grupo, principalmente por conta do entrosamento entre Yorke e Cole. A origem do gol é na defesa, com Scholes. A bola vai passando de pé em pé até que Keane acelera e os atacantes se aproximam. Yorke vem para receber e faz um corta-luz brilhante para Cole, que devolve e se movimenta no espaço deixado pelo zagueiro do Barça. Com um toque de primeira, Yorke passou para Cole novamente, que dominou e virou o jogo.
Uma pena que a beleza do gol tenha sido ofuscada menos de cinco minutos depois. Figo, o jogador mais caçado da noite, sofreu uma falta de Irwin no lado esquerdo da defesa inglesa. Rivaldo cobrou e, como Schmeichel saiu para cobrir o canto da barreira, acertou o canto oposto completamente vazio. 2 a 2.
A partida era muito bem jogada. Os dois times queriam ser diretos, por isso, muitas finalizações e passes errados aconteciam. Até que Beckham, sumido, apareceu. Em dois cruzamentos mostrou toda a sua qualidade. O 3 a 2 aconteceu na segunda tentativa, mas antes ele já tinha colocado a bola na cabeça de Yorke. Hesp fez a defesa. O goleiro não foi feliz no lance seguinte, muito menos a defesa do Barça, que deu todo o espaço necessário para o atacante completar o passe açucarado de David, aos 68 minutos.
Quase que imediatamente o quarto gol poderia ter saído. O bandeira número um apontou um impedimento inexistente de Yorke. Seria o hat-trick dele. Isso acabou custando os três pontos ao Manchester United porque aos 73, Rivaldo fez de bicicleta. Sim, mais um gol antológico naquela noite: Sergi cruzou da esquerda e o brasileiro, entre Neville e Stam, teve conforto o suficiente para matar no peito antes de fazer o movimento perfeito.
A pressão pelo resultado estava em cima dos catalães. Além de jogarem em casa, precisavam da vitória para disputar a vaga. Sabendo disso, Rivaldo não parou de tentar. Em uma de suas tentativas sequenciais, acertou o travessão de Schmeichel. Um grande susto. O Barça estava definitivamente de volta ao jogo, não só pelo placar, mas pela postura.
Vendo o crescimento do adversário, Sir Alex Ferguson teve que mudar. Tirou Beckham para colocar Nicky Butt, reforçando a entrada da área. Ainda tinha Blomqvist para dar velocidade aos contra-ataques que deveriam aparecer. Porém, eles não vieram.
A equipe de Loius Van Gaal continuou melhor até o final e poderia ter vencido se Schmeichel não tivesse parado um chute a queima roupa de Figo aos 80 minutos ou se Sonny Anderson não tivesse finalizado para fora o cruzamento de Figo nos acréscimos.
O empate permaneceu. A atuação tinha sido, no geral, preocupante, assim como nos jogos recentes da temporada. O ataque estava bem, mas a defesa falhava. Por melhores que tivessem sido os momentos dos gols, quando o Barcelona pressionou e usou os seus talentos combinados — Figo e Rivaldo — criou muitos problemas. A classificação dependia agora do último jogo da fase de grupos, contra o Bayern em casa. Essa é a história que será contada no capítulo 6.