Agente de Inteligência

Rafão Araujo
Reduto do Bucaneiro
6 min readFeb 17, 2019

Um conto que mostra um pouco da vida dos agentes duplos, espiões e informantes através de Immoren. Um agente da inteligência se especializa em obter e manipular informação. A maior parte desses indivíduos trabalha como “espião” para diferentes organizações de inteligência, infiltrando-se em círculos sociais ou em outras organizações para roubar segredos. Eles são mestres do disfarce e da adaptação, capazes de se misturar em praticamente qualquer lugar. Com um tempo mínimo de preparação, eles também são capazes de criar identidades praticamente perfeitas para missões de longo prazo. Agentes da inteligência são tão rápidos de raciocínio quanto são com os pés e, se um deles não souber como lidar com uma situação, será esperto o suficiente para não deixar ninguém perceber isso. Agentes da inteligência normalmente são ladinos altamente habilidosos e especializados em perícias sociais. Ocasionalmente, pessoas de outros ramos da vida podem ser qualificadas o suficiente, embora uma grande quantidade de finesse social seja obrigatória.

Texto Original por Jon Thompson

“O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?”

Lorde Bridry congelou. Aquilo era uma pistola em suas costas? A jovem voz estava acompanhada de guardas? Ou o homem pensava que, sozinho, podia enfrentar o velho Elyas Bridry com uma lâmina? O nobre de cabelos brancos virou-se para ver um jovem e familiar cavalheiro, o projeto malfeito de barba finalmente raspado de seu queixo, esculpindo uma face mais madura do era da última vez em que Bridry vira o garoto. Sorridente, Randyl Lhyvreyn abriu os braços, esperando um abraço.

“Bridry! Pensei que o meu pai tinha expulsado todo mundo de seu escritório,” o jovem afetou um tom de censura, ainda sorrindo.

“Digamos que ele deixa eu saquear a biblioteca em raras ocasiões, em troca de certos favores que nós não vamos mencionar,” o velho respondeu com uma voz espessa, abraçando brevemente o cavalheiro e dando-lhe um tapinha nas costas.

Considerando-se os círculos aristocráticos que o Lorde Goddard Lhyvreyn e o renomado Elyas Bridry freqüentavam, mencionar “favores” de modo tão despreocupado poderia ser visto como ousadia. Contudo, Randyl descartou o comentário com uma risada — mas uma risada dura.

O olhar de Bridry subitamente viajou por toda a sala escura. Como um apêndice da propriedade que se localizava dentro do caminho de chaminés fumegantes de uma das várias fundições de ferro e bronze de Rynyr — muitas delas de propriedade da família Lhyvreyn — a biblioteca de Lorde Goddard estava sempre escura ultimamente. “Bastante impressionante, na verdade. Eu aprendi mais aqui do que na academia.”

“Ah, quem aprende qualquer coisa na academia?” o jovem riu. “E então? Vinho?”

“Infelizmente, não. Não posso ficar muito tempo. Outros assuntos, sempre.”

“Uma pena, mas eu entendo. Dizem que você é um homem bem ocupado.” Houve uma minúscula pausa, que fez Bridry se perguntar se o jovem Randyl estava arriscando uma insinuação bastante ousada. Mas o rosto era honesto demais; os modos, ingênuos demais — bem diferente do pai, pensou Bridry.

Parecendo alheio ao escrutínio, Randyl prosseguiu. “Então, por que um emissário político como você passa tanto tempo com livros, afinal de contas? Não deveria haver algum lacaio que lesse para você, enquanto você corre pela corte, armando estratagemas com todos os outros nobres?”

“Estratagemas? Hah! Talvez em meus dias de juventude. Esse fogo já me deixou,” disse Bridry, inserindo com habilidade um sinete dourado em suas calças, mantendo sua fachada calorosa enquanto seu olhar vasculhava a sala, procurando pelo painel que deveria estar escondido em algum lugar. Ele absorvia cada possibilidade — a tapeçaria, os quadros, a lareira, a escrivaninha sob o belo suporte de pistolas, as estantes de livros… Ah, sim, algo nas estantes de livros… Algo que não estava certo.

