Jesus Cristo: o modelo de homem

Cléber Zavadniak
Reformados
Published in
7 min readJul 1, 2012

O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu.
Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais.
— 1 Coríntios 15:47–48

O ser humano não é chamado pelo evangelho para tornar-se um seguidor dos ensinamentos de Jesus Cristo. O homem é chamado, primeiramente, a morrer com Cristo:

Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. — Lucas 9:23

Cruz

O crente, dessa forma, identifica-se com seu Senhor tanto na sua morte como na sua vida.

Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos;
Sabendo que, tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele.
Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus.
Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor.
— Romanos 6:8–11

E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita. — Romanos 8:11

Logo, vemos que o crente, aquele que nasceu de novo, identifica-se com Jesus Cristo ao morrer e viver. E isso não é por acaso. Jesus Cristo é nosso modelo, nosso segundo Adão, as “primícias”, ou seja: o exemplar que demonstra como todo o restante da colheita será. E essa “colheita” somos nós.

Estudaremos, agora, parte do capítulo 15 da primeira carta de Paulo aos Coríntios e veremos mais provas do fato de que Cristo é o modelo de homem ideal para nós.

1 Coríntios 15:12–57

Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?

Primeiramente, Paulo associa profundamente a nossa própria ressurreição futura com a ressurreição do Senhor Jesus Cristo. A idéia por trás dessa afirmação é: se Jesus Cristo ressuscitou, nós também ressuscitaremos, pois o mesmo poder que o levantou de entre os mortos nos levantará também. Se Jesus Cristo ressuscitou, então nós, que somos feitos à sua imagem, também ressuscitaremos.

E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou.

Veja que Paulo não dá margem para o argumento que a ressurreição de Jesus Cristo tenha sido um evento especial e único, no sentido de que seus irmãos não pudessem participar disso. Ou há ressurreição para todos os crentes, ou o próprio Jesus Cristo não ressuscitou.

E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.

É curioso como os apóstolos consideravam a ressurreição de Jesus Cristo como o grande pilar do Evangelho. E não creio que isso possa ser compreendido longe da noção da identificação do crente com seu Senhor. Pois, se Jesus Cristo não houvesse vencido a morte, seria um sinal que não venceu, primeiro, o pecado. Pois sabemos que “o aguilhão da morte é o pecado” (verso 56 desse mesmo capítulo).
Ou seja: se Cristo não ressuscitou, ele era pecador como nós. Se a morte teve domínio sobre ele, que esperança nos resta? Nossa fé é vazia, pois seu sangue não pode lavar nossos pecados e nós mesmos estamos sujeitos à morte, tal qual o primeiro Adão!

E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam.
Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.

E, além de tudo, os apóstolos seriam mentirosos, pois eles mesmos definiam-se como “testemunhas da ressurreição” (Atos 1:22).

E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados.

Como disse, a morte reina onde há o pecado. Se não vamos ressuscitar, é sinal que permanecemos nos nossos pecados.

E também os que dormiram em Cristo estão perdidos.
Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.

Porque, permanecendo no pecado, somos sujeitos à morte eterna (e tormento eterno). Logo, só o que se aproveita é essa curta vida que temos sobre a Terra.

Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem.

As primícias! Sim, os primeiros frutos, que serão seguidos por outros e outros! Jesus Cristo venceu o pecado! Jesus Cristo venceu a morte! Jesus Cristo ressuscitou! Nós, em Cristo, vencemos o pecado! Nós, em Cristo, vencemos a morte! Nós, em Cristo, ressuscitaremos também!

Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem.
Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.

Sendo o foco desse estudo o fato de Jesus Cristo sermos nosso modelo, quero lembrar que não somente seremos vivificados em Cristo no último dia, mas que isso é uma parte de toda uma vida vivida segundo o modelo do Senhor, pois:

Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; — 2 Timóteo 2:11

Esse morrer com Cristo não diz respeito à morte física, mas à identificação do crente com Jesus Cristo morrendo para a carne, vivendo a vida da cruz, “pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gálatas 6:14).

Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda.

Ou seja: crentes de Corinto, sejam pacientes. Cristo já ressuscitou, mas a ressurreição dos crentes virá apenas quando ele voltar.

(Estou pulando os versos 24 a 44, pois o propósito, aqui, não é estudar a ressurreição dos mortos, especificamente.)

Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante.

Essa comparação com Adão é muito importante, pois, cientes dela, passamos a ver o mundo como uma sociedade dividida em apenas dois tipos de pessoas: os homens segundo Adão e os homens segundo Cristo. Os homens segundo Adão levam a imagem de Adão: são pecadores, expulsos do Éden. Os homens segundo Cristo levam a imagem de Cristo: sem pecado e aguardando a pátria celestial.
Assim, Jesus Cristo é o segundo Adão, o representante de uma nova criação, e todos os que procedem dele levam também sua imagem.

(Pulando versos 46 a 54.)

Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?
Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.
Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.

Ah, quão mal usado esse último verso é! Ele nunca pode ser tirado de seu contexto! Que vitória é essa da qual Paulo fala? Que vitória é essa que Deus nos dá por Jesus Cristo? É a vitória da graça, que nos livra da maldição da lei! É a vitória sobre o pecado, que nos livra da sujeição à morte! Mas, mais importante, é a vitória que Jesus Cristo obteve. A primeira pergunta de Paulo é uma vindicação da vitória de Cristo: onde está, ó morte, o teu aguilhão? Porque se a morte reina onde há pecado, ela já não tem poder sobre Jesus Cristo e nem sobre os crentes!
Veja: por Jesus Cristo é que temos a vitória. Não faz o menor sentido pensar nisso sem aceitar que Ele é nosso modelo, que Ele é o segundo Adão! Em Adão morremos, mas em Cristo vivemos. Em Adão somos derrotados pela morte, mas em Cristo vencemos a morte!

Um modelo ideal

E onde tudo isso se encaixa no tema “cosmovisão”? Primeiramente, nós temos um absoluto para medir as coisas relacionadas ao homem. O valor do ser humano, por exemplo, não é medido de acordo com a idéia de cada um. A vida do homem tem valor porque, além de ser criado à imagem de Deus, ele é (ou deveria ser) criado à imagem de Jesus Cristo.
Além disso, temos absoluta certeza do que é a situação ideal de um ser humano. Jesus Cristo não tinha doenças em seu corpo. Logo, sabemos que o papel do médico é bom, pois não é bom que o homem tenha doenças. Jesus Cristo fazia pleno uso de suas faculdades mentais. Jesus Cristo mantinha sua higiene pessoal, pagava os impostos devidos, respeitava as leis locais e, principalmente, estava em constante comunhão com o Pai e sempre cheio do Espírito Santo.
Jesus Cristo nos dá um absoluto para as coisas relacionadas ao ser humano. Portanto, devemos lidar com os assuntos relacionados ao tratamento dos indivíduos na sociedade mantendo Jesus Cristo em vista.

Isso é ajustar sua cosmovisão ao que a Bíblia ensina. E o que a Bíblia ensina é a cosmovisão correta. Como eu sei disso? Eu sei porque Jesus Cristo citava frequentemente as Escrituras, mostrando a autoridade delas. Veja que, partindo dos pressupostos corretos, nossa cosmovisão não será baseada-em-coisa-alguma, cheia de pontas soltas e sem absolutos para nos guiarmos. A Bíblia nos dá absolutos. Jesus Cristo nos dá absolutos. Nós temos, assim, colunas que servem para fundamentar bem nossa cosmovisão e, no mar agitado das idéias desse século, poderemos nos manter firmes e constantes na certeza de que não estamos sendo enganados e nem estamos nos enganando.

Mas nós temos a mente de Cristo. — 1 Coríntios 2:16

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