A Nacionalidade em colapso

Eric Balbinus de Abreu
Vértice
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2 min readSep 7, 2020
ilustração/@ericbalbinus

Neste 7 de Setembro o clima é de cansaço, de estafa. A impressão generalizada é de que não há qualquer entusiasmo fora da ópera bufa do nacionalismo bolsonarista. Mas mesmo neste a Pátria não é o objeto venerado: o que estes “neopolicarpos” cultuam é a própria torpeza, cujos valores em prol da barbárie são encarnados na figura de seu Messias miliciano.

Sim, qualquer um fora deste círculo se ressente nesta data. A lembrança aqui é dolorosa, seu fardo causa lembranças ruins. O Brasil que vive a mesma crise com intensidades diferentes desde meados de 2013 parece indigno de qualquer apreço. Como dizem muitos em tom jocoso, a saída é o aeroporto.

O que não pode ser dito de modo algum é que estas coisas se originaram nas chamadas jornadas de junho, que a culpa é do petismo ou que é tudo responsabilidade da enxurrada que sobre nós se abateu por ocasião da ascensão de Bolsonaro e Olavo de Carvalho. A crise é da própria nacionalidade.

Sim, nossa nacionalidade é uma gambiarra. Este território tinha por finalidade original prover de commodities a metrópole portuguesa, sua ocupação se deu por meio da concessão a aristocratas que repetiam aqui um modelo de vassalagem mesclado com parceria público privada. O Estado não se fazia presente de forma saudável, mas sempre mesclado a interesses privados (e por vezes escusos). Um país em que não existe sociedade, apenas os ricos, os poderosos e os outros.

Uma nacionalidade que norteia manifestações odiosas, que sustenta discursos de divisão e que se nega a propor o que quer que seja para os que descendem dos escravizados e excluídos torna difícil a tarefa de amá-la. Uma pátria que funciona como uma réplica infame do atraso civilizatório ibérico ficaria melhor em um livro de realismo fantástico que na realidade, embora seja esta a nossa sina desde sempre.

O que vivemos agora não é fruto do acaso ou obra de algum grupo específico, mas a consequência de um processo histórico vil, operado por homens presunçosos e de pouca visão. Se a nacionalidade que nunca foi projetada como tal hoje enfrenta seu colapso, talvez seja apenas a conclusão de uma etapa prevista. Para os que desejaram um país baseado no latifúndio, na escravidão, nos privilégios das classes altas e na exploração, não há que se dizer que o Brasil deu errado. O projeto de país atrasado deu certo, o que deu errado foi a tentativa de nacionalidade cidadã.

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Eric Balbinus de Abreu
Vértice

Bacharel em R.I, pós-graduado em Ciência Política e cursando MBA em Desenvolvimento Sustentável. Centrista e Corintiano, claro.