“Então, o que está lendo?” perguntou o jovem nobre. “Eu já li muitos destes.”

Bridry virou-se e examinou as estantes. Ele não tinha lido nenhum desses livros. Subiu uma pequena escada e retirou um tomo bastante trabalhado, com cantos de metal, intitulado O Império Menita subseqüente à Era da Reconstrução. “Estou quase acabando um tratado interessante dos templos menitas, principalmente os do oeste de Khador. Um estudioso brilhante — um velho camarada meu dos tempos antigos, Sir Wilby Albenbright — escreveu-o, mas eu devo dizer que estou decepcionado por descobrir que ele se concentrou em templos que ainda existem, em vez dos templos em ruínas, muito mais interessantes. Eu amo a história antiga, você sabe.” Ele recolocou o volume no lugar, e apanhou outro. “Mas agora estou ansioso para mergulhar neste velho tomo.”

Seu dedo pousou em um livro vermelho desbotado, as letras douradas em sua lombada já quase negras. Puxou o livro com cuidado, mas ele não se mexeu. Falso. Certamente parte de um painel.

“Muito ansioso,” ele sussurrou. “Randyl, acabo de lembrar de algo que quero mostrar a você. Mas primeiro, vá buscar Wexler, por gentileza. Eu quero terminar uma passagem curta, e então vou encontrá-los na biblioteca central, no andar de baixo. Acredito que vocês dois vão ficar surpresos.”

Randyl observou o homem desconfiado por um momento, e então sorriu. “Muito bem, Bridry. Você sempre foi dado a surpresas. Imagino o que tenha aprontado dessa vez.” O jovem nobre sorriu de novo e fez uma mesura com a cabeça antes de deixar a câmara para procurar seu mentor, Artys Wexler, o Ministro de Segurança da Casa Lhyvreyn.

Bridry esperou alguns segundos, para se certificar de que Randyl fora embora, e então examinou o salão forrado de carpetes. Ninguém à vista. Fechou a pesada porta de ferro com um estalido metálico, trancou-a, e puxou um relógio de bolso dourado de seu colete de lã. Abriu a tampa e olhou os ponteiros de ouro — pouco mais de uma hora antes do anoitecer. Ele ainda tinha algum tempo, mas não podia arcar com outra distração.

Bridry devolveu o relógio ao seu bolso e olhou na direção do painel falso. O velho se moveu com rapidez, retirando o cinto para revelar uma fina bolsa que estava alojada na parte de baixo de suas costas. Não teve problemas com o painel e, momentos depois, estava no centro da sala, segurando em suas mãos um maço de papéis selados com um sinete elaborado — o mesmo sinete que agora repousava confortavelmente no bolso de suas calças.

“Ah, você vai ficar surpreso, jovem Randyl,” ele disse para a porta onde o jovem havia estado momentos atrás. A voz de Bridry agora era, repentinamente, profunda e decidida, nada parecida com o rangido encarquilhado do idoso emissário. Era a vos do mestre espião Armand Rhywyn.

Armand caminhou pela sala em passos sólidos, sem demonstrar nenhuma sugestão de idade, e apanhou uma sacola de couro que estava sob um canapé que imitava o estilo iosano. A sacola continha um uniforme de guarda da Casa Lhyvreyn e alguns outros acessórios. O espião pegou o uniforme e colocou o maço de papéis dentro da sacola, e então virou uma esquina no salão para trocar seu disfarce.

O Conselho dos Nobres não vai aceitar muito bem que a artilharia que eles encomendaram seja vendida sob seus narizes para os expansionistas khadoranos,” sussurrou a voz profunda de Armand. “Então, quando eles virem estes documentos com o selo de Lhyvreyn, imagino que vão arrastar o velho Goddard para o tribunal em um dia ou dois,” o espião descolou uma tira de cera cor de pele de seu rosto, revelando um maxilar duro e bem-escanhoado. “Nessa hora, seus desgraçados dissimulados, a primeira coisa que vocês vão sentir é surpresa — isso eu prometo!”

--

--