Reinos de Ferro RPG + Miniaturas = PERFEITO

Porque RdF foi feito para jogar com Miniaturas e isso é Ótimo!

Reduto do Bucaneiro
Reduto do Bucaneiro
8 min readFeb 20, 2019

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Desde que a Jambô finalmente lançou a tradução do novo sistema dos Reinos de Ferro em PDF e, principalmente, agora que a galera está recebendo as versões impressas, um dos assuntos mais comentados é quanto ao paradigma de “utilizar ou não miniaturas no jogo”.

O Reduto do Bucaneiro vem testando desde 2012 este sistema e seus integrantes já tiveram muitas discussões a cerca deste assunto, portanto decidimos compartilhar com vocês e para isso, precisamos pontuar algumas questões de extrema relevância.

Por quê em polegadas?

O sistema de medidas nativo de Reinos de Ferro (livro em inglês) se utiliza de duas unidades: polegadas e pés.

- Polegadas: as medidas em polegadas são a referência para mensurar distâncias no jogo utilizando miniaturas.

- Pés: as medidas em pés são utilizadas para mensurar distâncias em uma condição imaginária, pensando no mundo real.

Sendo assim, para estabelecer um entendimento imaginário entre a mesa de jogo e o mundo real, a Privateer Press estabeleceu que uma polegada (1”) sobre a mesa de jogo é equivalente a seis pés (6 feets) em uma condição real.

Chegando em terras tupiniquins, temos então um problema! Nós, brasileiros, de modo geral não temos uma noção espacial em pés, mas sim em metros e isso é um grande problema.

Você pode pensar “Ora bolas, converta para metros e fim de papo!” e você está certo!… Ou parcialmente certo…

Converter a medida de pés para metros é extremamente simples, mas mexer na medida em polegadas traria graves problemas. O primeiro deles seria o de transformar o valor simples de 1” em um valor decimal aproximado de 2,5cm.

Isso pode não parecer assim tão grave, mas imagine você, após montar seu primeiro personagem, descobrir que seu valor de velocidade (VEL) agora deve ser multiplicado por 2,5 para descobrir quanto, em centímetros, você se desloca sobre a mesa. Se você tiver VEL 7, seu deslocamento é então de……. de……. sim, de……. 17,5cm.

Imagine então representar o alcance de armas de fogo e magias em centímetros, ou pior, representar uma área de efeito (ADE) da magia Foxhole por exemplo, onde no original é de 5” e então ficaria com uma ADE de 12,5cm. Não ficaria legal.

A Jambô então decidiu por adotar a unidade de medidas em polegadas e ainda teve uma sacada genial, considerando que cada polegada equivale a 2 metros no real (6 pés chegam bem próximos disso quando convertidos para metros). Ou seja, para você saber quanto o seu personagem com VEL 7 se desloca em um turno, basta multiplicar este valor por 2, resultando em 14 metros. Ficou ainda mais intuitivo do que o original, onde 1” = 6 pés.

Ainda assim, você pode estar pensando “Abandone essas miniaturas! Isso é coisa de gringo! Bom mesmo é o bom e velho RPG onde se utiliza apenas a imaginação! Assim nós utilizaremos apenas das medidas em metros! \o/”.

Jogos sem Miniatura

Tanto o livro original em inglês quanto a cópia traduzida da Jambô carregam no final do capítulo 8 (destinado ao mestre do jogo) um parágrafo afirmando a possibilidade de desfrutar do jogo com a ausência de mapas e miniaturas.

Sendo assim temos o problema das polegadas resolvido?

Bem, eu diria parcialmente…

Basicamente o novo sistema de Reinos de Ferro traz para nós um range de possibilidades enorme para estilos de jogo, podendo ir desde um romance ou terror a até mesmo um jogo extremamente tático e combativo. Digo isso pois as carreiras disponíveis neste sistema são propositalmente “desbalanceadas” no quesito combate (você logo entenderá o por quê).

Em outros sistemas de RPG onde um personagem possui carreiras ou classes, muitas pessoas são condicionadas a questionar sobre o balanceamento do jogo, para que um jogador não roube a cena do outro. Descobrir se elas são balanceadas normalmente vem de um estudo das combinações entre as características que as classes te dão, somadas a talentos, características de raças, classes adicionais, etc. Em Reinos de Ferro cada carreira possui um foco muito específico, onde alguns jogadores podem criar personagens muito porradeiros, enquanto outros, em uma mesma mesa de jogo, podem focar muito mais em perícias sociais, investigativas ou simplesmente narrativas. Como todo personagem já começa com duas carreiras, o comum é mesclar estes dois mundos, mas naturalmente cada personagem pende para um destes dois extremos.

Eu diria então que o primeiro passo para definir se o seu jogo carece ou não de miniaturas é identificar para qual lado a sua mesa de jogo pende, se é para um jogo onde as chances de rolar um combate é menor e, quando houver, se resumirá a cenas simples onde o mais complexo se resumirá em tiros e duelos de espada, ou se sua mesa investiu em muitas características de combate, possuindo jogadores com magias, armas mais exóticas, gigantes a vapor, etc. Neste último caso, excluir as miniaturas dos combates e deixar nas mãos do narrador o papel de descrever com altos detalhes uma cena e, principalmente, deixar nas mãos dele a responsabilidade de julgar quem está dentro do alcance, quem foi afetado, quem se deu bem e quem se ferrou pode dar margem a muita coisa boa ou muito provavelmente muita coisa ruim.

