Designing my Life, episódio: antes feito do que perfeito

Tania Martins
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Vivemos um momento sem precedentes. Muito complexo e incerto. Ninguém está em posição de olhar pra trás e tomar decisões baseadas apenas nos resultados alcançados anteriormente e a partir daí fazer predições. Aliás esse cenário já vinha se desenhando, mas muitos resistiam ou apostavam que ele ainda não havia chegado. Agora é fato. Temos que construir nossas vidas, soluções, formas de trabalhar e de se relacionar usando nossos recursos presentes (intelectuais e materiais) e nossa forma de encarar essa situação é que pode fazer a diferença.

Vou trazer como exemplo a experiência singular que vivi nos dois últimos finais de semana ao participar de um laboratório de facilitação online comandado pela Rede de Facilitação. A Rede é uma comunidade que reúne facilitadores de várias regiões do Brasil, diversas áreas de atuação e variedade de experiências e conhecimentos e que propõe um espaço de troca, não-protagonismo, experimentação, transparência, colaboração e muito, muito aprendizado orgânico e espontâneo. Foram 4 encontros online com objetivo de realizarmos atividades para resolução de um dado desafio. Geralmente esse tipo de workshop é feito presencialmente, mas esse era o desafio extra: experimentar como fazer esse mesmo workshop na versão “cada um na sua casa”.

Temos que agradecer à tecnologia (Zoom para conectar todos num mesmo canal de vídeo e áudio, Mural para as atividades colaborativas em pequenos grupos, o Snap Camera para criar descontração no grupo, o WhatsApp para as combinações prévias e o Slack para gestão do conhecimento). Essas são apenas ferramentas que nos ajudam a escalar o alcance, mas que todos podem ter acesso. O que vale destaque aqui é a incrível capacidade humana de colocar uma ideia pro mundo em pouco tempo, às habilidades de cada um dos facilitadores de conduzir um grupo de cerca de 30 pessoas a distância em prol de um objetivo comum, criando as condições necessárias de conforto e segurança para que cada participante pudesse colocar a sua criatividade em ação e se divertir também, a calma mental frente aos imprevistos e a rápida resposta com improviso e colaboração. Sem falar na maravilhosa sensação que ficou em cada um de nós de pertencimento e de contribuição valiosas.

Alguns dos aprendizados desses encontros valem para nossa vida:

1. É essencial migrarmos do pensamento de escassez para o pensamento da abundância. Nada mais aderente ao design do que esse conceito de abundância. O pensamento do design não é restritivo ao que já conheço como solução ou forma de fazer. Ao contrário, partimos do pressuposto de que não conhecemos a solução ao problema apresentado e partimos para imaginar como poderia ser, explorando diferentes ideias, novas formas, abrindo possibilidades, criando alternativas. Ou seja, é possível criar uma infinidade de soluções. Criatividade, inteligência, colaboração são características humanas e extremamente abundantes.

2. Encurtar o espaço entre o “tive uma ideia” e “veja essa ideia em ação” é imperativo para fazer frente ao momento atual. É o que chamamos de atitude fazedora. Mesmo que ainda imperfeita, qualquer ideia que sai do campo conceitual para o prático, ganha vida, permite interação com outros, nos proporciona aprendizado real e a incrível oportunidade de testar e aperfeiçoar algo que já começa a ter valor para as pessoas.

3. Estar disposto a encontrar muitas soluções que não funcionam antes de encontrar uma solução que funciona, naquele contexto, naquele momento é uma perspectiva muito apreciada por aqueles que buscam de fato resolver problemas de forma inovadora. É o como se diz no popular “tropeçar e cair para frente”.

4. Fazer a nossa criança interna renascer, despertá-la e dar espaço para que ela, junto com o nosso rico repertório, possa dar asas à imaginação e criar um futuro mais desejável para todos nós.

Somos convidados a todo momento a dar elasticidade ao nosso pensamento, que como um músculo, precisa de prática para explorar novas conexões e encontrar novos caminhos. Esse é um exercício que podemos fazer em qualquer lugar durante e pós quarentena. E você, aceita o desafio?

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Tania Martins
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Design thinker, facilitadora de processos criativos e de inovação, palestrante e consultora de branding.