Pedra e Sangue

Um conto que mostra toda a sutiliza dos anões de Reinos de Ferro. Não brinquem com machados sem o acompanhamento de um adulto.

Rafão Araujo
Reduto do Bucaneiro
16 min readFeb 17, 2019

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Escrito originalmente por Douglas Seacat

O espião se moveu rapidamente parede acima, luvas com garras encontrando seu caminho através das pedras assentadas, suas botas com travas fazendo o mesmo. Ele saltou sobre o telhado com pouco ruído, e deitou-se nas sombras, suas vestimentas negras mesclando-se facilmente com a superfície. Era um anão esguio, mas vigoroso. Esgueirou-se até a beira e olhou sobre ela, para então se encostar confortavelmente em uma chaminé próxima. Aqui, ele teria uma visão estratégica dos portões dos fundos de uma fortaleza próxima, que se abriam para um beco estreito. Se encostou para uma longa vigília, e buscou em seus trapos uma maçã que guardara para o lanche.

Ele quase a deixou cair quando os portões do fundo se abriram com um estalo, e anões emergiram dele seguidos por bois puxando pesadas carroças de carga. Em grande número marcharam pelo beco, para então virar para o norte. Todos vestidos de armaduras de placas pesadas e reforçadas, suas botas martelando contra as pedras, e alguns com poderosos rifles em seus ombros. O espião os viu partir e os contou.

Golrick estalou seus finos dedos e apontou para a janela, assinalando impacientemente. Seu servente desamarrou os freios das rodas, virando a pesada imitação de trono sobre um pivô, para então empurrá-la até a janela. O trono era pesado, mas as rodas deslizavam com maciez sobre o piso polido. As pernas inúteis de Golrick, atrofiadas e retorcidas, estavam escondidas por mantas sobre seu colo. O trono com rodas era seu único meio de movimentação, já que ele se encontrava velho demais para poder se apoiar em muletas.

Apesar deste obstáculo, ele era um anão orgulhoso e sua presença era majestosa. Seus cabelos de cinza puro, bem como sua longa e trançada barba. Insistia em usar uma brilhante camisa de malha de metal, apesar do peso e do fato de combinarem de forma peculiar com as mantas em seu colo.

Em cada janela do seu quarto havia um longo aparato fixado com lentes, apoiados em suportes com juntas móveis. Ele olhou através dele para a cidade, observando os telhados, os becos estreitos, os edifícios amontoados, as torres erguendo-se para o céu. Sorriu com a vista, boas construções anãs, todas elas, com o desenho de vários clãs, decoradas esparsamente e com linhas limpas. Esta era Ghord, maior cidade de Rhul, e assim a maior de todas as cidades. A mão de Golrick havia posto parte de si em vários destes edifícios. Ele os conhecia como a seus próprios ossos. Era ele o mestre construtor do Clã Dorgun, e havia sangrado vida nas pedras desta cidade por mais de duzentos anos.

Ele murmurou, “Quanto tempo até construirmos de novo?”. Uma pergunta feita pelas vozes às suas costas, nos salões, e por todos os anões sob seu comando. Anos se passaram desde que o Clã Dorgun erguera as fundações de um novo edifício. Sua posição no debate se fora, sua orgulhosa herança questionada. Todos sob seu comando. Golrick tocou o batente da janela pensativamente, de cenho preocupado.

Ele não se virou ao som das botas de um soldado entrando na sala do mapa, o estalo da empunhadura do rifle batendo contra o chão em saudação:

espaço — Mestre Construtor Golrick, Lorde Dorgun solicita sua presença.

— Agora ele quer me ver? — havia humor em sua voz.

Com outro movimento ele apontou para a porta, e seu serviçal moveu-se, girando o trono com rodas e o empurrando em direção à porta. O guarda saiu do caminho com um leve curvar-se.

Fora da sala uma polida barra de metal jazia firmemente presa à parede. Esta barra corria todo o comprimento do salão na distância que compreendia até as defesas da fortaleza. No final da barra, próximo ao portal, havia um complexo motor montado com rodas e dois pinos de metal próximos ao chão. O dispositivo tinha dois braços se estendendo pela barra, arqueados por sobre o topo da mureta como mãos.

