Rede Tumulto — Oficina de Acesso a Política para jovens periféricos da Região Metropolitana do Recife
Nesse artigo relato um pouco sobre como foi a experiência, enquanto educadora social da Rede Tumulto, de praticar as propostas de soluções de problemas estruturais da nossa sociedade
No mês de outubro/novembro de 2020, aconteceu a Oficina de Acesso a Política, realizada pela Rede Tumulto e financiada pela Escola de Ativismo, por meio do Edital das Periferias. Com a equipe: Henrique Senna, Cecilia da Fonte, Fernanda Paixão, Rick Almeida e Yane Mendes.
A Rede Tumulto é um coletivo idealizado por jovens, oriundos das periferias de Recife, que trabalham em diferentes áreas de comunicação e educação popular. Com o intuito de estimular debates com temáticas vigentes sobre as problemáticas estruturais, promovendo ações na Região Metropolitana do Recife.
Motivação
Tendo em vista que as informações sobre o que é política sempre foi negado as pessoas da periferia, mesmo que o viver dessas pessoas seja um ato político. A percepção do que chega mais próximo de um contato político partidário ao povo periférico e seus territórios é o que se vê nas eleições municipais/estaduais. Políticos que nunca pisaram naquela comunidade, são vistos abraçando, beijando, fazendo promessas ou subornando e aproveitando as necessidades das pessoas que vivem ali em troca de votos.
As pessoas se sentem abandonadas logo após a carreata passar e tem que conviver com a dura realidade das muitas faltas. Falta de saneamento básico, falta de moradia digna, falta de água, falta de pavimentação e calçamento das ruas, falta de segurança, educação, entre outros;
Objetivo
Pensando nessa contextualização, analisamos que seria de suma importância trazer ao conhecimento do povo que eles podem reivindicar seus direitos mesmo que nas poucas oportunidades que os candidatos fazem visitas nas periferias. Até mesmo informar para as pessoas quais são os papeis de um vereador? De um prefeito? Para que assim os moradores saibam identificar as promessas, que estão sendo feitas, como possível ou impossível. E como, enquanto sociedade civil, podemos fazer a fiscalização dos que forem eleitos e quais os espaços podemos ocupar. Sabendo que dar o poder da informação ao povo é uma potente arma para estimular o senso crítico.
A Oficina
As oficinas ocorreram todos os sábados, entre o dia 16 de outubro a 7 de novembro. Na sede itinerante da Rede Tumulto, na comunidade do Totó. Com 16 jovens/adolescentes da comunidade do Totó, Arruda e Cidade de Deus.
Cada dia de formação uma dupla de educadores (Cecilia da Fonte, Fernanda Paixão, Rick Almeida e Yane Mendes) repassavam os conteúdos de forma lúdica e divertida, para quebrar o clima de que “falar de política é chato”, respeitando as dúvidas de cada um e os seus entendimentos.
No final de cada oficina, a ideia é construir um material de comunicação para estimular o expor sua ideia para o mundo. Cartazes, podcast, vídeo em ferramentas atuais e acessíveis (tiktok) e documentário, fizeram parte dos materiais construídos durante as aulas.
Os temas foram:
Sujeito Político — como o viver é um ato político dentro das periferias brasileiras e o se reconhecer nessa função de ser político. Seja em suas vivências das inúmeras dificuldades encontradas dentro de sua própria casa ou em busca dos direitos que nos são negados; Citando também coletivos e pessoas políticas que são atuantes dentro de seus territórios e suas lutas.
O que faz um prefeito e vereador — conversamos sobre os direitos e deveres de cada cargo político e identificamos que muito das promessas feitas nas comunidades presentes eram inviáveis. Vimos que a representação dentro da política partidária se faz necessária para o reconhecimento de dores que passamos diariamente dentro das comunidades. Assistimos a programas eleitorais passados e vimos que as estruturas se repetem em campanhas atuais.
Racismo, machismo e a falta de representatividade no espaço da política partidária — conversamos sobre as personalidades políticas que estão ou estiveram dentro do espaço de políticas partidárias e o quanto é importante que resistamos e ocupamos mais esses territórios, até então pouco explorado pelo povo. Foram exibidos dados estatísticos com relação aos números de mulheres e pretos dentro da política partidária. Apresentamos e dialogamos sobre a relevância das contribuições de mulheres que tem o histórico de luta dentro dessa estrutura partidária como Antonieta de Barros, Benedita da Silva, Jô Cavalcanti, Erica Malunguinho e Marielle Franco.
Lutas coletivas na política — falamos como a união popular com um único intuito é uma potente arma na resolução dos problemas sociais. Mostrando como o grito do povo pode estar em músicas e protestos. Pontuando casos atuais que pauta os debates pertinentes como acesso a justiça;
Encerramento
A última atividade do projeto de Acesso a Política foi uma live, no instagram da Rede Tumulto. Teve a participação de 5 candidatos a vereador/vereadora do Recife, sendo eles Will Gonçalves, Pedro Stilo, Preta Juntas, Ivan Moraes e Lu Mattos. O intuito era promover o dialogo com os jovens da oficina, onde foram questionados sobre dúvidas de como eles se sentem com relação à política partidária.
A live ocorreu na sede itinerante do Totó, além da exibição no instagram da rede, a equipe se dividiu para exibir a live nas duas comunidades que também fazem parte do projeto: Arruda e Cidade de Deus.
Contando com apoio de articuladores locais. Com a ideia de tornar esse debate público numa forma que os moradores se sentissem representados e questionados pelas perguntas feitas por jovens da própria comunidade.
Aprendizados
O projeto encerrou de forma muito gratificante, tanto para a equipe, quanto para os jovens e comunidades. Mas se vê que é necessário esse trabalho na base abordando conceitos políticos e contextualizando com a vivencia de cada comunidade, de uma forma que questione e combata a atual conjuntura. Acreditamos que o projeto nos dá possibilidade de dialogo de uma forma eficaz, trabalhando diretamente na raiz do problema.
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