Kraken

Mini Conto

Para: Major Vance Cuthbert

De: Capitã Lorna Mosley

Major,

O SRC foi chamado para avaliar um gigante infernal abandonado de tamanho imenso descoberto por uma equipe de recuperação ao largo da costa perto da Guarda Oeste, na Província de Brejo Oeste. A natureza desta descoberta se fez necessário agir com extrema discrição para garantir que nenhuma informação sensível se disseminasse. Como estou alocada na Nona Divisão de Portão Alto e oficial de campo mais próxima, tomei comando de toda a operação e de todo o pessoal envolvido. O que se segue é o meu relatório da descoberta do objeto, sua anatomia, a significância militar de seus armamentos e sua relação com certos relatos históricos e recentes com possíveis ataques Cryxianos em terra e mar.

– Capitã Lorna Mossdale

Antes que eu relate mais informações sobre o objeto em si, acredito que seja importante detalhar os eventos que culminaram com sua descoberta. É sabido que muitos navios se perderam no mar durante as invasões Scharde, e embora muitos foram afundados em águas profundas demais para serem recuperados, alguns poucos se encontram em águas rasas costeiras. Quando um desses navios afundados é descoberto, a Marinha faz todo o possível para readquirir equipamentos valiosos e registros. Estas operações de Recuperação são geralmente conduzidas por tripulações civis experientes que operam entre Portão Alto e Guarda Oeste. Este foi o caso.

Três semanas atrás, os destroços do HMS¹ Adamante foi encontrado perto da vila costeira de Alberden, cerca de oito milhas ao norte da Guarda Oeste. Mergulhos exploratórios descobriram que o navio estava a menos de 18 metros de profundidade e estava mais ou menos intacto. O Adamante foi perdido durante as invasões Scharde sob circunstâncias desconhecidas. Ele carregava uma remessa de córtices classe Arcanum, que seriam entregues em Guarda Oeste.

Registros indicavam que os córtices estavam em um compartimento selado, e era possível que alguns sobreviveram intactos. A promessa de recuperar córtices funcionais foi o suficiente para convencer o Lorde General Gollan da viabilidade de uma operação de Recuperação. A Coalizão de Recuperação da Guarda Oeste foi contratada para operar o mergulho e a recuperação; um destacamento militar simbólico de Portão Alto foi mandado para escolta.

Dois dias após o início das operações, o time de mergulho descobriu um grande construto Cryxiano no fundo do oceano perto da proa do Adamante. O construto estava inerte e fortemente danificado, e foi puxado para a superfície para exame posterior. A escolta militar supervisionando o time de recuperação civil imediatamente determinou que a descoberta era sensível o suficiente para nos contatar. Neste ponto, eu viajei até o local com um destacamento de patrulheiros e assumi o comando da operação.

O Naufrágio em Alberden

Chegando a Alberden, fui levada imediatamente à praia onde o gigante infernal foi retirado do mar. Múltiplos navios equipados com guindastes movidos a vapor foram necessários para puxar o Behemoth até a superfície, e deste ponto, um grupo de gigantes de trabalho aquáticos o guiaram até a costa. O oficial comandante na praia, um tal tenente Braden Yeardly, havia feito um trabalho louvável isolando a área e mantendo os locais sob controle. Quando eu assumi, o ten. Yeardly minuciosamente me informou da situação, e após isso comecei meu exame do gigante infernal.

Apesar de eu ter um conhecimento rudimentar dos construtos Cryxianos, não sou de forma alguma uma expert. Visto que não havia tempo de obter os serviços de alguma autoridade no assunto, fiz o meu melhor para providenciar uma descrição preliminar com o máximo de detalhe possível. Um estudo mais completo do construto será conduzido por aqueles mais apropriados ao caso na primeira oportunidade.

A primeira coisa que notei sobre o gigante infernal de Alberden foi o tamanho. É de longe o maior gigante infernal que eu já vi ou ouvi a descrição. Facilmente tem quatro vezes o tamanho de qualquer gigante infernal anfíbio conhecido. Estima-se preliminarmente que seu peso ultrapasse oito toneladas. Na aparência, o gigante infernal de Alberden se assemelha a um enorme artrópode mekânico. Possui um vasto e bulboso casco de metal enegrecido, dos quais ****** quatro pernas articuladas, cada uma equipada com um esporão metálico. As pernas frontais possuem um revestimento blindado, presumivelmente para repelir fogo inimigo e proteger a pequena cabeça do gigante infernal.