Tanto o serviçal quanto o guarda trabalharam uma série de travas na base do trono, removendo a cadeira de sua base com rodas e erguendo-a em conjunto, encaixando-a de forma que escorregasse nos pinos. Amarras foram ajustadas, e o trono preso ao dispositivo. O serviçal fez surgir uma haste metálica de seu cinto e torceu uma das extremidades, fazendo com que uma chama surgisse na outra. Ao inseri-lo em um painel aberto houve o som de fogo se espalhando. Rapidamente o mecanismo se estremeceu em antecipação enquanto fumaça e cinzas brancas de vapor surgiram de diversos tubos na parte de trás. Todo o trono vibrava como se os tremores acelerassem cada vez mais.

Golrick fez um gesto e o serviçal encaixou as engrenagens fazendo com que todo o sistema entrasse em movimento. Golrick ficou pressionado contra sua cadeira a medida que o mecanismo acelerava através da mureta, movendo-se salão abaixo. A porta abaixo se abriu e a cadeira seguiu através das defesas, virando bruscamente abaixo e ao redor do salão interno, em direção a uma sala lateral ligada ao salão principal. Golrick espremeu os olhos devido ao sol e o vento em seus olhos, mas na realidade, apreciava o passeio, como sempre. Ele também se divertia observando os guardas e serviçais pularem do caminho enquanto a cadeira passava, alertados por pouco pelo ruído. Ele encontrou a alavanca de freio enquanto a cadeira deslizava suavemente ao salão principal, parando então abruptamente a menos de três metros do Lorde Rolgor Dorgun. Um dos guardas próximos, habituado a tais aparições, curvou-se por detrás da máquina desconectando as engrenagens para reduzir o barulho.

Golrick curvou sua cabeça para o jovem líder do clã. Rolgor atingiu sua posição há apenas quatro anos atrás, após a infeliz morte de seu pai. Aos olhos veneráveis de Golrick, Rolgor ainda portava sua “gordura de bebê”, sua barba mal era longa o suficiente para ser amarrada em umas simples e curtas tranças. Ele portava os aparatos de líder de clã, mas a pesada tiara de metal assentava-se de forma esquisita em sua testa. O jovem senhor não se surpreendera com a entrada súbita do Mestre Construtor e seu trono móvel. Ele sorriu em boas vindas e ergueu uma folha de papel, coberta em escrita rúnica e selada com tinta colorida na base:

espaço — Um contrato! Temos um contrato de construção, exclusivo ao Clã Dorgun.

Golrick pareceu decepcionado e tomou o contrato em mãos, olhando-o rapidamente. Com um grunhido rasgou-o na metade e deixou as partes caírem no chão.

O jovem senhor observava descrente os pedaços caindo. — Era um bom contrato, Mestre Golrick! A moral tem estado baixa ultimamente. Os homens querem um pouco de trabalho.

Golrick suspirou. — Eu sei muito bem como a moral está, meu Senhor. Não era um bom contrato, era uma autorização para morrer. Não é hora.

— Autorização para morrer? Vinha da Federação de Clãs Felson, trabalho para ser feito em uma plantação a sul daqui…

— E como você acha que o contrato veio parar em nossas mãos garoto? — Golrick percebeu o desconforto de alguns guardas próximos com sua quebra de protocolo, mas nenhum ousou corrigir o Mestre Construtor. — Seu pai era apressado. Um bom homem, e que os Grandes Pais o protejam, mas impaciente. Ele enfureceu dois ricos clãs e os levou a uma disputa com ele, quando não podia encarar um conflito nem mesmo com um. Este contrato vem como um presente de nossos inimigos, meu senhor. No momento em que enviarmos nossos homens para este campo e começarmos a construir, deixaremos nossas defesas abertas aqui.

O jovem senhor assentiu, cinicamente. — Então você disse antes. Devemos ficar paralisados para sempre? Se é assim, já fomos derrotados. Devemos aceitar um contrato um dia, começar um novo projeto, ou nosso clã estará morto!

— Nos moveremos quando for a hora certa, não antes. Devo levá-lo à minha torre novamente? Mostrar-lhe através de minhas lentes onde estão os espiões? Como observam nossas muralhas para cada movimento? Não fomos atacados por meses, mas apenas porque mantemos fortes nossas defesas. Precisamos de paciência, não de pressa.

