Cárcere social

Amanda Santos
Reflexões Subversivas
3 min readAug 23, 2017
Imagem do filme Cinco Graças

MUSTANG (Cinco Graças). Direção: Denis Gamze Ergüven, Produção: Charles Gillibert. Turquia, França, 2015, 97 minutos.

A primeira impressão que se tem do filme Cinco Graças (Mustang), produzido em 2015 na Turquia, é que será mais um filme clichê sobre adolescência. Inclusive, a primeira cena mostra as garotas se divertindo em uma praia com alguns meninos, em uma cena que mostra liberdade e inconsequência por parte dos jovens. A obra, entretanto, é um excelente trabalho produzido pela diretora Denis Gamze Ergüven, que mostra como a vida de cinco irmãs mudou após a chegada da adolescência, quando começam a ser percebidas socialmente como mulheres e não mais como crianças.

Além de o drama ser bem trabalhado, pois não é meloso demais nem frio demais, percebe-se que o foco em personagens femininas e a fotografia do filme foram extremamente bem sucedidas, uma vez que o filme mostra as jovens como pessoas, enquanto a sociedade e sua própria família as trata como objetos e as sexualiza. A atuação das meninas também é notável, uma vez que é extremamente natural e elas parecem realmente ter alguma relação entre si.

A obra mostra, a partir do ponto de vida das garotas, como o papel inferior destinado para a mulher é reforçado em uma sociedade patriarcal e machista. Em um dos momentos do filme, por exemplo, a irmã mais nova e também narradora do filme, Lale, se refere à casa em que as meninas moravam como uma fábrica de noivas. A família conservadora e a própria sociedade opressora simpatizam para que as meninas percam sua liberdade, mas se tornem noivas ideais e mulheres “de respeito”.

Não só objetificada e sexualizada, fica claro, no filme, que a mulher é destinada, de acordo com padrões sociais, à vida privada. A preparação para o casamento como algo que não podia ser discutido e muito menos evitado é um claro exemplo disso. Em um dado momento, as meninas são impedidas de frequentar a escola e são confinadas em casa, de modo que começam a aprender os afazeres domésticos, além de começarem a ser apresentadas a seus futuros maridos. A questão da virgindade e sua associação com uma certa pureza da mulher também é debatida no filme, principalmente quando uma das irmãs é submetida a exames médicos por não ter sangrado em sua primeira relação sexual.

Por ser um filme curto (de 1 hora e 37 minutos), a história não é nem um pouco cansativa e a diretora fez um trabalho sensacional ao conseguir manter a atenção do espectador durante toda a obra. A trilha sonora é ótima e, de certa forma, angustiante, o que nos deixa apreensivos durante o filme. Além de ser um filme bonito, apresenta muitos temas e críticas sobre a sociedade moderna, trazendo muitos assuntos que podem e devem ser debatidos.

O machismo é claramente exposto e também criticado pela diretora. A inocência de Lale e sua indignação diante do estilo de vida imposto a ela faz com que o espectador se envolva com a narrativa. O empoderamento e a rebeldia da menina, contra a família e toda uma sociedade conservadora, questiona todos os padrões impostos até então, além de levar a um final feliz, o que faz com que o filme não se torne melancólico.

Escrito em 2016 para a disciplina de Língua Portuguesa: Redação e Expressão

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