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3 min readMay 17, 2018

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Os velhos tempos de corrida de submarino nas praias do Rio de Janeiro

Me criei nas calcadas de Copacabana, estudando em escola pública — Ginásio Pedro Álvares Cabral- jogando volley nas areias quentes e namorando nos fuscas parados na frente da praia. O nome disso há 50 anos atrás era: corrida de submarino. Ninguém tinha medo. Assalto não existia. O único medo era de se ficar grávida ou de ser pega pelo pai…

Estou fora do Brasil há mais de 3 décadas. Nestes quase trinta e cinco anos, muito mudou. Me lembro quando a pobreza foi carregando as crianças para as ruas e as pessoas desenvolveram truques de passarem pelos menores, descalços e pedintes e fazerem de conta que criança vive na rua porque gosta. Que o menino insistindo em te vender um saco de limão no sinal e quase ser atropelado, fazia isso porque era uma brincadeira.

As crianças foram crescendo nas mãos daqueles que as exploram — porque não tem nenhuma criança independente. São todas exploradas por alguém.

Tente levantar este assunto com habitantes do Rio de Janeiro e vais encontrar pouco interesse ou até raiva de terem de lidar com este bando de menores que sujam as janelas de seus carros com dedinhos quando tentam fazer o motorista abrir a janela para poder jogar um saco de biscoito e assim diminuir a quantidade que têm de vender para poder receber alguma coisa para comer no fim do dia.

A população — na sua maioria- determinou que estas crianças e pedintes são problema do governo. Bem, o governo jamais cumpriu com suas obrigações. E, desta forma simples, o futuro de todos os menores foi jogado de lado: ignorado pelo povo e governo. Os restaurantes cariocas que ainda não colocaram vidro fechando as varandas, contrataram seguranças para espantar os menores famintos que com seus olhares e pedidos estragam a noite dos clientes. Até segurança surgiu para parar com o abuso dos flanelinhas nos estacionamentos.

Enquanto isso, neste mesmo período de mais de 30 anos, as classes média e alta esbanjaram seu consumo de drogas. Levou quase 15 anos para que o dinheiro de drogas mudasse o cenário das ruas e a quietude das casas, escolas e comércio.

O menor no sinal passou a portar arma. Gangs se formaram e desceram para o asfalto. Os consumidores de drogas se sofisticaram e passaram a comprar via intermediários seguros porque subir o morro ficou complicado.

Os consumidores de drogas negam de pé junto que estão financiando a violência, as armas, as gangs e milícias. Os mais endinheirados nem sequer precisam fazer contato com o “sub-mundo”. Pagam mais e recebem as drogas de forma “digna” seja por motoboys ou no café com um amigo que faz a vida sendo atravessador. Os mais techs usam a dark-web.

Existem também as casas que são pontos de droga. Minha irmã é um exemplo perfeito desta cambada de pessoas com boa educação e total alienação. Ela é viciada em cocaína entre outras coisas. Arrasou as finanças da família, isso para não falar do trauma e tristeza que causou e causa.

Por muito tempo ela morou no coração do Jardim Botânico. Bem do ladinho do parque, nessas ruas pequenas, com casinhas pitorescas. Numa dessas, residia o fornecedor de cocaína dela. Tinha relação cordial de amizade a ponto de garantir constante suplementos e crédito. Como há anos não nos falamos, não sei se ela ainda usa o mesmo fornecedor. Sei que continua viciada.

Vale ressaltar que minha irmã é “estudada”, tem mestrado em psicologia. Como milhares de outros consumidores de drogas deliberadamente se exime de qualquer participação na violência que mata centenas de pessoas por dia nas ruas cariocas. E, como todo bom carioca, ela reclama da violência entre uma cafungada e outra e da falta de segurança da cidade…

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