Hamilton Mourão contra o Mundo

Eric Balbinus de Abreu
Vértice
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3 min readSep 22, 2020

O general Antônio Hamilton Mourão vestiu a farda e voltou para o front, desta vez contra o bom senso. Vice do presidente Jair Bolsonaro, o militar da reserva resolveu se colocar na linha de frente da guerra contra os recursos naturais, contra a biodiversidade e contra a verdade, em prol dos interesses inescrupulosos daqueles que querem espoliar o território brasileiro da forma mais predatória.

Pessoalmente não sou dos que gostam deste tom de militância inflamada, mas considerando os fatos, as alternativas neste sentido são muito reduzidos. Foi de forma racional e calculada que Mourão se lançou na campanha delinquente do governo Bolsonaro contra o meio ambiente. Se em alguns momentos deu pitos no ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi apenas porque o jagunço anti-ambientalista é indiscreto nos modos. Bem ao contrário do general, que por vezes tenta se passar pelo lorde enquanto atua como saqueador.

Mourão deixou claro no artigo escrito no Estadão que pensa como Bolsonaro em pontos fundamentais: a visão autoritária, a crença de que a atuação da imprensa é um estorvo e que a sociedade deve ser tutelada por quem tem a forças das armas. Incumbido de chefiar o Conselho da Amazônia, provou que é exatamente como Bolsonaro no desprezo pelo meio ambiente. A diferença é que Mourão tem classe. Não fará como um miliciano tosco que acusa um ator norte-americano de financiar as queimadas na floresta.

O general dirá que os números foram exagerados, que pretende implantar “análise qualitativa”. O general não desistiu de sua agenda nem diante do apelo de oito embaixadores, que preocupados com os rumos da crise ambiental na Amazônia se manifestaram em carta conjunta pedindo que as autoridades brasileiras se mobilizem. Ao que parece, Mourão deu de ombros, não aos estrangeiros — mas para a verdade. Inebriado pela delinquência, resolveu culpar a França por um único garimpo ilegal na Guiana.

Considerando os modos do neandertal que é titular, o vice que nega a realidade até parece bonachão. Mas não se enganem. Os gestos estão ligados a mesma gênese antipatriótica que marcou boa parte da trajetória de nossas Forças Armadas. O antipatriotismo se traduz não só nos desprezo pelos civis, no desejo de manter o povo como gado e se possível neutralizar qualquer um que questione o destino manifesto dos fardados. Ele aparece também na gestão criminosa de questões estratégicas. Os militares no passado camuflaram a corrupção e a degradação do meio ambiente pela força das armas. Só aceitaram a liderança do indisciplinado tenente Bolsonaro (capitão foi o título da reserva) porque era esta a oportunidade de botar novamente as mãos na cumbuca.

Enquanto você lê, o Pantanal, Amazônia e Caatinga ardem. O governo enrola, talvez para dar tempo aos grileiros. O antipatriota Mourão e os demais generais que traíram o povo se refestelam ao lado de Bolsonaro. São tão sócios do governo miliciano que alguns até apoiaram a tresloucada tentativa de interferência no Supremo Tribunal Federal (de novo, pelas armas). O problema aqui é que a banda podre está perto do poder. Até o momento nenhum Teixeira Lott ou Eduardo Gomes deu as caras, tudo o que temos são os Góis Monteiro de baixo orçamento. Do alto de seu oportunismo doentio e engordados pelas benesses do governo, assistem de forma obscena Jair queimando o que não deve até a última ponta.

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Eric Balbinus de Abreu
Vértice

Bacharel em R.I, pós-graduado em Ciência Política e cursando MBA em Desenvolvimento Sustentável. Centrista e Corintiano, claro.