Antes que o senhor pudesse responder, as portas do salão se abriram e dois guardas do clã entraram, parando então para se curvarem com os punhos sobre seus peitos. Entre eles estava um magro anão vestido em trapos negros e luvas com garras, suas botas com travas fazendo barulho no chão de pedra.

O senhor desviou o olhar do anão maltrapilho com desdém, dirigindo-se ao Mestre Construtor. — Aparentemente seu espião tem novidades. — ele caminhou em direção à uma mesa próxima, como que pensativo, claramente evitando dirigir-se pessoalmente à figura sinistra.

Golrick inclinou-se no trono, — Brand, quais são as novidades?

O espião parecia excitado, sem fôlego da pressa, e ainda usando seus apetrechos. Golrick sabia que ele não teria sequer pensado em invadir o salão do senhor do clã desta forma se não houvesse informações importantes em jogo. — É o Clã Lurgin, mestre. Estão se movendo! O grosso de suas forças saindo pelos portões traseiros!

Lorde Rolgar Dorgun se virou, — Se movendo para cá? Para atacar?

— Não, para longe, com vagões carregando pedras, guinchos, lenha e máquinas de defesa. Saíram para trabalhar. Pareceram quarenta, talvez cinqüenta. Todos armados, na maioria, de martelos, espadas, machados e bestas. Uma dúzia com rifles pesados, e algumas pistolas também. Prontos para problemas eles estão. Mas equipados para trabalho. Não vi seu destino, mas aparentemente seguiram para o norte pela Estrada Tarrow.

Golrick trincou os dentes, os punhos apertando-se contra os apoios de braço, vasculhando entre as possibilidades. — Provavelmente para o Vale Geldin, ouvi falar que há alguns campos sendo trabalhados. Eles estavam com pressa? — Brand sinalizou afirmativamente, e o Mestre Construtor riu, — Tentando fincar território antes que alguém o faça. Audacioso, audacioso. Eles não tem nenhuma disputa no momento, exceto por nós. E tudo tem estado tranqüilo o suficiente para atraí-los. Com cinqüenta homens eles podem manter o campo.

Golrick trocou olhares rápidos com seu jovem senhor, que pareceu mais interessado no assunto, surpreso com toda a excitação no rosto do velho homem. — O que isto significa, Golrick?

— Significa que é hora. — O velho anão riu novamente. — É hora de nos movermos. Eu sabia que a chance viria, mas não tão cedo.

— Três anos não parece cedo para mim — o Lorde relembrou, mas suavemente. — Você acha que devemos seguir para o campo? Cinqüenta homens, armados assim, é problema. Podemos perder muitos homens.

— Não o campo, não. Cudor! Aonde está Cudor? — Goldrick gritou para a porta aberta atrás dos guardas. Um deles se virou e correu, pegando a deixa. Em instantes retornou, um forte e velho anão vestindo uma armadura de placas ao seu lado, carregando um machado de lâmina dupla, braçadeiras e perneiras decoradas com os padrões de sua posição.

Este anão curvou-se profundamente. — Sim, Mestre Construtor?

— Cudor, traga-me quinze campeões, os melhores da muralha norte, torre leste, guarda interna e do portão longo. Traga os que não estiverem trabalhando no momento, e silenciosamente. Diga aos capitães para impor um regime de jornada dupla àqueles em serviço no momento, com pagamento dobrado para silenciar suas reclamações.

Cudor se virou para partir, mas hesitou quando o senhor do clã perguntou. — De que servirá quinze contra cinqüenta, mesmo que armados até os dentes? E como iremos, legalmente, contestar um campo do qual nunca havíamos ouvido falar até hoje? Ou apenas iremos tentar sabotar seus esforços? Uma guerrilha?

Golrick sacudiu a cabeça. — Não vamos nem chegar perto daquele campo, meu senhor. Estamos enviando os homens para a Torre Mithran. Eles deixaram-na desprotegida, ela será nossa.

O senhor piscou surpreso, e engoliu, se dando conta, novamente, que pisava em águas profundas. — Torre Mithran? Que golpe seria. Os homens de meu pai colocaram muito sangue e suor naquelas pedras.

Golrick assentiu lentamente. A construção da Torre Mithran deu início à disputa com o Clã Lurgin. A torre ter caído nas mãos deles foi mais desgastante que qualquer outra disputa na história recente. — Reconquistar a torre também será útil. Nos dará terreno elevado, aonde poderemos colocar homens para dar cobertura aos trabalhos de pedra no campo de Dillvale.

