Vai e Vem — Nem Tudo é Lixo: sobre a urgência da educação socioambiental

Fernanda Paixão
RedeTumulto
Published in
5 min readFeb 7, 2021

Vivência com crianças, adolescentes e jovens na comunidade Cidade de Deus, Recife-PE, utilizando a música e cultura popular como ferramenta de aprendizado.

Vai e Vem — Nem Tudo é Lixo: é um projeto de alto impacto social que promove através da educação socioambiental, cultural e musical uma reflexão sobre a cultura do consumo e descarte. Buscando estimular um novo olhar sobre tudo aquilo que jogamos fora e trazendo os questionamentos vivenciados nas partilhas feitas na Comunidade Cidade de Deus: De onde veio? Pra onde vai? Será que posso reaproveitar? Trazendo assim caminhos para uma reutilização criativa dos resíduos sólidos. Promovendo um debate sobre o meio ambiente, sustentabilidade e consciência nas crianças, adolescentes e jovens. Que se tornarão os agentes multiplicadores para suas famílias e comunidade todo o aprendizado, tornando o local em que vivem mais saudável e sustentável.

Equipe: Caio Philippini, David John, Fernanda Paixão e Neto Costa

Aluno tocando pandeiro de garrafa pet em uma das atividades da vivência

Motivação

Com o apoio da ActionAid, através do Edital Ciranda, tínhamos um desafio de pensar junto a Comunidade Cidade de Deus: mapearmos, priorizarmos, estruturarmos e realizarmos uma atividade que apresentasse uma melhoria para uma das dificuldades enfrentadas pelos moradores locais.

Comunidade Cidade de Deus — localizada na Zona Norte da cidade do Recife, próxima a comunidade do Arruda, carrega muito estigma como várias concentrações periféricas do Brasil. Porém chegar na Cidade de Deus é ser bem acolhido por aquelas pessoas que também merecem o nosso acolhimento.

Percebemos, ao chegar na praça central da Cidade de Deus, um grande acumulo de lixo, o que acarreta diversas outras problemáticas como proliferação de insetos, transmissão de doenças, poluição visual, entupimento de bueiros, alagamentos e enfim.
Analisamos e conversamos com os moradores com o objetivo de priorizar um dos diversos problemas enfrentados naquele local (como falta de estruturas na coleta de lixo, falta de água, dificuldade de acesso a saúde, falta de segurança pública, falta de educação, …) e para a nossa surpresa a maioria das pessoas falaram sobre o lixo.
Com um pouco mais de pesquisa com relação ao contexto geral de outras favelas e também de acordo com as nossas vivências, vimos que falar do lixo pensando o que seria essa cultura de consumo e descarte, seria um ponto relevante de aprendizados e reflexões para nós, para a comunidade local e para a sociedade.

Objetivo

Partimos para o planejamento de como facilitaríamos essa vivência, utilizando ferramentas que despertasse os interesses das crianças da primeira infância e também adolescentes e jovens, que estivessem a disponibilidade de querer vivenciar aqueles momentos de oficina.

O intuito seria:
1. Criar um ambiente de aprendizado ao ar livre, na praça — com a ideia de trazer essa reflexão para onde estava concentrada o problema discutido e assim direcionar a um senso coletivo de cuidados com aquele ambiente.
2. Direcionar esses conhecimentos para crianças da primeira infância, mas acolher outras idades que demonstrasse interesse — por ser um ambiente aberto não poderíamos limitar quem participaria das atividades. Sabendo que o acesso a informação é um problema da comunidade como um todo sem delimitações de idades.
3. Despertar uma cultura consciente de descarte e consumo — estimulando a reflexão dos participantes com relação desde o momento da compra de algum produto ao descarte dele. E como podemos reutilizar e criar novos produtos, sem prejudicar o meio ambiente, a saúde pública e a facilitar a coleta de lixo (sendo por catadores ou por órgãos públicos).
4. Utilizarmos a música e cultura popular como forma de facilitar o conteúdo — como o coco; Que por mais que se tenha se originado na base, por vezes se apresenta distante da população. A ideia é que tornasse o coco algo mais próximo e pertencente as pessoas locais, no intuito de reconhecimento da cultura do estado de Pernambuco.

Exercício prático sobre coleta seletiva

A Oficina

Ocorreram na praça da Cidade de Deus, todos os sábados durante 8 meses entre 2017 e 2018. Não tendo uma lista fixa de participantes, mas determinando um horário de iniciar e finalizar as atividades. Assim criou-se uma cultura onde as crianças, adolescentes e jovens já marcaram de forma mental que aquele momento estava reservado, de um jeito convidativo e não determinativo, a conversarmos sobre o meio ambiente.

Nas aulas o assunto eram trazidos em contação de histórias, que foi adaptada para o contexto geográfico e cultural da própria comunidade. Música criada para o projeto e atividades. Mostramos a possibilidade de criar produtos interessantes com objetos que normalmente vão para o lixo, como garrafa pet, resto de madeira, papel, entre outros. E recriamos com esses materiais: pandeiro e kazoo de garrafa pet, chocalho de madeira e tampinha de garrafa, mascaras com papelão, …

Caio Philippini, oficineiro, tocando o pandeiro de garrafa pet. Meninos e meninas acompanham com o chocalho de madeira e tampinha de garrafa.

Falamos sobre a importância da coleta de lixo, dos catadores, do ciclo de vida de cada material do nosso dia a dia e das dificuldades enfrentadas se não fazermos a nossa parte.

“Vai e vem, vai e vem
nem tudo é lixo
Use com consciência
evite o desperdício
Cuidado com o lixo
e onde vai jogar
Preste bem atenção
e vê se pode reciclar
Vai e vem, vai e vem
nem tudo é lixo
Use com consciência
evite o desperdício
Da pra fazer muita coisa
reciclar também é arte
Pro bem do ambiente
fazemos a nossa parte”

Aprendizados

A vivência com aquelas crianças, adolescentes, jovens foi algo muito potente no ponto de vista de ações que transformam a rota para o caos.
Sabendo que as questões ambientais é um assunto urgente, levar para o campo de ação e plantar uma sementinha de consciência naquelas pessoas que participaram, por vontade própria a cada sábado, nos deu uma sensação de dever cumprido.

O que precisamos?

Que este trabalho tenha continuidade. É necessário e emergencial que tenhamos mais investimentos em ambientes de aprendizados como esses, que utilizam ferramentas de facilitação de conteúdo e sejam eficazes em suas propostas, para avançarmos nas discussões sobre o consumo e descarte conscientes.

Obrigada por acompanhar até aqui! Quer saber de mais detalhes de nossas ações acompanha na nossa página.

--

--