Como o lema “Forever young” (para sempre jovem) sustenta o capitalismo

No auge de nossa juventude e plena (ou pelo menos suficiente) saúde, não costumamos pensar muito na velhice. Por enquanto ela parece uma fase bem distante, sombria e, mais do que tudo, indesejada. Para alguns, pode ser temida a ponto de se tornar até patológico: a gerontofobia ainda não é uma fobia registrada na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), mas pode ser detectada no comportamento das pessoas.

Então se você enxerga a velhice com pavor, detesta idosos, é muito apegado ou preocupado com a aparência, segundo a psiquiatra Dinah Akerman (2014), talvez eu tenha uma notícia para você… (brincadeiras à parte, nada de se diagnosticar pela internet, ok? procure um profissional).

Mas o que vou dizer agora talvez te tranquilize: você não é necessariamente uma pessoa terrível por não gostar da ideia de envelhecer. Temos essa aversão à velhice porque estamos incluídos num sistema que nos leva a pensar assim.

Pense comigo (e com REBOUCAS et al, 2013): quanto mais a população envelhece, menos ela participa da força de trabalho. Então do ponto de vista capitalista, o idoso não passa de um ser improdutivo e que dá prejuízos. Um fardo.

Ok, se idosos são um fardo, já é um passo para detestarmos a ideia de envelhecer. Agora o sistema só precisa fazer com que idolatremos a juventude. Assim, jovens vão querer sempre continuar jovens, e velhos vão evitar a velhice a todo custo. Como não aceitamos ficar velhos, vamos buscar meios de nos manter novinhos em folha (MORIN, 2000).

Por sorte (tudo menos sorte), o capitalismo vende a solução para todos os supostos problemas da velhice. Para as rugas, temos maquiagens, cremes rejuvenescedores e várias modalidades de cirurgia plástica. Para cabelos brancos, temos tinturas aplicadas todo mês. Há implante de cabelo para quem for calvo, milhares de treinos físicos diferentes para endurecer a pele flácida… a lista é imensa. E a prova de que mordemos a isca é bem clara: segundo o Jornal O Sul (2019), em 2018 o mercado da estética movimentou R$47,5 bilhões só no Brasil.

E nem pense que o cinema ficou de fora dessa festinha! Atores e atrizes com mais de 50 anos começaram a fazer um sucesso enorme a partir da Segunda Guerra Mundial. Mas, claro, não estamos falando de atores e atrizes com rugas e cabelos brancos, como idosos comuns: esses famosos tinham uma idade cronológica avançada, mas ainda aparentavam serem muito mais jovens (MORIN, 2000). A ideia de envelhecer bem parece sinônimo de envelhecer, mas não parecer velho.

Falando em Hollywood, essa é Jane Fonda no auge de seus 82 anos (sim, você leu certo).

Na foto, a atriz Jane Fonda com 82 anos na Cerimônia do Oscar desse ano, exalando jovialidade.
A atriz Jane Fonda na Cerimônia do Oscar desse ano (Foto: Reprodução/Internet)

Tenho a teoria de que ela faz parte de um plano da burguesia para o proletariado comprar creme rejuvenescedor.

Viu como eu te tranquilizei? (Sim, também confesso que é extremamente reconfortante culpar o sistema). Você não é tão ruim assim por não querer ser velho: o sistema é. Mas agora que descobrimos que somos um peixinho e as ondas do sistema nos levam para onde bem querem, talvez seja interessante nadar contra essa corrente.

Até porque envelhecer não é um bicho-de-sete-cabeças. Imagina ter 80 anos e saber que ao longo de várias décadas participou da vida de tantas pessoas? E tudo de bom que aprendeu e repassou aos mais novos? E, se pelo menos um pouco de saúde lhe restar, ainda dá para continuar fazendo a diferença.

Caso você queira se aprofundar no assunto, essas são as fontes que usei:

AKERMAN, Dinah. (2014). Medo de envelhecer pode ser um problema; entenda a gerontofobia.

REBOUCAS, Monica et al (2013). O que há de novo em ser velho. Saude soc., São Paulo , v. 22, n. 4, p. 1226–1235, Dec.

MORIN, Edgar. (2000). Cultura de massas no século XX — neurose. Rio de Janeiro: Forense Universitária.

O SUL. (2019). Mercado de estética cresce no Brasil. Em 2018, setor movimentou R$47,5 bilhões.

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Laísla Serejo
Reflexões sobre a vida adulta e a velhice

Atriz, empresária, escritora bestseller e vencedora do Oscar. Essa é a Oprah, eu sou a Laísla!