Os sonhos de construir brilharam nos olhos do jovem senhor, Cudor, e também do velho mestre. Ainda assim, dúvida transparecia nos olhos de Lorde Dorgun. — Aquela torre é facilmente defensável, mesmo que a maioria dos homens tenham sido enviados para o campo.

Golrick sorriu de forma contida. — Não precisaremos tomar a torre pela força, eu prometo. — ele virou-se para Cudor. — Quinze anões altos, equipe todos eles, e diga-os para fazerem bastante barulho. Eles irão marchar pelos portões da Estrada do Comércio e deixar todos saberem que irão reclamar de volta a Torre Mithran em nome do Clã Dorgun. Cudor, você irá liderá-los. Use a força que precisar, e não deixe ninguém permanecer em seu caminho.

Cudor assentiu rapidamente e virou-se para ir, mas Golrick o parou mais uma vez. — Leve Buren com você entre os quinze. Ele ficará feliz em participar. Diga-lhe que terá a chance de enfrentar Lurgin. Você o encontrará bebendo, eu creio, ou discutindo com aquela bela esposa dele.

espaçoCudor sorriu com isto. — Buren? Com ele ao nosso lado tenho pena de nossos inimigos. — O veterano se curvou profundamente, e caminhou para fora do salão, seus passos mais confiantes que anteriormente.

Lord Dorgun observou Golrick com um misto de confusão e admiração. — Não tenho idéia de como você espera conseguir isto.

espaçoGolrick olhou-o demoradamente. — Eu sei. — Ele sinalizou para que o já esquecido espião se aproximasse, e lhe deu uma bolsa com moedas. — Precisamos que envie uma palavra ao Juíz Arbitrador do debate, e faça-o saber que uma escaramuça acontece na Estrada do Comércio. Não mencione o fato de eu ter lhe enviado.

Tipicamente movimentada, a intercessão se congelou em uma pausa silenciosa enquanto se espalhava a notícia, entre os anões, de que deviam tomar rotas alternativas ao invés daqueles caminhos pavimentados com pedras. Homens e mulheres anões observavam da proteção de edifícios próximos e ninguém falava nada, com medo de parecerem favoráveis a um lado ou ao outro. Uma rápida barricada foi formada na intercessão leste com vagões, carrinhos de minério e sacos de areia. Por detrás da barricada, duas dúzias de anões se abaixavam com suas bestas, sob cobertura, com os capacetes brilhando. Ao seu lado machados e martelos, prontos para trabalharem. Em seus braços o símbolo do Clã Lurgin.

Este grupo formado às pressas e parcamente armado observava temerosamente através da intersessão para onde uma dúzia de anões de Dorgun estavam reunidos, alguns buscando a cobertura de uma grande estátua que tomava o centro da estrada. Outros se protegiam nos arcos de portas dos edifícios próximos, rifles a postos. Estes anões todos portavam escudos de corpo, quase tão grandes quanto eles mesmos, e os sobrepunham formando uma grande barreira. Diversos anões feridos sangravam no espaço entre os dois grupos, e outros haviam sido arrastados para algum dos lados onde eram atendidos pelos sinistros capelões de clã de cabeça raspada.

Cudor se abaixou atrás de seu escudo e observou o campo oposto em busca de movimento. Ele olhou a sua volta e viu Buren, o mestre-armeiro do clã, sentando quase que casualmente atrás de uma estátua próxima que lhe bloqueava o oponente. O anão parecia relaxado e totalmente desinteressado com a trégua. — Buren, vai nos ajudar ou tirar um cochilo? Saque esta sua pistola e escolha um alvo!

Buren apenas retrucou. — Eu não vim até aqui dar tiros esmos em uma barricada. Chame-me quando a luta de verdade começar. — Cudor apenas balançou a cabeça, virando-se para longe. Ele olhou para o corpo de seu rifle que estava assentado no vão diagonal do seu escudo de corpo. Ele observou a barreira do outro lado do caminho, murmurando entre a respiração. — Que pena, parece que aqueles garotos do Lurgin alugaram todas as suas armas… — Risos emergiram dos anões ao redor dele.