Jogos com personagens com características mais táticas fazem normalmente com que os jogadores destes personagens queiram ser bem sucedido em uma estratégia específica, em uma emboscada ou simplesmente se dar bem saindo de uma situação delicada, como estar flanqueado por todos os lados, e as medidas sobre a mesa são vitais nessas situações. Retirar as miniaturas do jogo auxiliam em agilizar o combate, porém retiram os detalhes da tática e da estratégia, podendo frustrar alguns na mesa. Se o narrador tiver um bom tato de jogo, determinar se utilizar miniaturas é viável ou não pode definir inclusive se o jogo será ou não divertido, portanto cuidado!

Pela experiência que o Reduto do Bucaneiro tem com incontáveis jogos, a conclusão que chegamos é de que em uma campanha existem momentos que miniaturas são dispensáveis sim (como resolver uma pequena discussão em um bar entre um homem que cantou a filha do taberneiro), mas que em outras elas são extremamente essenciais (como jogar o último combate de uma campanha, se utilizando de terreno acidentado, coberturas ou posicionamento dos capangas do chefão para dificultar as coisas para os jogadores).

E se eu utilizar de mapas quadriculados ou octogonais?

Esta é uma solução comumente sugerida por aí e de longe é a pior solução que você pode utilizar para se livrar das miniaturas!

Utilizar campos demarcados gera muitas situações conflitantes e frustrantes, como definir quando alguém está ou não engajado em um combate corpo-a-corpo, movimentar personagens movidos involuntariamente onde as medidas podem ir de 1” a até 6” ou mais, determinar áreas de efeito (ADE) ou Rajada (RJ)… Ao mesclar tudo isso, esta adaptação se torna extremamente impraticável, confusa, questionável e irritante.

Se você realmente não que miniaturas em seus jogos ou vê uma situação onde as miniaturas são dispensáveis, nossa dica é de que você utilize o bom e velho papel e lápis, um quadro branco, vidro com pincel atômico, qualquer coisa, menos campos demarcados com quadrados, octógonos, etc. Isso dá errado e não há o que discutir.

Okay, entendi, mas como conseguir miniaturas no Brasil?

O principal problema de nós brasileiros consumidores de entretenimento gringo é justamente o paradigma cultural. Lá fora, na América do norte e Europa, muitos nerds possuem como hobby artigos de modelismo e derivados, que acabam sendo muito caros para nós importar destes países, já que não há produção destes modelos no Brasil. Ainda assim, mesmo que estivesse ao nosso alcance, as miniaturas da Privateer Press chegam sem pintura, o que leva quem compra a praticar um outro Hobby, o da pintura, o que muitos aqui não querem ou sequer têm tempo e/ou dinheiro para se dedicar a isso. Muitos, se não a maioria, querem apenas jogar o bom e velho RPG. A dica que nós damos então é para que utilizem tudo de papel. A Privateer Press pensou nisso e em sua aventura introdutória ao cenário, a Fools Rush In, disponível gratuitamente para download em seu site, possuindo modelos de papel em suas medidas exatas de base para serem utilizadas. Nós do Reduto também criamos uma outra variedade com base nesta e disponibilizamos na página de arquivos do nosso grupo do Facebook.

Elas são muito mais fáceis de transportar, ocupam quase nenhum espaço dentro de casa e são infinitamente mais baratas.

E esse negócio de trena?

A trena é outro aditivo ao jogo que estressa muito jogador por aí. Realmente ela pode vir a ser um problema, mas se você souber utilizar desta ferramenta, ela passará desapercebida. A dica que damos é de que o narrador seja o proprietário da trena, para que as miniaturas sejam apenas uma visão do que se passa na narrativa. Cabe ao narrador condicionar os jogadores a dizer “Eu quero atacar o trolóide com minha espada, investindo contra ele” e daí então o narrador pega a miniatura do jogador, mede, e diz se foi bem sucedido ou não. Retirar dos jogadores a responsabilidade de tocar nas miniaturas é o principal para não transformar o RPG em um jogo de tabuleiro.

Com um tempo, o próprio narrador irá desapegar da trena, pois sua visão será cirúrgica a ponto dele saber quanto é 3”, se aquele personagem está ou não engajado com seu adversário ou se uma investida será ou não bem sucedida. Este é o ápice da experiência com Reinos de Ferro RPG, pois você estará utilizando o sistema como ele foi planejado para ser utilizado, terá o foco na narrativa e só gastará alguns segundos para utilizar da trena em situações emocionantes onde a distância definirá o sucesso ou o fracasso do grupo.

Por fim é isso galera!

Reinos de Ferro RPG é um sistema que pode sim ser jogado sem miniaturas, se utilizando apenas da imaginação ou de no máximo papel e lápis para desenhar a disposição das coisas no ambiente, mas há situações onde isso pode eliminar elementos do jogo em combates mais requintados ou de maior dificuldade. Esperamos que vocês testem o jogo com miniaturas e apreciem essa experiência singular que o Reinos de Ferro RPG proporciona para nós, agora totalmente em português!

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