Uma das características mais impressionantes é um par de enormes tentáculos de aço conectadas a parte inferior do casco. Cada uma tem mais de trinta pés de comprimento e são equipadas com pinças perversas (vice-like pincers). Estes membros foram obviamente feitos para agarrar e rasgar, e como evidenciado pelo dano ao Adamante, são fortes o suficiente para rasgar aço. Os tentáculos estavam gravemente danificados e um havia sido arrancado até a metade de seu comprimento. Eu acredito que este dano tenha pouco a ver com o fogo lançado pelo Adamante. Meu palpite é que, quando o Adamante naufragou, de alguma forma, os tentáculos se prenderam ao casco e o construto foi puxado até o fundo, ficando preso embaixo do navio naufragado. A posição do Adamante e do gigante infernal quando descobertos corroboram esta teoria.

O armamento primário do gigante infernal de Alberden se consiste em seus tentáculos e pinças, uma pequena arma de vários canos afixada a um braço articulado abaixo de sua cabeça, e um canhão de cano longo massivo localizado na parte superior de sua carapaça. É desconhecido que tipo de munição suas armas a distância utilizavam, visto que os mecanismos de tiro se encontram dentro de sua imensa casca blindada. Para nossa sorte, aparentemente um dos tiros do Adamante disparou acertou em cheio o gigante infernal, fazendo um buraco em sua armadura exterior, e nos dando acesso a suas entranhas. O que achamos lá dentro era chocante, pra dizer o mínimo.

Apesar de termos acesso a cavidade interior do gigante infernal de Alberden devido ao dano que o mesmo sofreu em batalha, o acesso também parece possível através de duas escotilhas em cada lado do casco. Cada escotilha era equipada com um mecanismo de íris dilatador. Apesar disso, não conseguimos descobrir nenhuma forma de abri-las. Primeiramente, assumimos que estes portais foram projetados para permitir o acesso de necrotécnicos Cryxianos aos mecanismos internos do gigante infernal, entretanto, após examinarmos o interior do construto, acredito que elas servem um propósito mais macabro.

O interior do gigante infernal era espaçoso e coberto com uma variedade de protuberâncias e aparatos cortantes, os quais estão sendo analisados. Mantinha também o mecanismo interno de tiro das armas do construto (cuja operação não poderíamos começar a entender) e os restos esqueléticos de quatro marinheiros cygnaranos. Aos meus olhos, este espaço se assemelha a nada menos que uma cela de algum tipo. Isso, em parte revelou o propósito das escotilhas iridáceas nos lados do casco e as pinças agarradoras nas pontas dos tentáculos do gigante infernal. É evidente que o gigante infernal de Alberden agarrou marinheiros com seus tentáculos e os enfiou pelas entradas de acesso laterais. Mas para que propósito? Não tenho nenhuma teoria concreta neste momento, mas sabendo o que sei sobre a tecnologia Cryxiana, não posso evitar de imaginar um sem-número de terríveis destinos.

Os corpos dentro do gigante infernal estavam além de qualquer identificação, mas estamos mandando-os para Caspia para que sejam enterrados com todas as honras.

Relatos Adicionais

A descoberta do gigante infernal de Alberden levanta questões perturbadoras sobre os muitos relatos de atividade Cryxiana tanto no presente quanto passado. O HMS Adamante naufragou a cerca de vinte anos, seu casco fatalmente comprometido pelas garras e canhão do gigante infernal de Alberden. É improvável que este gigante infernal seja um construto único, e eu acredito que gigantes infernais como este são responsáveis por diversos ataques misteriosos a navios cygnaranos durante e após as invasões Scharde. Adicionalmente, reportes da Floresta dos Espinhos parecem indicar que as atividades cryxianas lá possam estar sendo apoiada por estas criações necromekânicas.

Abaixo estão três relatos de possíveis ataques cryxianos que acredito que indicam o envolvimento de um gigante infernal como o encontrado na costa de Alberden. O primeiro é uma compilação de testemunhos visuais de marinheiros a bordo de uma fragata militar que foi atacada e quase afundada pelo que foi descrito como um “monstro marinho”. O mais intrigante aspecto deste relato é que é datado de mais de um século atrás.

Data: 11 de Cinten, 506 DR

De: Capitão Farian Hayes

Para: Comandante Milus Redwater

Senhor,

Entrevistei a tripulação do Victorious, e todos contam a mesma história — algum tipo de besta enorme atacou o navio por baixo, perfurou o casco e quase nos levou a pique. Adicionalmente, muitos marinheiros insistem que esta besta agarrou homens com os tentáculos e os devorou.