Ele viu o brilho de um capacete espiando por sobre os sacos de areia e deu seu tiro. O som do rifle alto em meio a toda a quietude e a bala penetrando através do capacete com uma nuvem de sangue. Houve o som de um corpo sendo rolado para trás, seguidos de gritos de aversão. — Belo tiro, Cudor! Para um velho! — O anão à sua esquerda bateu em seu ombro. Ambos se abaixaram quando virotes de besta encravaram-se em seus escudos. Cudor abriu o rifle para limpar e recarregar, perscrutando a bolsa de cargas alquímicas em sua cintura.

Da intercessão norte um anão veio para o centro, alheio ao perigo. Vestia um manto de placas de metal negro e andava com um pesado cajado decorado com runas. Um capacete prateado em sua fronte e seus olhos eram duros. Sua barba era longa e trançada. Sussurros eram ouvidos em ambos os lados. — Parem de atirar, é o Juiz Arbitrador! Baixem suas armas!

O Juiz falou em voz alta. — O que é esta disputa que interrompe o tráfego e os trabalhos importantes que deveriam ser feitos nesta estrada? O que significa o sangue em nossas pedras? Vejo as cores de Dorgun e Lurgin?

Um anão parrudo com braços cheio de cicatrizes se ergueu detrás da barricada e veio para frente, falando claramente. — Eu sou Kuln, filho de Kolorn. O Clã Lurgin simplesmente se defende, Ó Honrado. Recebemos a notícia de que o Clã Dorgun se movia para atacar a Torre Mithran e tomá-la como os ladrões que são. Estamos aqui apenas protegendo o que é nosso.

O líder dos escudeiros de Dorgun saiu de trás da fonte. — Eu sou Cudor, filho de Culdorr. O Clã Dorgun se move para tomar o salão de Mithran em resposta à velha disputa com os Lurgin. Ajudamos a construir aquele salão centenas de anos atrás, ainda assim eles cuspiram em nosso trabalho. O nome de nossos ancestrais que assentaram a martelo aquelas pedras não está em nenhum lugar lá para ser visto, como deveriam estar. Lurgin desonrou a todos nós, e ao salão, e assim perdem seu direito a ele. Temos uma moção legal!

— Silêncio, agora! — comandou o Juiz. — Não terei escaramuças ilegais em minha estrada! Ambos os clãs, enviem de suas fileiras cinco campeões para lutar por sua posição. Postem-se diante de mim com seus campeões de disputa e vamos terminar com esta insanidade.

Depois de alguma discussão cinco anões fortes saíram detrás da barricada, armas prontas, ajustando suas armaduras. — Nós estamos pelo Clã Lurgin! — E como um só, ergueram seus pulsos ao peito e curvaram-se perante o Juiz. Buren finalmente pareceu interessado. Ele se ergueu e murmurou, –Fiquem aí garotos. — Os campeões de Lurgin observavam enquanto o enorme anão caminhava para frente. Portava um grande martelo, vestia armadura de qualidade com uma pistola pesada na cintura. Buren coçou sua barba e seus olhos dançavam enquanto gargalhava, fazendo-o parecer pouco mais que um louco. Ele deitou suas manoplas sobre o machado e encarou de frente o Juiz.

— E onde estão os outros quatro campeões de disputa, Clã Dorgun? Não existem outros corajosos o suficiente entre os seus para vir aqui?

Ouve um burbúrio entre os homens de Cudor, e muitos ergueram-se para ir à frente, mas o barba-ruiva sinalizou para que voltassem. — Eu sou Buren do Clã Dorgun, e irei enfrentar sozinho. Não precisamos de cinco heróis para vencer este grupo miserável. — Ele sorriu aos cinco guerreiros diante dele, e houveram alguns murmúrios críticos. — Se eu cair, então os meus irão se erguer, mas eu não temo isto.

— Que assim seja. Um passo a frente, Buren e você. — Ele apontou ao primeiro dos campeões de disputa oponentes, e eles encararam-se.

Buren era tão bom quanto suas bravatas. Ele ficou imóvel diante do primeiro homem, enquanto este parecia intranqüilo trocando o peso de uma perna para outra. O anão de Lurgin deu um passo à frente, testando a defesa do oponente, mas Buren moveu-se com uma velocidade mortal, descendo o seu martelo como um borrão. Seu oponente foi ao chão com um único golpe, o crânio rachado sob o poder do martelo, com capacete e tudo. Seu corpo inerte foi retirado para dar espaço ao segundo campeão de Lurgin. Buren nem mesmo esperou que o homem atacasse, seu martelo desenhou um círculo esmigalhando o escudo e atingindo a lateral de sua cabeça com um som de carne sendo batida, jogando-o ao pavimento. Um som de espanto partiu dos observadores que agora se juntavam, bravos o suficiente para deixar suas proteções à visão do Juiz.

O terceiro oponente apresentou uma luta melhor, atacando e esquivando-se com uma faca em cada mão. Ele dançou sob o martelo e conseguiu atingir a perna de Buren espalhando sangue. O anão de barba ruiva piscou, mas não pareceu afetado. Seu próximo golpe arremessou o homem à metade da escada onde ficou inerte. O quarto pareceu crer que coragem e bravatas ajudariam onde a habilidade não havia servido. Ele soltou um grito de guerra “Por Lurgin!” e correu em direção à Buren, machado sobre a cabeça. Buren riu e saiu do caminho do golpe, deixando sua lâmina cravar entre as pedras do pavimento, então atacou com o seu martelo quebrando o braço do oponente. O próximo movimento de Buren enterrou a parte perfurante do martelo — no lado oposto ao lado concussivo — na têmpora do anão. Os olhos do adversário vidraram e ele não gritou mais.

Sangue escorria da perna de Buren, mas seus olhos brilhantes estavam felizes e loucos, enquanto ele mancava para encarar o quinto e último campeão de Lurgin. O guerreiro olhou o corpo de seus iguais no chão, quebrados e partidos, e suas mãos tremeram visivelmente na espada que segurava. Ele soltou um baixo suspiro enquanto Buren mancava em direção a ele, e ergueu seu escudo, recuando rapidamente em pavor. Os observadores abrindo espaço atrás dele, tentando sair da linha de perigo.

— Pare e enfrente-me, covarde! — Buren rugiu. Um anão mais velho entre os observadores, que aparentemente já havia visto fuga o suficiente, empurrou o campeão de Lurgin de volta à luta com uma força surpreendente. O homem tropeçou, mas manteve seu escudo erguido, movendo-se cegamente em direção ao herói de barba ruiva. Buren golpeou as pernas do anão de baixo dele, e então terminou a luta com um poderoso golpe por sobre a lateral do escudo na cabeça desprotegida do anão. Os observadores comemoraram.

Buren observou os corpos com um sorriso sinistro, e largou uma pesada moeda sobre cada um deles, virando-se então e curvando-se para seus iguais.

O Juiz confirmou. — O Clã Dorgun ganhou o dia. Meu julgamento vai para eles. O Clã Lurgin deve deixar

Kuln protestou. — Isto não está certo! Eu exijo um julgamento perante o debate! Nós juntamos estes homens apressadamente, não esperávamos alguém como Buren entre eles. Tivemos de vir aqui com toda a velocidade para nos defender.

O Juiz não pareceu movido. — Na próxima vez, considere melhor quem trará para defender seu clã, Kuln. O Clã Dorgun venceu o dia. Podemos discutir isto na próximo debate, mas por enquanto, você deve deixar o salão, como ordenado, ou enviarei a guarda do debate para removê-lo.

Com isto, ambos os lados baixaram suas armas. Clã Dorgun gritou uma forte comemoração, enquanto o Clã Lurgin andava em triste derrota em direção à morada de sua família. Ninguém poderia desdizer um Juiz Arbitrador, mas Kuln jurou que iria buscar justiça no debate, e que sua disputa não via hoje sua última batalha. Buren foi erguido nos ombros de seus parceiros, e Cudor lhe prometeu toda a bebida tão logo retornassem com a notícia.

Enquanto isto, no topo da fortaleza do Clã Dorgun, os olhos de Golrick se apertavam contra as lentes de seu aparato de visão. Ele observou a comemoração dos homens do seu clã. Sorriu e assinalou, esquecendo-se por um momento das longas décadas que tiveram seu preço, suas pernas atrofiadas, e o trono do qual agora era prisioneiro. O Mestre Construtor sentiu-se jovem novamente, e falou a si mesmo com satisfação, “Começou de novo.”

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