Existem, evidentemente, bestas estranhas e terríveis espreitando pelas águas negras da costa próxima a Ceryl, algumas das quais são grandes o suficiente para ameaçar uma embarcação. Entretanto, me mantenho cético de que um “monstro marinho” atacou o Victorious, especialmente quando alguns dos relatos descreviam a besta “expelindo uma fumaça negra terrível” e “cuspindo fogo”. Contudo, além do meu ceticismo, tenho pouco a oferecer. O Victorious abriu fogo contra seu atacante, possivelmente matando-o. Assim sendo, não havia nenhum corpo para examinar e nenhuma maneira de ter certeza do que atacou a fragata.

– Capitão Farian Hayes

O próximo relato é mais recente, datado de pouco mais de três anos atrás. Vem de uma fonte inusitada, um capitão bucaneiro de nome Jaspar Vascal, ativo na região dos Cinco Dedos. Um dos navios do capitão Vascal foi atacado e seriamente avariado de maneira similar ao ataque ao Victorious, quase um século antes.

Data: 9 de Katesh, 605 DR

Alvoro,

O Saber foi seriamente danificado no Golfo do Oeste, e por pouco não conseguimos voltar estropiados para o porto em Ceryl. Algo nos atacou por baixo no meio da noite, algo que preencheu a água com um terrível brilho verde. Nunca chegou a emergir completamente, e tudo o que vimos foram braços que chicoteavam o convés como aríetes, derrubando homens na água ou agarrando-os e puxando-os para o fundo. Perdemos cerca de uma dúzia de homens antes que eu ordenasse que ambos fuzileiros navais abrissem fogo. Eles dispararam às escuras, mas seus canhões o espantaram. Incapazes de nos mover, ficamos no escuro, esperando ele voltar. Graças a Morrow que não voltou.

Fizemos os reparos que podíamos e estávamos prestes a zarpar quando o corpo de um dos homens que havia caído na água emergiu a bombordo. Ele não parecia ter se afogado, parecia atrofiado, como se algo tivesse sugado toda a vida dele. Os homens estavam assustados demais para manter o corpo a bordo, logo, fui obrigado a jogá-lo ao mar.

Faremos reparos aqui e rumaremos norte até Cinco Dedos. Tenha tudo em ordem quando eu chegar — se passará um mês até o Saber estar em capacidade de lutar… e serão anos até eu navegar naquele golfo de novo.

– Vascal

O relato final data de poucas semanas atrás e foi mandado para um agente de campo do SRC por um patrulheiro cuja unidade investigava atividade cryxiana perto do Lago da Água Cega.

Eles toparam com os resquícios de uma batalha recente entre trogs do brejo e… Alguma coisa. Por sorte, um dos patrulheiros entendia um pouco de Quor-og, e foi capaz de interrogar o único sobrevivente.

Data: 3 de Goloven, 608 DR

De: Tenente Orven Styles

Para: Capitão Alain Barrows

Capitão,

Minha unidade se deparou com algo perto do Lago da Água Cega que eu acredito que você deveria saber. Dois dias atrás, enquanto contornávamos o lago e voltando para nossa guarnição em Arroio do Pescador, topamos com os resquícios de uma batalha. Meia dúzia de trogs do brejo e um de seus crocodilos gigantes se enrolaram com algo e levaram a pior. Os trogs estavam crivados de balas ou simplesmente rasgados membro a membro, e o wrastler² possuía um buraco no tórax grande o suficiente para passar por ele.

As árvores e a vegetação da área havia sido esmagada, como se algo enorme havia se movido por elas. Examinamos os trogs e um deles havia sobrevivido. Já que patrulhamos esta região um bocado, um de meus garotos sabia falar um pouco de trog, e conseguiu alguma informação do sobrevivente.

Ele nos contou que seu grupo de caça havia sido atacado por um grande caranguejo de metal que andava em quatros pernas, atirava metal e fogo de seus “chifres” e devorou seus companheiros com seus tentáculos. Não faz muito sentido, eu sei, mas o lugar fedia a necrotita, e o que o trog descreveu parecia um pouco com os gigantes infernais aracnídeos que já vimos Cryx usar nos pântanos. Obviamente, este parece ser bem maior e perigoso. Algo novo? Algo que nunca vimos antes?

– Styles

Finalizando

Penso que é evidente que Cryx utiliza gigantes infernais como o que encontramos em Alberden há décadas. Por conta disso, é imperativo que aprendamos tudo o que pudermos do objeto em nossa possessão. Não tenho dúvida de que veremos mais destes horrores enquanto a nossa batalha com o Império do Pesadelo prossegue nos meses e anos a frente.

Fonte: No Quarter #44